quarta-feira, 08 de julho de 2003
O Globo
REFORMAS: ALTERAÇÃO DARIA O BENEFÍCIO
A SERVIDOR QUE ENTRAR APÓS A REFORMA EM TROCA DE MAIS CINCO ANOS
NA ATIVA
Reforma pode manter aposentadoria integral
Governo negocia mudança: quem já é funcionário
público teria direito aos 60 anos de idade, 35 de contribuição
e 25 de carreira
BRASÍLIA. O governo decidiu
antecipar as negociações sobre a reforma da Previdência
para que as possíveis mudanças ao texto original possam
ser submetidas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de
seu embarque amanhã para a Europa. Entre as alterações
em estudo está a adoção de uma fórmula que
garantiria ao funcionário público a manutenção
do direito à aposentadoria integral e ao reajuste do benefício
automaticamente vinculado ao dos servidores da ativa, a chamada paridade.
Pela proposta cujo impacto
ainda está sendo estudado pelo governo o servidor terá
que trabalhar cinco anos além do previsto originalmente na proposta
de reforma, cumprindo três exigências para que obtenha a aposentadoria
integral. Para os contratados após a promulgação
da reforma, serão necessários pelo menos 65 anos de idade
(60 anos, se for mulher), 35 de contribuição previdenciária
e 25 de carreira.
Só vai valer para quem atingir as três exigências
Para os atuais servidores, a idéia
é fixar uma regra de transição também para
essa fórmula. O funcionário precisará ter ao menos
60 anos de idade (55 para mulheres), 35 anos de contribuição
e 20 anos de carreira para ter direito à aposentadoria integral.
Para quem não alcançar essas condições, serão
aplicados os critérios de cálculo de benefício já
previstos na reforma, que leva em conta a média de contribuições
da vida funcional.
Essa é uma proposta
forte na negociação. É uma exceção.
Só vai valer para quem atingir as três exigências ao
mesmo tempo. O esforço adicional garante a integralidade
explicou o deputado Maurício Rands (PT-PE), relator da reforma
na Comissão de Constituição de Justiça da
Câmara (CCJ) e agora um dos principais negociadores da proposta
no Congresso.
Rands não é o único
que aposta na fixação dessa fórmula na base do governo,
tendo em vista que poderia solucionar a crise com o Judiciário,
que tem feito críticas ao texto da reforma da Previdência.
Esse, aliás, seria um dos temas principais do encontro de ontem
entre o presidente Lula e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro
Maurício Corrêa. Semana passada, o líder do PSB na
Câmara, Eduardo Campos (PE), deixou uma reunião com o chefe
da Casa Civil, José Dirceu, certo de que o modelo, que possibilitará
aposentadoria integral aos juízes, será adotado.
Teremos uma fórmula
pesando idade mínima, tempo de contribuição e de
carreira. Ela valerá para todos disse Campos que, no café
da manhã com Dirceu, defendeu uma saída para a crise com
o Judiciário.
O líder do PTB na Câmara,
Roberto Jefferson (RJ), é outro defensor de uma proposta que não
abale as relações com o Judiciário. Ele concorda
com a idéia, uma das que serão submetidas hoje aos líderes
da base aliada:
O juiz com 60 anos ainda é
um garoto. Pode trabalhar mais sem problemas.
A medida, no entanto, poderia provocar
uma perda, já que os servidores dispostos a cumprir essas exigências
não contribuiriam para um fundo de previdência complementar.
Em compensação, o governo ganharia com pelo menos mais cinco
anos de permanência desse servidor no serviço público.
Mais cinco anos de contribuição
têm um peso considerável admitiu o vice-líder
do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP).
Os magistrados insistem também
na manutenção da paridade entre os reajustes concedidos
aos aposentados e os dados aos servidores da ativa. Pela proposta do governo,
cai o conceito da paridade. A idéia é adotar um cálculo
de aumento específico para o aposentado, sob o argumento de que
a paridade impede a premiação de quem está em atividade.
Mas os magistrados, pais da proposta sob análise do governo, alegam
que, sem a paridade, a integralidade cai por terra.
Teto para contribuição não deverá ser
negociado
Descartando praticamente as mudanças
no teto de isenção fixado para a contribuição
de inativos R$ 1.058,00 Luizinho reconheceu ainda a hipótese
de aprovação de uma regra especial para os professores de
ensino fundamental e médio. Segundo a proposta, as atuais professoras
podem se aposentar após 25 anos de contribuição desde
que com mais de 48 anos. Para os professores, serão exigidos 30
anos de contribuição e idade mínima de 53 anos. Já
os futuros professores, vão se aposentar cinco anos mais jovens
do que os demais servidores, ou seja, 50 anos no caso das mulheres e 55
no caso dos homens. Além dessas mudanças, Luizinho confirmou
a disposição do governo de negociar a redução
em 30% do valor das pensões acima de R$ 2.400 mensais.
A proposta de a União adotar
um piso de R$ 2.400 para a taxação dos servidores públicos
inativos, mesmo que assegurando aos estados um limite de R$ 1.058, está
sendo rechaçada.
Aí, os
governadores seriam os maus e a União, boazinha. Os governadores
estão reagindo a essa proposta.
Rachid exonera chefe
da área de inteligência da Receita Federal
Razão oficial foi necessidade de integração do
setor com outras áreas
BRASÍLIA. O secretário
da Receita Federal, Jorge Rachid, decidiu mudar o comando do Departamento
de Inteligência da Receita e exonerou o chefe da área, Deomar
de Moraes, que respondia pelo cargo desde 1996 e já havia requerido
sua aposentadoria. Rachid quer que o departamento trabalhe mais integrado
às áreas de fiscalização e aduaneira, o que
não vinha acontecendo.
A exoneração de Deomar
saiu na quinta-feira da semana retrasada. Segundo integrantes do Ministério
da Fazenda, o principal problema que vinha sendo enfrentado por Rachid
na área de inteligência era que o setor vinha atuando muito
mais voltado para a realização de investigações
para outros órgãos do governo do que para a própria
Receita. Muitas vezes, a área de inteligência vinha entrando
em confronto com a de fiscalização em operações
que já vinham sendo conduzidas pelos fiscais da Receita.
Exonerado insinua que demissão tem razão particular
Ainda não foi decidido quem
será o novo chefe da inteligência que comandará 150
funcionários treinados para fazer investigações.
Procurado pelo GLOBO, Rachid afirmou que o objetivo da mudança
não é enfraquecer a área.
A idéia é fortalecer
os instrumentos de combate à sonegação. As pesquisas
e investigações da inteligência devem subsidiar mais
as nossas ações sem o prejuízo no auxílio
a outros órgãos de combate ao crime organizado disse
o secretário.
Em entrevista ao jornalista Elio
Gaspari, publicada em sua coluna no GLOBO no último fim de semana,
Deomar insinua que sua demissão estaria ligada a uma investigação
feita em 1999 sobre o ex-auditor da Receita Paulo Baltazar (já
aposentado e que trabalhava como consultor do então secretário-adjunto,
Jorge Rachid) e do auditor Sandro Martins.
Integrantes da Receita afirmam que
o relatório sobre o caso não poderia ter motivado a demissão
de Deomar por ter sido concluído há cinco anos e usado num
processo aberto contra os auditores na gestão do secretário
Everardo Maciel, que não encontrou irregularidades contra Baltazar
ou Martins.

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