quarta-feira, 09 de julho de 2003

O Globo

Elite dos servidores puxa greve
Evandro Éboli e Ricardo Galhardo
BRASÍLIA e SÃO PAULO

      A primeira greve contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva começou ontem mobilizando principalmente a elite do funcionalismo público - os servidores que recebem os salários mais altos e que, por isso, mais têm a perder com a reforma da Previdência. Na média, os sindicatos e o governo informaram que aderiram à paralisação cerca de 40% dos 800 mil servidores de todo o país. A adesão foi quase total, porém, em categorias como auditores fiscais da Receita Federal, que ganham entre R$ 5 mil e R$ 7.300, policiais federais (que podem ganhar até R$ 9.285), funcionários do Banco Central, fiscais do INSS e professores universitários, que também têm altos salários.
      Boa parte dessas categorias integra o grupo das chamadas carreiras exclusivas de Estado, que foram beneficiadas com reajustes salariais exclusivos no governo Fernando Henrique. A Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento afirmou que a adesão à greve foi maior exatamente nessas categorias.

"A reforma beneficia o setor público"

      O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a greve é direito de todo trabalhador. Segundo ele, que liderou as históricas greves dos metalúrgicos do ABC no fim dos anos 70, o movimento não prejudicará a aprovação da reforma da Previdência no Congresso.
      - Prejudicaria se os deputados fizessem greve - disse o presidente, na abertura da 35 Feira do Calçado, em Franca (SP), de manhã.
      À noite, já no Hotel Unique, onde acompanhou o lançamento da ONG Apoio Fome Zero, que será presidida pela primeira-dama, dona Marisa Letícia, Lula voltou a responder à pergunta de um jornalista sobre a greve, fazendo a defesa das reformas:
      - Estamos certos de que estamos fazendo as coisas da maneira correta. Volto a repetir: as reformas são um benefício para o setor público brasileiro, porque vai garantir que no futuro nossos filhos tenham direitos. Agora, se não querem compreender assim, é um problema que a própria categoria vai deliberar - disse Lula.
Sindicalista: "A adesão aumentará"
      Na avaliação do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), 30 mil (69%) dos 43 mil professores universitários deixaram de dar aulas em 30 das 52 universidades federais. O vice-presidente do Andes, José Domingues, disse acreditar que, em agosto, a mobilização atingirá até 80% da categoria.
      - Agosto será o mês da votação da reforma da Previdência. A adesão vai aumentar no momento da votação da proposta no plenário.
      Isabel Vieira, do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Unafisco), disse que 90% dos 7.500 auditores entraram em greve. A paralisação da categoria é por três dias. Os servidores da Previdência Social também aderiram em peso. Segundo avaliação do próprio Ministério da Previdência, a paralisação no Rio, por exemplo, atingiu 100%. Em alguns estados, a greve também foi grande: Alagoas (90%), São Paulo (80%) e Mato Grosso do Sul (80%).
       Em todo o país ficou comprometido o serviço de concessão de benefícios nas agências do INSS. Em São Paulo, as 16 agências do INSS da capital deixaram de atender cerca de 60 mil pessoas. Os servidores de saúde também paralisaram em alguns estados. No Rio, ficaram comprometidos os serviços nos hospitais federais da Lagoa, o Hospital Geral de Bonsucesso, o de Traumato-Ortopedia e o Instituto Nacional de Câncer.
      Na Polícia Federal, a greve atingiu 26 das 27 superintendências regionais. Até delegados da PF aderiram às manifestações contra as reformas, numa inversão de papéis: nos atos, líderes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) foram vaiados pelos servidores grevistas.
      Para o presidente da Confederação Nacional dos Servidores Federais (Condsef), Gilberto Gomes, o resultado da greve surpreendeu:
      - Foi além da expectativa, e a tendência é aumentar.
      Os funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também entraram em greve em 11 estados. No Rio, todos os 4.500 servidores pararam. No Poder Judiciário, onde há a maior mobilização contra a reforma da Previdência, os servidores de Santa Catarina e Rio Grande do Sul aderiram por tempo indeterminado, assim como a Justiça do Trabalho na Bahia e no Paraná. Em outros estados, como Minas Gerais, a Justiça do Trabalho deixará de funcionar até o fim do dia de hoje, quando fará novas assembléias.
      Ontem também cruzaram os braços por apenas um dia os servidores do Judiciário de Rio, São Paulo e Alagoas. Até a noite, os funcionários ainda não tinham decidido se a mobilização continuaria hoje. Houve dificuldade para conclamar os trabalhadores do Judiciário pelo fato de os tribunais estarem em recesso. Mesmo assim, dos 70 mil servidores, 28 mil (40% do total) entraram em greve, segundo o sindicato.
      - É a maior paralisação da nossa categoria - disse Ramiro Lopes, dirigente da Federação Nacional dos Servidores do Judiciário.
      O Sindicato dos Servidores do Legislativo (Sindilegis) fez ato de protesto no salão verde da Câmara com palavras de ordem hostilizando Ricardo Berzoini, ministro da Previdência:
      - Berzoini, presta atenção, esta reforma é privatização.
      O presidente do sindicato, Ezequiel Nascimento, informou que os 30 mil funcionários da Câmara, do Senado e do Tribunal de Contas da União não aderiram à paralisação de ontem mas vão parar no dia da votação da reforma da Previdência na comissão especial, prevista para o fim do mês. Ezequiel disse que, a partir de amanhã e até a votação da reforma, o sindicato vai pôr carros de som na Esplanada dos Ministérios e receber deputados no aeroporto de Brasília. Ele disse que a central não aderiu porque primeiro quer negociar com o governo
      - É bisonho parar sem negociar - disse o sindicalista.
      Ezequiel, que lidera a criação de uma nova central sindical dos servidores públicos, disse que ontem os funcionários do Legislativo baiano já se desfiliaram da CUT, que não apóia a greve, para se juntar à nova central. Ezequiel afirmou que 637 sindicatos já estariam prontos para aderir à nova central.
COLABORARAM Carolina Brígido, Catia Seabra e Adauri Antunes Barbosa

Reforma causou greves lá fora

      Nos países que hoje discutem a reforma de seus sistemas previdenciários, os servidores públicos, grupo mais atingido, têm protestado nas ruas para tentar impedir as mudanças. França e Áustria, cujos governos são conservadores, enfrentaram greves gerais em maio. No caso da Áustria, foi a primeira paralisação em 50 anos. Itália, Alemanha e Espanha têm enfrentado mobilizações que tentam evitar a perda de direitos trabalhistas.
      Há dez anos, na França, foi feita a primeira mudança no sistema previdenciário, atingindo os trabalhadores da iniciativa privada. Agora, o governo de Jacques Chirac quer enquadrar os servidores públicos.
      O projeto do ministro dos Assuntos Sociais, François Fillon, foi enviado à Assembléia no dia 10 de junho, quando mais de 200 mil pessoas foram às ruas em Paris e em outras cidade francesas, no sexto dia consecutivo de manifestações. As escolas públicas pararam pela 11 vez desde o início do ano letivo no país.
      A idéia central é obrigar os funcionários públicos franceses a trabalharem mais para ter direito à aposentadoria integral e eliminar privilégios. Hoje, são necessários 37,5 anos de contribuição para receber a aposentadoria com base no salário integral. A partir de 2008, serão 40 anos; de 2012 em diante, 41 anos e, a partir de 2020, 42 anos. A inovação é que o governo incentivará os trabalhadores, tanto os do setor público quanto os da iniciativa privada, a trabalhar além dos 60 anos, com um sistema de bônus: quem contribuir por mais de 40 anos, terá de 2% a 3% por ano adicional de trabalho.
      Os funcionários públicos, atualmente, contribuem com 7,58% e os privados, com 10,53%. Um exemplo do que o governo classifica de privilégio: em 2001, cerca de 38% dos franceses que se aposentaram tinham entre 50 e 55 anos. E 300 mil funcionários da alfândega também se aposentaram aos 55 anos, em vez de 60, alegando risco na atividade, ainda que trabalhassem em serviços burocráticos.
      O governo francês calcula que, em 2020, se não houver mudanças, serão necessários 15 bilhões de euros a mais para financiar a Previdência. A oposição já fez nove mil emendas ao projeto do ministro Fillon.
      Na Áustria, o governo de Wolfgang Schuessel quer aumentar o período de contribuições previdenciárias de 40 para 45 anos e a idade mínima para 65 anos. Hoje, os homens podem se aposentar a partir de 59 anos e as mulheres, de 57.

Os salários

      Algumas das categorias que lideraram a greve de ontem contra a reforma da Previdência são as que têm os maiores salários no serviço público federal. Os salários abaixo não levam em conta as vantagens a que os servidores têm direito. A seguir, alguns exemplos (as informações são do Ministério do Planejamento):
AUDITOR FISCAL: Inicial de R$ 5 mil, podendo chegar a R$ 7.376
DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL: Início de carreira com R$ 7.827 e R$ 9.285 ao se aposentar
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: Inicial de R$ 884,00; final de R$ 3.454
SERVIDORES DO BANCO CENTRAL: Inicial de R$ 3.636; final: R$ 7.877
PROCURADOR DO BANCO CENTRAL: Inicial : R$ 3.800; final: R$ 7.877
CARREIRA PREVIDENCIÁRIA (NÍVEL SUPERIOR): Inicial: R$ 1.112; final: R$ 2.021;
SALÁRIOS MÉDIOS
MÉDIA DO LEGISLATIVO: R$ 7.557
MÉDIA DO JUDICIÁRIO: R$ 6.734
MÉDIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO: R$ 10.776

Sem apoio da CUT, servidores vaiam Lula, Dirceu e Berzoini em protestos

      BELO HORIZONTE, RECIFE e SÃO PAULO. Sem o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), servidores públicos federais de todo o país não pouparam ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Previdência, Ricardo Berzoini, em suas manifestações contra a reforma da Previdência. Em frente à Secretaria da Fazenda de São Paulo, cerca de 600 pessoas fizeram o enterro simbólico da proposta do governo para a reforma da Previdência, com direito a rabecão, coroa de flores e caixão. Lula e seus ministros foram vaiados sempre que tiveram seus nomes mencionados.
      - Fora já! Fora já daqui, com essa reforma e o FMI - gritavam os manifestantes, incentivados por sindicalistas que representavam 22 entidades dos servidores.
      O ato, que durou pouco mais de uma hora, fechou completamente a Avenida Rangel Pestana, obrigando a PM e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) a desviarem o trânsito do local, o que causou congestionamento no centro de São Paulo.
      Além de faixas de protesto, alguns manifestantes portavam bandeiras do PSTU.
- Onde está o presidente Lula? Reunido com os banqueiros? Deveria estar aqui na rua, com o povo - bradou o presidente da Associação dos Procuradores de São Paulo, José Damião de Lima Trindade.

Babá protestou ao lado de servidores em BH
      Em Belo Horizonte, o protesto com cerca de mil servidores ganhou o reforço do deputado radical João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PT-PA), que está ameaçado de expulsão por ser contrário à reforma da Previdência. Babá, que participou de uma caminhada ao lado dos manifestantes, foi ovacionado ao dizer que está decepcionado com as ações do governo Lula.
- Se eu for expulso, será por ser defensor do verdadeiro PT - disse
      Já os funcionários do Banco Central em Minas preferiram protestar de forma diferente. Em vez de faixas e cartazes, eles usaram mesas, cadeiras e guarda-sóis, e um café da manhã com suco, refrigerante e guloseimas. Em vez de passeata, preferiram jogar baralho e dominó e tiveram até aulas de bordado.

Em Pernambuco, 35% dos servidores teriam parado
      Os sindicatos que representam 35 mil servidores públicos federais em Pernambuco calcularam ontem em 35% o índice de adesão à greve. Os principais focos de paralisação foram os postos da Previdência Social que não funcionaram e os ambulatórios dos hospitais da rede pública. Os maiores hospitais públicos de Recife, o Agamenon Magalhães, o Getúlio Vargas, o Geral de Areias e o Barão de Lucena, tiveram funcionamento precário.
      O Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco, era o único da rede pública que não tinha sido afetado ontem pela greve. Mas a partir de hoje passa a funcionar também em regime de emergência. Os servidores e professores fizeram uma assembléia e decidiram também parar as atividades por tempo indeterminado. Com a decisão, 349 professores cruzam os braços e quase 24 mil alunos ficam sem aula.
      Também houve passeatas e atos públicos em Brasília, na Esplanada dos Ministérios; no centro de Salvador e em outras capitais.

O balanço da greve

      PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS: Trinta das 52 universidades federais pararam. As universidades estaduais paulistas (USP, Unesp, Unicamp) decidiram entrar na greve em 11 de agosto. No Rio, pararam UFF, UFRJ, Rural e UNI-Rio. Dos 43 mil professores, 30 mil estão em greve.
      SERVIDORES DE UNIVERSIDADES: Servidores de 19 das 42 universidades estão em greve, inicialmente por 72 horas e, a partir do dia 17, por tempo indeterminado. Das 19 que aderiram, seis estão paradas indefinidamente (Ouro Preto, MT, UnB, PR, SC e RS).
      FISCAIS E AUDITORES DA PREVIDÊNCIA: O setor tem mais de cem unidades e 4.500 funcionários. Segundo o sindicato, a greve atingiu 100% nas capitais. A paralisação da categoria é por 48 horas.
      SERVIDORES DO JUDICIÁRIO: Atingiu 40% da categoria. Em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a paralisação foi total. No Paraná e na Bahia, fizeram greve os funcionários da Justiça do Trabalho. Em São Paulo, Rio, Alagoas e Rio Grande do Norte a paralisação é de 72 horas.
      SERVIDORES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, DA SAÚDE, DO TRABALHO E DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: Segundo o sindicato, a categoria parou 100% em algumas capitais e 70% em oito estados. Em Alagoas, a paralisação foi de 90%; no Rio, de 100%, e em SP, de 80%. Em todo o país foi comprometido o serviço de concessão de benefícios. Em SP, 60 mil pessoas deixaram de ser atendidas nas 16 agências; no Rio, ficaram comprometidos os serviços nos hospitais da Lagoa, de Bonsucesso, de Traumato-Ortopedia e o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
      SERVIDORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO PROFISSIONAL: Pararam 13 das 50 instituições, o que corresponde à metade dos servidores; dos 20 mil funcionários, dez mil pararam; a greve atingiu oito Centros Federais de Educação Técnica (Cefets) e o Colégio Pedro II.
      AUDITORES FISCAIS DA RECEITA: Das 64 delegacias, 63 pararam. A greve é por três dias.
      SERVIDORES DO IBGE: No Rio, parou a maioria dos 4.500 funcionários, que representam 45% dos dez mil servidores do IBGE no país. Pararam também servidores em outros dez estados (BA, PR, RS, PE, ES, SC, MT, MS, AP e RR).
      SERVIDORES DO PODER EXECUTIVO: Pararam em 15 estados (BA, DF, MS, PA, RN, RS, SP, AM, CE, ES, MT, PE, RO, SC e RJ). Os setores mais mobilizados foram o Incra e a Receita Federal, além do Ibama e da Fundação Nacional de Saúde.


Papéis trocados: PF lidera greve e CUT é vaiada
Carter Anderson e Evandro Éboli

      RIO e BRASÍLIA. A escadaria da Superintendência da Polícia Federal na Avenida Rodrigues Alves, perto da Praça Mauá, no Rio, estava tomada ontem à tarde por dezenas de servidores federais em greve. Mas, diferentemente do que ocorria nas paralisações dos anos 80, quando os grevistas iam à PF em busca de informação de colegas presos, o local era o ponto de concentração da passeata até a Cinelândia. Abrindo a manifestação, uma faixa do Sindicato Estadual dos Policiais Federais deu o recado dos grevistas: "Reforma previdenciária, alegria do sistema financeiro, tristeza do povo brasileiro". Ao microfone, o presidente do sindicato, Fábio Domingos, procurou animar os servidores:
      - No país inteiro, a PF parou. Queremos uma mudança honrada. Por isso votamos em Lula, para que o Brasil não fique sob o jugo do capital financeiro - disse Domingos.
Fechando a passeata, 30 delegados da PF
      Fechando a passeata, que reuniu 250 pessoas segundo a PM, um grupo de 30 manifestantes, na maioria homens de terno e óculos escuros, participava discretamente do ato. Eram todos delegados e delegadas da PF que tinham na ponta da língua o discurso dos sindicalistas contrários à reforma. Jovens, eles estão na PF há cerca de seis meses e sabem que sua participação numa manifestação grevista pode confundir a população.
      - Antes, os delegados estavam ligados à repressão, por isso nossa participação causa espanto. Mas a Constituição de 88 deu a todos o direito de manifestar sua opinião. Essa inversão de papéis é uma evolução - disse Domingos.
      Em Brasília, o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Francisco Garisto, disse ontem que está prevista uma paralisação em agosto, a exemplo da que ocorreu em 1994. Agentes da PF também aderiram à greve de ontem, mas a paralisação não vai passar desta semana.
      - Vamos repetir 94. Mesmo que seja necessária ação violenta com quebra-quebra, confusão e outras coisas mais - afirmou Garisto num discurso para 70 agentes, em frente à sede da Polícia Federal. Segundo o sindicalista, a greve de ontem teve a adesão tanto de agentes quanto de delegados e até de superintendentes da Polícia Federal.
      - Se o MST invadir alguma fazenda ou se alguma autoridade for seqüestrada hoje, não vai haver Polícia Federal para socorrer - disse o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Fernando Honorato.
      Além da retirada da emenda da reforma da Previdência, os policiais reivindicam aumento salarial. A Fenapef defende carreira única na Polícia Federal. A remuneração da categoria varia de R$ 6 mil a R$ 9.200.
      Francisco Garisto disse ainda que a maioria dos delegados aderiu ao movimento. Segundo ele, apenas serviços essenciais como emissão de passaporte e vigilância de presos federais não foram atingidos. A greve, segundo ele, atingiu 80% da categoria:
      - A PF é ordeira mas sabe impor suas vontades.
Presidente da CUT-RJ é vaiado e chamado de pelego
      Enquanto os representantes da PF foram aplaudidos em seus discursos, os dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) enfrentaram vaias e ofensas das cerca de 500 pessoas que participavam do ato, segundo a Polícia Militar, ou mil, de acordo com os organizadores. Presidente da CUT do Rio, Jaime Ramos discursou do alto do carro de som a favor do movimento, o que não impediu os gritos de pelego da multidão que se aglomerava das escadarias da Cinelândia, irritada com a posição da CUT nacional.
      - A proposta da CUT é fazer emendas. Os servidores querem a retirada do projeto. Mas nós ajudamos a organizar e apoiamos a greve - disse Ramos, afirmando que apenas 20 pessoas o vaiaram.

No Rio, adesão também foi parcial
Bernardo de la Peña, Carter Anderson e Ediane Merola

      Pelos cálculos dos organizadores da greve de ontem, pouco mais da metade dos servidores federais do Rio cruzaram os braços. De acordo com Gilmar Cabral, secretário-geral da Confederação dos Servidores Públicos Federais (Condsef), 55% dos 120 mil servidores no estado pararam ontem.
      Cabral admitiu não ter garantias de que a adesão se mantenha. Os policiais federais, por exemplo, aprovaram uma paralisação de 24 horas e deverão retornar hoje ao trabalho. Segundo Cabral, o comando de greve voltará hoje ao Aeroporto Internacional Tom Jobim para garantir a adesão dos fiscais da Receita Federal, que ontem fizeram uma operação padrão nos vôos de chegada. Os policiais federais, por sua vez, fizeram uma operação padrão nos vôos de partida, revistando a bagagem de todos os passageiros.
Na UFRJ, rotina não mudou com a greve
      Estudantes em sala assistindo às aulas, corredores cheios de alunos e atendimento normal no Hospital Universitário. Apesar da greve, a rotina da UFRJ não foi alterada ontem no campus da Ilha do Fundão. Os docentes da UFF, da UNI-Rio e da Universidade Rural entraram em greve. Na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a maior parte dos funcionários aderiu à paralisação de 24 horas. O IBGE também parou, mas isso não impediu a divulgação ontem da pesquisa mensal de indústrias e nem impedirá hoje a divulgação do IPCA.