quinta-feira, 24 de julho de 2003
O Globo
Reforma passa após batalha
Isabel Braga, Catia Seabrae Bernardo de la Peña
BRASÍLIA
A segunda batalha para a aprovação da reforma da Previdência
foi vencida ontem pelo governo, num dia de protestos e pressões
que sacudiram o Congresso, ocupado por tropas de choque da Polícia
Militar a pedido do presidente da Câmara, o petista João
Paulo Cunha. Numa resposta principalmente às pressões do
Judiciário, a comissão especial da reforma da Previdência
aprovou, por votação simbólica e sem mudanças,
o relatório do deputado José Pimentel (PT-CE) apresentado
semana passada. Agora a reforma entra na reta final da tramitação
na Câmara e o próximo embate, e o mais difícil, será
travado no plenário nas próximas semanas.
Demos mais um grande passo para dar ao país a reforma de
que ele tanto necessita comemorou o vice-líder do governo,
Professor Luizinho (PT-SP).
Só três partidos encaminharam contra o texto: PFL, Prona
e PDT, este um da base aliada. A votação ainda ontem, considerada
fundamental pelo governo para responder à greve da magistratura,
só foi garantida depois que os líderes governistas fecharam
acordo com o PFL, que obstruíra a sessão por seis horas.
Nos porões da ditadura petista
Enquanto os deputados do governo e da oposição travavam
uma batalha verbal e regimental em torno da reforma da Previdência,
a entrada e os corredores da Câmara foram transformados num campo
de guerra. Com autorização do presidente da Câmara,
deputado João Paulo Cunha (PT-SP), numa medida sem precedentes
na História e contra o regimento da Casa, uma tropa do batalhão
de choque da PM entrou no Congresso e se juntou aos seguranças
nos confrontos com os servidores.
A PM chegou a prender e algemar o coordenador da Federação
dos Sindicatos dos Trabalhadores em Educação nas Universidades
Brasileiras (Fasubra) Rogério Marzola Fagundes. Ele foi levado
por dois policiais para uma sala da segurança no subsolo do anexo
I e só foi libertado depois da interferência de um grupo
de deputados.
Fui detido nos porões da ditadura petista gritava
Fagundes.
Alertados pelos radicais do PT que interromperam a reunião da
comissão especial da Previdência, os deputados Arnaldo Faria
de Sá (PTB-SP) e Alceu Collares (PDT-RS), acompanhados de outros
colegas, foram atrás do manifestante detido. Ao encontrá-lo,
Faria de Sá chamou os demais. Assustados, os dois policiais tentaram
fechar a porta. Mas o deputado usou os pés para segurar a porta.
Vou prender vocês. Não é permitida a entrada
de policiais armados aqui ameaçou.
Dirceu reconhece erro na dose
Procurado pelos deputados em seu gabinete, João Paulo recomendou
que Fagundes fosse levado ao serviço médico. Segundo o diretor
do departamento médico da Câmara, Luiz Henrique Hargreaves,
não foi constatada qualquer lesão no manifestante, encaminhado
ao IML. Segundo João Paulo, a segurança da Câmara
pediu autorização para convocar a Polícia Militar
por temer não conseguir controlar os manifestantes. Ao chegarem,
os policiais passaram pelos corredores das comissões e circularam
armados na porta da sala onde os membros da comissão especial da
Previdência estavam reunidos. A segurança da Câmara
alegou que eles só passaram pelos corredores porque a porta do
Anexo 2 já estava tomada por manifestantes.
Do Palácio do Planalto, o chefe da Casa Civil, José Dirceu,
foi informado por dois assessores que acompanhavam a confusão.
De manhã, na fase aguda da crise, Dirceu, apreensivo, chegou a
chamar deputados de sua confiança a seu gabinete.
É claro que o governo ficou em pânico. Ninguém
gosta dessa tensão contou um deles.
Os líderes avisaram a Dirceu que, se a Casa não for arrumada,
será impossível aprovar o texto no plenário. Aos
aliados, Dirceu reconheceu que houve erro na dose na montagem
do governo. E usando dois copos, um cheio e outro pela metade, disse:
A base aumentou. Vamos ter de acertar a dose. Mas não podemos
encher esse copo agora. Só no fim do ano disse Dirceu.
O texto prevê a criação da cobrança previdenciária
dos servidores inativos que ganham acima de R$ 1.058, garante o pagamento
integral de aposentadorias aos atuais servidores, além de paridade
de reajustes entre inativos e ativos. Mas, para os futuros servidores,
estabelece um regime previdenciário único para trabalhadores
da iniciativa privada e pública, com teto das aposentadorias de
R$ 2,4 mil.
O relatório de Pimentel prevê ainda que os atuais servidores
só conquistaram a integralidade dos vencimentos se preencherem
três requisitos básicos: idade mínima de 55 anos e
30 anos de contribuição (mulheres) e 60 anos de idade e
35 de contribuição (homens), além de 20 anos no serviço
público e dez no cargo. Os pensionistas do futuro também
terão reduzidas suas pensões, se elas ultrapassarem o valor
de R$ 1.058. Os atuais servidores que quiserem se aposentar pela antiga
idade mínima (48/53 anos) terão uma redução
de 5% por ano antecipado.
Destaques do PFL são derrubados
O deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), que ontem substituiu Darci
Coelho (PFL-TO) na comissão, teve papel fundamental no acordo entre
oposição e governo que garantiu a votação
do relatório de Pimentel ainda ontem. Para acabar com as manobras
de obstrução, o PFL queria a votação nominal
em que deputados são obrigados a dizer como estão
votando de três destaques: taxação dos servidores
inativos, a elevação do pagamento integral da pensão
de R$ 1.058 para R$ 2,4 mil e o teto de 90,25% do salário de ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) para os magistrados estaduais. O texto
prevê teto de 75% do salário de ministro do STF, que é
de R$ 17.170, para os juízes estaduais. O PFL conseguiu os dois
primeiros e o terceiro foi trocado pela votação de destaque
que cria um regime especial para a inclusão dos 40 milhões
de trabalhadores no sistema previdenciário. Os três destaques
foram rejeitados.
COLABOROU Isabela Abdala
Cronologia
7h: Os primeiros servidores interessados na votação da reforma
da Previdência, como os da Associação Paulista de
Auditores Fiscais da Previdência, começam a chegar e conseguem
entrar na Câmara.
9h30m Grande parte dos servidores começa a se concentrar do lado
de fora do Congresso, na entrada do Anexo 2, das comissões da Câmara.
No auge da manifestação, segundo a PM, havia cerca de 300
manifestantes.
10h: Começa a sessão da comissão especial. Aumenta
a aglomeração na entrada do Anexo 2 da Câmara.
10h30m: O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia
(BA), tenta entrar pela porta e provoca um tumulto com os servidores públicos
que faziam um cordão para impedir a entrada na Câmara.
11h: Tropa de choque do Batalhão de Operações Especiais
(Bope), fortemente armada, chega ao Congresso , passa pelos corredores
da Câmara e se posta em frente à Comissão de Constituição
e Justiça(CCJ), com as armas em punho. Pouco depois, atendendo
ordem de um funcionário da Câmara, a tropa vai para o lado
de fora, onde já estão policiais militares do batalhão
encarregado de fazer a segurança externa do Congresso. Entre os
manifestantes que fazem um cordão na porta da Câmara, Rogério
Fagundes é preso pela PM e levado para uma das salas da segurança
da Câmara.
11h30m: Primeira interrupção da sessão de votação
do relatório, quando deputados radicais entram na comissão
aos berros para dizer que a polícia havia entrado no Congresso.
12h40m: O presidente da Câmara entrega a chave do auditório
Nereu Ramos para o deputado João Fontes (PT-SE) depois de receber
uma comissão de deputados. Para lá serão levados
os cerca de 300 manifestantes.
12h45m: Seguranças da Câmara entram em confronto com um
grupo de servidores do Congresso, auditores fiscais e manifestantes que
tentavam entrar na sala da comissão especial.
13h10m: Manifestantes se encaminham ao auditório Nereu Ramos.
13h16m: Deputados aprovam requerimento para votar outro pedido de adiamento
por um dia.
13h30m: A PM permanece na porta do Congresso, mas os manifestantes vão
se retirando.
14h47m: Começa o debate do relatório da Previdência.
17h22m: A sessão é suspensa para a ordem do dia no plenário.
19h: A sessão é retomada.
20h45m: É aprovado o texto-base do relator José Pimentel,
por voto simbólico, ressalvados os destaques.
Petista é o primeiro
a autorizar a entrada da polícia no Congresso
Ciça Guedes
RIO e BRASÍLIA. Foi a primeira vez na História do Brasil
que a polícia entrou no Congresso para reprimir a ação
de manifestantes. No período imperial, D. Pedro I ordenou o fechamento
da Assembléia Constituinte, em 1823, numa ação contra
os membros do Parlamento, que foram presos. Mas nem mesmo durante a ditadura
militar ou em outros momentos tensos na vida do país como
no início das reformas no governo Fernando Henrique Cardoso
tropas militares ou policiais passaram das cercanias do prédio.
O que aconteceu é um precedente dos mais graves. O problema
deveria ter sido resolvido com a segurança da Casa. Se um líder
do PT faz isso, enfraquece muito a instituição, abrindo
um precedente para que o Executivo use sua polícia dentro de outro
poder diz o coordenador do Laboratório de Estudos do Tempo
Presente da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira
Para o historiador, a atitude do presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), de chamar a polícia foi inusitada, inédita
e terá mais conseqüências do que se pode prever agora.
Diretor-geral da Câmara por 19 anos, Adelmar Sabino lembra que
uma única vez o Batalhão de Choque da PM, que tem convênio
com a Casa para proteger os arredores, foi chamada numa manifestação.
Era um protesto de lavradores, que carregavam foices:
O batalhão, do outro lado da Esplanada, nem foi chamado.
Era só para ameaçar.
Francisco Carlos recorda que tropas do Exército cercaram o prédio
do Congresso, em dezembro de 1968, quando da decretação
do AI-5, e também na promulgação do Pacote de Abril,
o conjunto de medidas baixadas pelo governo Ernesto Geisel em 77. O general
Newton Cruz, comandante militar do Planalto, também usou suas tropas
para tentar intimidar o Congresso durante a votação da emenda
das Diretas Já, em 1984. Mas as tropas não entraram.
PT terá que prestar contas da atitude, diz historiadora
Sob o argumento de que era necessário garantir a ordem, o então
presidente general João Figueiredo havia decretado medidas de emergência
para o Distrito Federal e dez cidades do estado de Goiás. O presidente
do Senado na época, Moacyr Dalla, disse, antes da votação
da emenda, que não iria mudar o esquema de segurança da
Casa e que o general Newton Cruz não ocuparia o gramado em torno
do Congresso.
O gramado é nosso avisou o parlamentar dias antes
da histórica sessão de 25 de abril de 1984.
A historiadora Marli Silva da Mota, do Centro de Pesquisa e Documentação
de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação
Getúlio Vargas, diz que somente um governo petista, com um presidente
da Câmara petista, ousaria arcar com o preço de chamar a
polícia para reprimir a ação de manifestantes dentro
do Congresso:
Que outro partido agüentaria a pressão do PT se tomasse
uma atitude como essa? O PT acredita que, por seu passado de combate ao
autoritarismo e sua ligação com os trabalhadores, pode tomar
certas atitudes sem ser tachado de autoritário. É um pouco
fantasiosa essa postura do PT, que vai ter de prestar contas desse tipo
de atitude.
A atuação de João Paulo foi condenada pelo presidente
do PMDB, deputado Michel Temer, que presidiu a Câmara durante o
governo Fernando Henrique.
Fui presidente da Casa por quatro anos e nunca admiti isso. Fui
relator da reforma da Previdência e ninguém tem idéia
do que passei. Mas nunca concordaria com isso. Contraria a tradição
da Casa.
COLABOROU Cátia Seabra
Corrêa autoriza
entrada de servidores; deputados consideram uma afronta
Evandro Éboli e Catia Seabra
BRASÍLIA. Considerado pelos servidores federais um aliado contra
a reforma da Previdência do governo, o presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Maurício Corrêa, concedeu ontem três
liminares permitindo o acesso de funcionários públicos à
sessão da comissão especial que discutiu a reforma, mesmo
depois dos incidentes da manhã. A decisão deixou o presidente
da comissão especial, Roberto Brant (PFL-MG), indignado. Brant
disse que o fato é inusitado e que seria o mesmo que o Congresso
determinasse que pessoas fossem vaiar os ministros no Supremo.
Mandado de segurança e hábeas-corpus para entrar
Professores universitários, servidores do Judiciário federal
e auditores da Previdência Social entraram com mandado de segurança
e dois pedidos de hábeas-corpus para entrar na Câmara dos
Deputados. O presidente do Supremo alegou que a Câmara é
o cenário da nação brasileira em que os temas relativos
à Previdência Social e tantos outros ecoam para toda a sociedade
e que, por isso, permitiu a entrada dos servidores desde que submetidos
aos regulamentos da Casa, sem exorbitarem em seus atos e manifestações.
De acordo com a decisão de Corrêa, a entrada dos servidores
teria que respeitar a capacidade de lotação e as normas
de segurança da Câmara. Corrêa disse ainda que a decisão
da presidência da Câmara de limitar a entrada de servidores
deixava vulneráveis as normas regimentais da Casa. Segundo Corrêa,
o regimento da Câmara garante o acesso do público às
galerias para assistir às sessões, desde que haja lugar.
A decisão do presidente do Supremo beneficiou 62 servidores da
Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário
Federal e Ministério Público da União (Fenajufe),
cujos representantes ele receberá hoje em audiência. Corrêa
concedeu liminar também para 27 professores ligados ao Sindicato
Nacional de Docentes do Ensino Superior (Andes) e para todos os servidores
da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência
Social.
O Congresso não pode anular ou inviabilizar a realização
dos direitos fundamentais do cidadão, nem impedir, como no caso,
que pessoas ingressem e circulem nos prédios públicos,
afirma a liminar do presidente do Supremo.
Foi uma decisão sem serenidade, um erro
A decisão do presidente do Supremo de permitir a entrada dos servidores
na Câmara foi recebida como uma afronta pelos deputados. O petista
Paulo Delgado (MG) chegou a dizer que Maurício Corrêa seria
responsabilizado em caso de incidente ao longo das votações.
Foi uma decisão sem serenidade, um erro do ministro Maurício
Corrêa. É um desrespeito à Casa. Não podemos
escolher 250 entre os milhões de eleitores brasileiros discursou
o petista em plenário.
Brant disse que o Supremo estava interferindo na rotina de um outro poder.
Como o auditório onde a comissão estava instalada só
tinha capacidade para 147 pessoas, chegou a admitir a transferência
da sessão para o plenário central da Casa. E comparou:
O Supremo Tribunal Federal? É como se aprovássemos
uma lei botando mil pessoas para vaiar os ministros na sessão do
Supremo Tribunal Federal. Custo a acreditar que tenham decidido isso
reagiu, incrédulo.
João Paulo não aceita mudar lugar de discussões
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), não
aceitou transferir a sessão para outro lugar para garantir espaço
aos servidores.
A presença será de acordo com o espaço disponível.
Quando a votação vier para plenário, o espaço
será maior disse.
Entusiasmados com o resultado, os servidores decidiram entrar com ações,
a exemplo da Anfipe. O presidente da associação, Marcelo
Oliveira, ofereceu um advogado para outras entidades.
João Paulo: A
PM passou, mas não atuou
Bernardo de la Peña
BRASÍLIA. Depois da batalha entre servidores, policiais militares,
seguranças e parlamentares, o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), convocou entrevista coletiva para afirmar que partira
dele a autorização para a segurança do Congresso
convocar a Polícia Militar com o objetivo de impedir a entrada
dos servidores que protestavam contra a reforma da Previdência.
Em seu gabinete, João Paulo se defendeu das críticas da
oposição e de aliados argumentando que a PM apenas passara
pelos corredores da Câmara. Disse ainda que, embora não tivesse
sido informado da decisão de liberar a entrada da PM, a manobra
foi feita para evitar o confronto com os manifestantes que já ocupavam
a entrada do Congresso, por volta de 10h, quando os policiais chegaram.
A PM passou, mas não atuou dentro da Câmara
afirmou João Paulo.
Segundo ele, mesmo a prisão do diretor da Federação
dos Sindicatos dos Trabalhadores em Educação nas Universidades
Brasileiras (Fasubra) Rogério Marzola Fagundes foi feita do lado
de fora e o manifestante, levado para dentro da Casa, foi entregue aos
seguranças, que teriam tomado o seu depoimento.
As denúncias do manifestante, que alega ter sido agredido pelos
policiais, serão apuradas, segundo João Paulo. Ele disse
que já solicitou as fitas das equipes de televisão que cobriram
a manifestação. Depois dos incidentes, a direção
da Câmara informou ter determinado que a PM permanecesse do lado
de fora do Congresso.
Na noite anterior, contou o deputado, foi feita uma reunião com
os coordenadores das entidades de servidores sobre o esquema de segurança.
O presidente da Câmara disse não estar preocupado com as
ameaças das entidades de servidores de entrar com ações
contra ele na Justiça ou com representação no Conselho
de Ética da Câmara:
Responderei a todas (ações). Não tenho problemas
jurídicos nem de consciência ou ética.
Ele garantiu que vai manter o diálogo com as entidades e que permitirá
o acesso às discussões na Câmara. Disse que ontem
negociou com os manifestantes a ida para o auditório da Câmara.
Porém, pretende pedir o auxílio da PM quando necessário.
Ontem, para ele, o problema foi de espaço:
Seria uma irresponsabilidade deixar 300 pessoas entrarem
numa sala em que só cabem 30. Não é uma coisa agradável,
mas muitas medidas não são do João Paulo, mas do
presidente da Câmara.
Servidores vão
processar João Paulo
Catia Seabra
BRASÍLIA.Criticado por adversários e até por petistas,
o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), será
alvo de três ações das entidades de servidores que,
se prosperarem, podem provocar até um processo por quebra de decoro.
Além de uma ação no Supremo Tribunal Federal por
lesão corporal e outra na OAB, as entidades sindicais entrarão
com uma representação na Corregedoria Geral da Casa para
abertura de processo por falta de decoro parlamentar, o que poderia levar
João Paulo até à perda do mandato de deputado.
A representação tem amparo no artigo 271 do regimento interno
da Câmara, segundo o qual é proibido o porte de armas
de qualquer espécie no edifício da Câmara e áreas
adjacentes, constituindo infração disciplinar ou ato de
contravenção o desrespeito a esta proibição.
No Supremo, João Paulo será acusado de co-participação
em crime de lesão corporal. A pena dependeria do grau de violência
cometida contra Rogério Fagundes, um dos diretores da Fasubra.
Levado ao porão do anexo 1 da Câmara, depois de algemado,
Fagundes apanhou dos policiais, segundo relato, por exemplo, do deputado
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que o resgatou. Mas, segundo o departamento
médico da Câmara, não foi constatada qualquer agressão.
Fizemos radiografias e nada foi constatado. Sugerimos que ele
fosse encaminhado ao IML disse o diretor do departamento, Luiz
Henrique Hargreaves.
João Paulo enfrenta a oposição dos petistas
Na OAB e na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, João
Paulo será objeto de outra representação para análise
de sua atuação à frente da Casa. Ainda que as ações
sejam arquivadas, ele já pagou alto preço ontem, tendo que
enfrentar a oposição dos próprios petistas. Incomodada,
a esquerda do partido teve a adesão de um terço da bancada
para um abaixo-assinado contra sua decisão de chamar a polícia.
Procurado à tarde por deputados que não quiseram ficar
contra ele, João Paulo se comprometeu a justificar, em plenário,
sua atuação:
Achamos melhor não divulgar uma nota contra ele
disse Walter Pinheiro (PT-BA).
Cumprindo um acordo fechado em seu gabinete, João Paulo explicou,
na tribuna, por que a polícia foi chamada e alegou que a presença
de PMs no prédio principal se tratava de um atalho. Mas reagiu
com dureza aos ataques recebidos.
Alguns companheiros deveriam ter cuidado antes de emitir sua opinião
disse.
Os adversários, no entanto, mantiveram as críticas:
O governo do PT é fraco de caráter
e por isso reage com força disse o líder do PSDB
no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM).
Ciro bate boca com servidores:
Sou o Lexotan
Catia Seabra
BRASÍLIA. O ministro da Integração Nacional, Ciro
Gomes, bateu boca com os servidores que protestavam contra a reforma da
Previdência. Ciro discutiu com um manifestante depois de o funcionário
da Câmara Cesar Achkar Magalhães ter dito para ele deixar
o governo.
Quanto você ganha? perguntou Ciro a Cesar.
Quer ver meu contracheque? R$ 3.800 reagiu o funcionário
da Câmara.
Eu ganho R$ 5 mil respondeu Ciro, virando as costas.
Enquanto servidores gritavam no corredor ao lado, Ciro discursava no
lançamento do portal do PPS na internet.
Cada vez mais, precisaremos de coragem. Temos que enfrentar privilégios,
a anarquia e a intimidação para defender os interesses do
país, que não é o interesse de uma minoria ruidosa
disse.
Ciro foi surpreendido pela confusão ao descer do prédio
central da Câmara.
Quem mandou a tropa de choque aqui? perguntou uma funcionária
pública.
Eu sou da tropa de choque de governo respondeu o ministro,
em meio à gritaria.
Ciro defendeu a convocação do Batalhão de Choque
para conter o protesto.
A violência é a negação da política.
Quando alguém invade e quebra, está negando a política
e o Estado não pode permitir isso. Esta é uma representação
do país e não pode ser acossada por grupo de pressões
disse Ciro.
O ministro disse ainda que considera pouco rigorosas as medidas previstas
na reforma previdenciária para a redução de benefícios.
Apesar de toda a tensão, Ciro recusou a proteção
de seguranças e até brincou:
Sou o Lexotan da República.
Chamado de traidor, o presidente do PPS, Roberto Freire (PE), não
teve tanto senso de humor. Bateu boca com Luciana Genro (PT-RS) no corredor
das comissões da Casa.
Essa Casa é uma vergonha! gritou ela.
Vergonha é você!

|