segunda-feira, 14 de julho de 2003
O Globo
De volta às origens
Cristiane JungblutEnviada especial
LONDRES
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a aprovação
da proposta original de reforma da Previdência, enviada ao Congresso
em abril. A declaração de Lula ocorre dias depois de o governo
admitir modificações no texto, preservando, por exemplo,
a aposentadoria integral dos servidores públicos. Em entrevista
à seção brasileira da rádio inglesa BBC, Lula
disse que a reforma perderá o sentido se forem mudados seus princípios.
A melhor coisa para a Previdência Social brasileira é
o projeto tal como o governo apresentou. Não é nenhum pecado
original o Congresso fazer mudanças. Mas se mudar os objetivos
da reforma, realmente não tem sentido a reforma. Por isso, queremos
preservar o princípio fundamental da proposta original do governo
disse Lula.
O presidente disse ainda que qualquer mudança será previamente
discutida com os 27 governadores. Um pouco antes, o presidente também
repetiu ao governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB)
que integra a comitiva oficial que os ministros nada farão
em relação à reforma sem consultar os governadores.
Nova reunião com os governadores
Perguntado se o governo aceitaria discutir a manutenção
da aposentadoria integral para o funcionalismo, Lula ressaltou que qualquer
alteração na proposta original depende da vontade dos governadores,
que deverão ser chamados para nova reunião assim que o presidente
retornar ao Brasil.
Essa e qualquer proposta que for posta na mesa para discutir pela
Câmara, o governo, ao dizer não ou sim, terá que ser
de comum acordo com os governadores. Porque a proposta não é
do presidente. E queremos manter a credibilidade e a confiança
que conquistamos junto aos governadores. Qualquer proposta de mudança
terá de ter a aquiescência do governo federal, dos 27 governadores
e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Lula lembrou que se não for feita a reforma da Previdência
os estados não terão recursos para o pagamento das aposentadorias
do funcionalismo dentro de cinco, dez ou 15 anos. O presidente citou a
situação de Minas Gerais, estado governado justamente por
Aécio Neves, um dos que mais criticaram a intenção
do governo de mudar a proposta original de reforma:
Isso um dia estoura. Antes, temos que agir com responsabilidade.
Irritação com atitude de Berzoini
O presidente afirmou ainda que era preciso ter muito cuidado ao falar
sobre o assunto, para evitar manchetes de jornais não condizentes
com a realidade. Mais cedo, na conversa com Cássio Cunha
Lima, Lula contou ter orientado os ministros a manter contato direto com
a comissão de cinco governadores formada para representar os 27
nas discussões da Previdência.
Segundo interlocutores, Lula ficou irritado com o ministro da Previdência,
Ricardo Berzoini, por ele ter começado a discutir mudanças
na proposta sem conversar com os governadores. Nos últimos dias,
Lula conversou por telefone com Berzoini e com o chefe da Casa Civil,
José Dirceu. Ao responder à pergunta de um ouvinte, Lula
negou ter se arrependido de criticar o projeto de reforma do governo anterior.
O PT, historicamente, defendeu sistematicamente um sistema universal
(de Previdência) e o fortalecimento de fundos de pensão.
Queremos fazer justiça social no Brasil e, por isso, mandamos a
reforma da Previdência.

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