Sexta-feira, 12 de setembro de 2003
O DIA
Malha fina na Previdência
Força-Tarefa decide investigar 1 milhão
de aposentados e pensionistas. Fraudes desviam R$ 1,07 bilhão
por ano e atingem 5% dos benefícios
Luciene Braga
O Ministério da Previdência Social decidiu
passar a malha fina no cadastro do INSS. Um milhão de benefícios
serão auditados em 12 meses pela Força-Tarefa do instituto,
integrada por agentes da Polícia Federal, do Ministério
Público da União e do INSS. Este mês, 70 mil beneficiários
terão os dados avaliados pelo grupo. A investigação
cruzará informações do Cadastro Nacional de Informações
Sociais (CNIS) com os da Receita Federal, da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) e dos tribunais regionais eleitorais
(TREs), com o objetivo de identificar pessoas que já morreram,
mas suas famílias ou fraudadores mantiveram os benefícios
ativos. O alvo principal da investigação são os
maiores de 90 anos e aqueles que já recebem pensão ou
aposentadoria há mais de 30 anos.
Segundo o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, as
perdas anuais já identificadas no País, com fraudes e
sonegações, atingem R$ 1,07 bilhão dos R$ 107 bilhões
destinados ao pagamento de benefícios. Na avaliação
dos técnicos do INSS, 5% dos benefícios podem ser de origem
fraudulenta. O ministro destacou que a Força-Tarefa ainda não
tem o valor preciso, mas admite que o rombo pode chegar a R$ 5 bilhões.
Ao anunciar a formalização dos grupos regionais em 13
dos 16 estados onde foram criados núcleos de combate aos crimes
contra a Previdência, Berzoini afirmou que enfrentar as fraudes
também significa incluir mais pessoas no sistema previdenciário.
Vamos fazer com que o País se livre da cultura do jeitinho,
da corrupção e da bandalheira, prometeu o ministro.
Berzoini destacou que será necessário um grande investimento
em tecnologia. A Previdência estava desprovida de elementos
técnicos e logísticos capazes de garantir a lisura das
operações, disse, referindo-se à Dataprev
(Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência
Social), que no Governo Fernando Henrique Cardoso não teria recebido
investimentos suficientes. Segundo o ministro, as gestões anteriores
foram omissas na garantia de segurança do sistema que movimenta
bilhões de reais em recursos públicos.
Para o segurado Geraldo Jannuzzi, 96 anos com mais de 30 de aposentadoria
, a malha fina no INSS representa uma mudança na gestão
da Previdência. Eles precisam investigar e encontrar as
falcatruas. E isso não é o bastante. O Governo tem que
recuperar o dinheiro desviado, que serviria para melhorar os nossos
rendimentos, avalia. O aposentado diz que o trabalho da Força-Tarefa
precisa ser cauteloso, a fim de evitar injustiças no cancelamento
de benefícios.
COLUNA DO SERVIDOR
Teresa Cristina Fayal
Idade máxima maior
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Maurício Corrêa, defendeu a ampliação da
idade máxima no serviço público de 70 para 75 anos
trata-se da aposentadoria compulsória, também conhecida
como expulsória. Os ministros do Supremo são, em maioria,
contra a compulsória e lutam para que os 75 anos sejam incluídos
na Reforma da Previdência. A medida beneficiaria 8 dos 11 ministros
do STF que estão perto dos 70. Com a emenda, eles poderão
ficar mais cinco anos no tribunal. Os que são contra o aumento
da idade máxima alegam que é preciso renovar os quadros
e que, se a expulsória for estendida, haverá engessamento
do poder público. Para o Governo, o limite de idade é
visto meramente como questão financeira. Quanto mais os servidores
permanecerem no funcionalismo público, melhor. O Executivo quer
reduzir a corrida para a aposentadoria. Assim, evita-se o inchaço
da folha de aposentados. Também gasta-se menos com a renovação
dos quadros. Haverá ainda menos concursos públicos e a
folha salarial ficará estável.
Argumentos do Executivo
O ministro Maurício Corrêa está há
oito meses de completar 70 anos nesse caso, terá que deixar
a presidência do STF.Mas ele defende o aumento da idade máxima
usando argumentos adotados, até então, pelo Executivo.
Do ponto de vista da Previdência Social, se fixar os 70
anos como limite já possibilita lucro, mais lucro haverá
se a idade for estendida para 75 anos, alegou.
Novos passos irritam funcionalismo
A notícia de que o pagamento integral do 13º
salário dependia também do aval do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, trouxe insatisfação para o funcionalismo.
Na quarta-feira, o Senado Federal aprovou a resolução
do senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) que autoriza a negociação
do estado com o Banerj mas isto não foi, mais uma vez,
suficiente para a liberação imediata do dinheiro. Para
retomar a credibilidade só pagando, conforme anunciado, o 13º
até o fim do mês.
Previdência
Servidores municipais vão poder participar de audiência
pública sobre a Reforma da Previdência, que tramita agora
no Senado Federal, hoje na Câmara dos Vereadores do Rio. A reunião
será às 16 horas, no Salão Nobre. São esperados
para o encontro os três senadores do estado: Saturnino Braga (PT),
Marcelo Crivella (PL) e Sérgio Cabral Filho (PMDB).
