segunda-feira, 28 de julho de 2003
O Globo
Fundos de pensão: governo quer
regra única
Isabela Abdala
BRASÍLIA. A luta do governo para aprovar a reforma da Previdência
ainda nem terminou e uma nova discussão já se anuncia em
relação ao novo modelo dos fundos de previdência complementar
dos servidores públicos. O Ministério da Previdência
estuda uma fórmula para tirar a autonomia de governadores e prefeitos
na criação dos fundos de pensão de seus servidores,
na regulamentação da reforma. Líderes do governo
têm a mesma preocupação.
- Estamos vendo qual a melhor forma de assimilar isso. O relator (José
Pimentel) está trabalhando nesse ponto. Isso será bom para
os governadores também. Imagine se um município resolver
fazer um fundo qualquer e esse fundo quebrar? Os estados também
podem levar a tunga - disse o vice-líder do governo, professor
Luizinho (PT-SP).
O governo precisa garantir que estados e municípios sigam as regras
da União em seus fundos de previdência complementar. O objetivo
é evitar que, em caso de déficit dos fundos estaduais e
municipais, o rombo seja coberto pela União.
A Previdência trabalha com a convicção de que a única
proposta viável é a de contribuição definida.
De acordo com essa fórmula, o servidor contribui sem a garantia
de que, ao se aposentar, receberá complemento suficiente para recompor
o salário da ativa. A proposta do governo exclui o benefício
definido, reivindicado pelos servidores.
Fundos serão criados por lei ordinária
Com a aprovação da emenda da reforma, a criação
dos fundos de previdência complementar não precisarão
de lei complementar: basta uma lei ordinária. Com uma votação
na Câmara e outra no Senado, em turno único, a lei será
aprovada. Segundo as regras, União, estados e municípios
são proibidos de contribuir com uma parcela maior do que a dos
servidores.
Os fundos serão gerenciados por seis diretores: três representantes
dos servidores e três do poder empregador. Ao contrário do
que propagam os funcionários públicos que protestam contra
a reforma da previdência, as regras não permitem a privatização
desses fundos. No artigo oitavo da lei complementar 108/2001, há
a determinação de que as entidades devem se organizar sob
forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos.
Regras permitirão benefício proporcional
Na última quinta-feira, o conselho de gestão da previdência
complementar se reuniu para discutir a regulamentação das
leis. O objetivo é que os futuros fundos de previdência complementar
dos servidores tenham regras flexíveis e permitam, por exemplo,
resgate em caso de perda do vínculo empregatício. Nesse
caso, deverá haver apenas desconto das parcelas de custeio administrativo.
Os fundos também deverão permitir ao servidor receber benefício
proporcional se não contribuir durante 35 anos, no caso dos homens,
ou 30 anos, no das mulheres.
A portabilidade (possibilidade de o servidor transferir dinheiro para
outro fundo, se mudar de emprego), também deverá constar
da proposta, assim como o autopatrocínio do servidor: caso ele
saia do emprego poderá participar do fundo pagando sua contribuição
e a do empregador e mantendo os mesmos direitos na aposentadoria. .
Marinho diz que falta
diálogo com o governo
Adauri Antunes Barbosa
SÃO PAULO E BRASÍLIA. O presidente da Central Única
dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, queixou-se ontem, no encerramento
do 4 Congresso dos Metalúrgicos do ABC, de que não tem conseguido
dialogar com o governo de Lula, que já foi presidente da entidade.
- É um desabafo pelo tamanho da minha chateação
de não ter conseguido espaço de diálogo suficiente
para responder às reivindicações da massa de servidores
do Brasil inteiro, que foi sacrificada e achatada ao longo de oito anos
de (governo do presidente) Fernando Henrique - afirmou.
Mesmo chateado, Luiz Marinho afirmou que confia na sensibilidade de Lula
para mudar a proposta de reforma da Previdência.
- Do jeito que está, tem desequilíbrio em favor dos altos
salários e contra os baixos salários.
Para o presidente da CUT, a retomada do desenvolvimento é a única
forma de diminuir as ocupações que vêm ocorrendo no
campo e na cidade.
Em visita no sábado ao acampamento dos sem-teto, no terreno da
Volkswagen em São Bernardo, Marinho disse ter visto muitos metalúrgicos
desempregados. Ele pediu que as comissões de fábrica do
ABC arrecadem alimentos e afirmou que vai enviar mensagem à direção
internacional da empresa propondo uma solução para o terreno.
- Eles tentam vender esse terreno há mais de dez anos. Podem dar
um preço social e pôr à disposição da
moradia.
Bancada pode aceitar reivindicação da CUT
Ainda sem o aval do governo, a bancada do PT estuda aprovar ao menos
uma reivindicação da CUT na reforma da Previdência:
um redutor menor do que os 5% anuais para os servidores que ganham menos
de R$ 2.400 e, tendo começado a trabalhar cedo, não tenham
que esperar até os 60 anos para se aposentar.
COLABOROU Catia Seabra
Sindicalista diz desprezar críticas
à CUT
SÃO PAULO. O presidente da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), Luiz Marinho, disse ontem que recebe com desprezo as críticas
de que a entidade adotou um "sindicalismo de negócios"
e de estar inaugurando a "fase de neopeleguismo" pela proximidade
com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos fundadores
da CUT. As críticas foram feitas pelo economista Reinaldo Gonçalves,
da UFRJ, e o sociólogo Ricardo Antunes, da Unicamp, e publicadas
ontem em O GLOBO.
- É uma crítica de quem está fazendo uma avaliação
de forma apressada. É preciso que esses cidadãos analisem
o comportamento da Central para depois fazer uma avaliação.
Mais me parece um posicionamento político-ideológico tomado
há muito tempo e não o de um estudioso - respondeu Marinho,
logo depois do encerramento do 4 Congresso dos Metalúrgicos do
ABC.
"Muitas vezes, temos de empurrar o governo"
No discurso, Marinho disse saber bem o papel da CUT: encaminhar as reivindicações
dos trabalhadores independente de qual for o governo.
- É evidente que temos compromisso com o governo Lula, mas nosso
papel é encaminhar a reivindicação da companheirada
- disse.
Marinho reconheceu, no entanto, que a CUT pisa em ovos quando tem que
apoiar o governo que ajudou a eleger:
- Apoiamos o governo nas coisas certas, mas com a mesma autoridade e
tranqüilidade criticamos as coisas que achamos que estão erradas.
Nós, muitas vezes, temos o papel de empurrar o governo para fazer
as coisas que achamos corretas. (A.A.B)
Juízes querem
seu benefício definido
BRASÍLIA. Caso percam a batalha para a manutenção
da aposentadoria integral para os futuros servidores, os juízes
e desembargadores irão lutar para ter um fundo de previdência
complementar para a magistratura e com benefício definido. Assim,
os magistrados contribuiriam sabendo que, quando se aposentarem, terão
o complemento suficiente para empatar com o salário da ativa. A
reivindicação não é considerada impossível
de ser negociada pelo governo.
A equipe técnica do Ministério da Previdência acredita
que a criação de vários fundos de previdência
complementar para o serviço público, pelo menos um para
cada Poder, é uma forma de proteger a economia.
Os técnicos do Ministério da Previdência trabalham
com várias hipóteses. Uma delas prevê um complemento
de aposentadoria acima do teto do regime geral de R$ 2.400, desde que
os beneficiários arquem com os custos do privilégio. Nesse
caso, a União não seria obrigada a contribuir com a mesma
parte do servidor. ( I.A. )

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