quinta-feira, 14 de agosto de 2003
O DIA
Palocci quer CPMF de fora
Ministro propõe retirar Imposto do Cheque da Reforma Tributária
para não perder dinheiro se proposta não passar até
o fim do mês que vem
BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci,
propôs separar a CPMF, o Imposto do Cheque, do restante da Reforma
Tributária. O objetivo seria garantir a prorrogação
da cobrança do tributo, com alíquota de 0,38%, já
no começo do ano que vem, segundo informou o vice-líder
do Governo, Vicente Cascione (PTB-SP). "O ministro Antonio Palocci
admitiu o fatiamento diante do inexorável. Não seria o
ideal, mas, se não for possível aprovar a Reforma Tributária
a tempo, a alternativa seria separar o que depende do prazo", acrescentou
Cascione.
O Imposto do Cheque tem vigência garantida até
o fim do ano. Para continuar a ser cobrado a partir de 1º de janeiro
com alíquota de 0,38%, mesmo sendo transformado em contribuição
permanente, deverá ter a prorrogação promulgada
90 dias antes. É a chamada noventena, prevista na Constituição
Federal. Palocci foi convidado a participar de café da manhã
com líderes aliados, na casa do presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP).
José Dirceu: "Vamos aprovar o texto original"
O ministro reforçou a necessidade de os parlamentares
trabalharem para aprovar o mais rapidamente possível a Reforma
Tributária na Câmara e encaminhá-la ao Senado. Também
orientou que o relator Virgílio Guimarães (PT-MG) faça
um texto enxuto para ser apresentado até amanhã aos líderes
partidários. A idéia é que a votação
na Comissão Especial aconteça na quinta-feira da semana
que vem.
"Se depender do Governo, vamos aprovar o texto original",
disse o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, principal
articulador político do Governo, antes de telefonar para Palocci
e convidá-lo a participar do encontro. Para acelerar a votação
e evitar disputas na base aliada, os ministros e as lideranças
acertaram que não serão apresentados destaques ao relatório
da Reforma Tributária na Comissão Especial e no plenário.
Alguns líderes discordam da estratégia de
fatiar a reforma agora. Argumentam que a iniciativa poderia repercutir
mal, dando a impressão de que o Governo só quer a CPMF.
Como alternativa, Eles defendem que a votação seja acelerada
na Câmara, deixando que o Senado busque uma fórmula para
viabilizar a aprovação do Imposto do Cheque até
o dia 30 do mês que vem.
Alívio para
pensionistas
Câmara fecha acordo e desconto nas pensões deve
cair de 50% para 30%. Taxação na União será
menor
BRASÍLIA - Governo e oposição negociaram
acordo que permitiu a apreciação das últimas emendas
e destaques pendentes para a conclusão do primeiro turno de votação
da Reforma da Previdência. Até as 22h, a Câmara dos
Deputados havia rejeitado dois destaques do PTB, mas ainda encaminhava
as votações mais importantes.
Durante o dia, os líderes selaram acordo para diminuir
de 50% para 30% o redutor a ser aplicado nas pensões de servidores,
na faixa acima de R$ 2.400. Nesse ponto, a base aliada negociou mudança
que será implementada somente no segundo turno. O PFL quis levar
a plenário proposta de manter a integralidade das pensões,
qualquer que fosse o valor. Mas, conforme foi acertado, em reunião
comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, João
Paulo Cunha (PT-SP), caso o PFL fosse derrotado em plenário,
o relator da PEC-40, José Pimentel (PT-CE), incluiria proposta
para o segundo turno de votação diminuindo de 50% para
30% o desconto na faixa de benefício que ultrapassar R$ 2.400
- até esse valor a pensão é integral.
Em troca, o PFL vai desobstruir as sessões de votação
da Reforma da Previdência de agora em diante e não vai
apresentar emendas no segundo turno de votação na Câmara.
Também seria analisado o aumento da faixa de isenção
da taxação previdenciária de aposentados e pensionistas
da União, de R$ 1.200 para R$ 1.440. Estados e municípios
continuam com teto de isenção de R$ 1.200. A medida já
havia sido negociada anteriormente, mas precisava ser oficializada.
Na semana que vem, a reforma será apreciada em
segundo turno e, depois, encaminhada ao Senado, também para dois
turnos de votação. A expectativa é de que o texto
não seja mais mexido no Congresso, sendo encaminhado à
sanção do presidente conforme aprovado na Câmara.
Destaques do PTB rejeitados
A Câmara dos Deputados rejeitou dois destaques do
PTB que desfigurariam a Reforma da Previdência, conforme negociada
até agora. Por 436 votos, três contra e 19 abstenções,
foi rejeitado destaque que eliminava, na prática, o teto salarial,
ao permitir a acumulação de aposentadorias, desde que
cada uma, individualmente, não ultrapassasse o limite de salário
de ministro do STF.
O plenário também rejeitou, com 403 votos,
27 contra e 34 abstenções, o segundo destaque do PTB,
que quis retirar as verbas indenizatórias do teto salarial. A
medida beneficiaria parlamentares, que recebem auxílio-moradia
e ajuda na manutenção de escritórios nos estados.
O Governo não gostou de o PTB ter apresentado destaques,
diferentemente do que havia sido negociado. Mas ao longo do dia, foram
feitas negociações que acabaram se consolidando. Governo
e oposição entraram em acordo e mudaram a idade para aposentadoria
compulsória no serviço público. A partir de 2012,
os servidores só serão obrigados a deixar o serviço
público ao completarem 75 anos de idade - hoje o limite é
aos 70 anos.
Outra mudança consensual foi a inclusão,
a pedido do PSDB, da necessidade de cinco anos no cargo e 10 anos na
carreira, além de 20 anos no serviço público para
que servidores tenham direito à integralidade.
Tantas mudanças na Previdência dos servidores
desagradaram a categoria, mas podem ter conseqüências ainda
maiores. Segundo o especialista em Previdência Kaizô Beltrão,
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a reforma
vai acabar com atrativos da carreira pública. "O funcionalismo
- principalmente os mais qualificados - vai encontrar melhores oportunidades
na iniciativa privada do que no serviço público",
analisou.
O que está em discussão
Pensões
Atuais: desconto previdenciário de 11% na parcela acima de R$
1.200 (estados e municípios) e R$ 1.440 (União).
Futuras: desconto previdenciário igual ao das atuais pensões.
Além disso, serão integrais até R$ 2.400. Parcela
superior terá redução de 30%.
Integralidade
Atuais servidores: farão jus se tiverem 60 anos (homem), 55 anos
(mulher); 35 anos de contribuição (homem), 30 anos (mulher),
sendo obrigatório para ambos 20 anos de serviço público,
10 na carreira e cinco no último cargo. Quem pedir aposentadoria
antes da idade mínima sofrerá redução de
3,5% ao ano (se requisitado o benefício nos dois próximos
anos) e 5% ao ano (de 2006 em diante) até o limite de 35% (sete
anos).
Futuros servidores: só terão aposentadoria
garantida até os R$ 2.400. Acima disso, deverá ser obtida
através de fundo de pensão complementar.
Paridade
Atuais servidores: terão direito, caso se aposentem cumprindo
exigências de integralidade.
Futuros: sem essa garantia.
Inativos
Taxação de 11% para inativos na faixa do benefício
acima de R$ 1.200 (estados e municípios) e R$ 1.440 (União).
Taxação atinge todos, sem isenções por idade
ou estado de saúde.
Teto e subteto
Na União, o teto será limitado a salário de ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos estados e municípios,
limite do Executivo será ganho de governador e prefeito. No Legislativo
estadual, teto será salário de deputado estadual. E no
Judiciário estadual, 90,25% do salário de ministro do
STF.
