sexta-feira, 04 de julho de 2003
O Globo
Governo já negocia três
pontos da reforma
Valderez Caetanoe Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. O presidente da
Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), comandou ontem
mais uma rodada de negociações com representantes das centrais
sindicais para discutir suas 11 reivindicações para mudar
a reforma da Previdência. O governo aceitou discutir três
pontos: a manutenção da aposentadoria especial para os professores
do ensino fundamental, a flexibilização das regras de transição
para as aposentadorias dos atuais servidores e o cálculo da média
do valor da aposentadoria do servidor.
João Paulo informou que as
negociações estão avançando e que acha possível
a revisão desses três pontos da proposta encaminhada pelo
governo para chegar a um acordo com os representantes dos servidores públicos,
que ameaçam parar a partir do dia 8, e da CUT.
Hoje, os professores do ensino fundamental
têm direito de se aposentar com 25 anos de atividade. A aposentadoria
especial dos professores universitários foi extinta na reforma
feita no governo Fernando Henrique Cardoso.
Estamos discutindo e avaliando
o que é necessário e possível mudar afirmou
João Paulo.
O presidente da CUT, Luiz Marinho,
voltou a se solidarizar com a greve de servidores prevista para a semana
que vem, mas disse que continua defendendo a negociação.
Segundo ele, um entendimento entre os representantes dos servidores e
o governo em torno da reforma da Previdência poderá ser fechado
em quinze dias. Elem continuam contra a taxação dos servidores
públicos, não aceitam o teto de aposentadoria de R$ 2.400
proposto pelo governo e querem também que o limite de idade para
aposentadoria dos atuais servidores seja mantido.
Os partidos da base apostam todas
as fichas nas audiências públicas que a comissão especial
de reforma da Previdência realizará nos estados a partir
da próxima semana.
Lessa e Dias são contra taxação dos pensionistas
Ontem, os dois únicos governadores,
dos seis convidados, que aceitaram o convite para participar de audiência
pública da comissão especial da reforma da Previdência,
o socialista Ronaldo Lessa (AL) e o petista Wellington Dias (PI) anunciaram
que são contra a cobrança de contribuição
previdenciária de pensionistas do serviço público.
Surpresos com as declarações dos dois governadores da base
governista, o presidente do PT, José Genoino, e o líder
do PSB, Eduardo Campos (PE), afirmaram que tirar esse ponto da proposta
do governo será fácil, caso os governadores não estejam
de acordo.
Se os governadores pensam
assim e todos concordarem com eles, tudo bem. Tomara que venha como proposta
deles disse Genoino.
Se eles não querem,
esse é o serviço mais fácil de fazer. É mais
do que sabido que a taxação foi uma exigência dos
governadores. Isso salva alguns estados. Do ponto de vista da União,
representa muito pouco disse Campos.
Lessa e Dias disseram que o acordo
fechado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva previa apenas
a taxação dos servidores públicos inativos, e não
dos pensionistas.
Relator diz que a DRE
é necessária
BRASÍLIA. O relator da reforma
tributária, Virgílio Guimarães (PT-MG), voltou ontem
a dar declarações favoráveis à criação
da Desvinculação das Receitas Estaduais (DRE), que permitiria
aos governadores gastar livremente até 20% do total arrecadado
pelos estados. O relator afirmou que a medida é necessária
porque os estados estão com a corda no pescoço,
já que comprometem 13% de sua receita para pagamento das dívidas
à União. A menos que seja convencido do contrário,
Guimarães pretende incluir a proposta no relatório parcial
que apresentará até dia 15. O ministro José Dirceu,
da Casa Civil, já descartou a adoção da DRE.
Tecnicamente ela é
necessária. Alguém tem que me explicar que ela não
é necessária aos estados disse ele.
Confiantes na autonomia do relator,
os governadores já começam a negociar diretamente com ele
as emendas que querem ver constar no relatório final. Um deles
é o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB).
Ontem ele disse estranhar o fato de Planalto ter ficado contra a DRE depois
da reunião com os governadores, segunda-feira:
Internamente, o governo teve
uma posição mais flexível em relação
a este assunto.
Tido como determinado, o relator
pode se tornar uma grande dor de cabeça para o governo. Ele já
adiantou que vai seguir a sugestão da comissão e que o espaço
de decisão sobre a reforma tributária será do Congresso.
Enquanto isso, a equipe do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já
faz simulações sobre o que será o futuro formato
do novo ICMS, independentemente da condução que o relator
dará ao tema em seu parecer.
Para o líder do PFL na Câmara,
José Carlos Aleluia (BA), o relator Virgílio Guimarães
é um homem de idéias próprias e vai conseguir colocar
a sua marca no relatório final, de forma independente do governo.
É do deputado baiano a idéia de limitar a carga tributária
a 35%. Virgílio Guimarães já disse que vai criar
regras prudenciais para impedir que a carga tributária
continue subindo.
A proposta de uma regra para
impedir que a carga tributária aumente é boa e vai render
frutos disse Guimarães.

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