sexta-feira, 08 de agosto de 2003

O DIA

Fôlego de gato para negociar
Vitória do Governo na votação da reforma contou com apoio de Lula, Genoino e do ministro José Dirceu, o estrategista para garantir a taxação

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, passaram em claro parte das madrugadas de votação na Câmara, de terça para quarta e ontem, no comando da difícil articulação para garantir a aprovação da Reforma da Previdência sem que o texto fosse desfigurado. Lula ficou no Palácio da Alvorada; Dirceu, no Planalto, e o presidente do PT, José Genoino, entre o plenário da Câmara e os gabinetes.

Dirceu apelou para os governadores e não teve problemas em telefonar de madrugada para adversários históricos. E teve êxito. A negociação que permitiu mudar as regras de transição para a aposentadoria do funcionalismo foi feita diretamente entre Lula e Genoino, por telefone. “Disse ao presidente que se não fôssemos tão rígidos, teríamos melhores condições de votar e aprovar outros pontos importantes, como a taxação dos inativos”, contou Genoino. Lula autorizou.

Certamente encorajado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aliado de Lula, Dirceu pediu socorro à senadora Roseana Sarney (PFL-MA). Antes, ligou para o senador Jorge Bornhausen e disse que estava buscando a ajuda de uma pefelista. Bornhausen agradeceu a gentileza. Roseana atendeu ao apelo, trabalhou para mudar votos e o PFL contribuiu com 31 votos decisivos para a manutenção da taxação de inativos.

Na terça-feira, Dirceu dispensou o telefone e foi à residência do líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), para propor um acordo de procedimentos. “Ele não me pediu nada. Apenas quis saber que tipo de obstrução eu faria”, contou Aleluia. Segundo Aleluia, o gesto de Dirceu, de visitá-lo pessoalmente, foi importante para reduzir a tensão hoje existente entre o Governo e a oposição.

Entre a primeira e a segunda votação, o principal articulador político do Governo também procurou o líder dos tucanos na Câmara, o baiano Jutahty Magalhães para agradecer os 29 votos dados pelo PSDB ao texto básico. Foi um gesto de reconhecimento do Governo de que precisava do apoio dos tucanos para aprovar a taxação dos inativos.

Cobrados por Dirceu, os governadores foram também importantes para a aprovação da reforma e a taxação dos inativos. Na hora certa, pressionaram de fato as suas bancadas. Os que mais agiram foram o de Minas, Aécio Neves (PSDB), o da Bahia, Paulo Souto (PFL), o de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), o do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB) e o da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB).

Governo temia derrota desde cedo

Mesmo cercado de apoio por todos os lados, o Governo tinha receio de ser derrotado na votação do destaque que retirava da reforma a taxação dos inativos. Tanto é que só depois das 2h de ontem, quando concluiu que havia condições para seguir com a votação, inverteu a pauta.

O destaque dos inativos entrou na frente do que aumentaria de 85,5% para 90,25% o subteto do Poder Judiciário nos estados. Se fosse rejeitado, o Governo procuraria impedir a mudança no porcentual do subteto. Terminada a votação, a cobrança dos inativos foi garantida por 326 votos sim e 163 não, 18 votos a mais do que os 308 necessários.

Ontem, mais quatro deputados do PSDB filiaram-se ao PTB, o que elevou a bancada do partido na Câmara para 54. Assim, por outros caminhos, o Governo aumenta a base de apoio, pelo menos em termos numéricos, uma vez que a disciplina partidária é escassa no Congresso. Os novos petebistas são Luiz Piauhylino (PE), Jovair Arantes (GO), Osmânio Pereira (MG) e Salvador Zimbaldi (SP).

A migração rumo à base do Governo tem sido intensa. Na terça-feira, os deputados Dr.Heleno e Alexandre Santos, do Riotambém deixaram o PSDB e foram para o PP.