terça-feira, 05 de agosto de
2003
O Globo
Indecisão até o último
minuto
Ilimar Franco, Catia Seabrae Cristiane Jungblut
BRASÍLIA
O governo tentará votar hoje em plenário a reforma da Previdência,
mas até ontem à noite o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva continuava defendendo o acordo com os governadores e não
estava disposto a avalizar a concessão ao Judiciário, negociada
na Câmara, para fixar o subteto salarial nos estados em 90,25% da
remuneração de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Três propostas continuavam em debate, fixando o subteto entre 75%
e 90,25%, e a reunião dos líderes com Lula encerrada às
22h30m não foi conclusiva. Entre os que participaram das intensas
discussões ontem no Planalto a impressão era que Lula queria
evitar passar a imagem de ter cedido ao Judiciário, empurrando
a decisão para o Congresso.
O subteto é um dos últimos itens pendentes das negociações
para votar a reforma. Publicamente o presidente Lula decidiu fincar pé
na manutenção dos 75% para evitar o rótulo de defensor
dos privilegiados.
O presidente acompanha com tranqüilidade o processo que deverá
levar à aprovação da reforma da Previdência.
Quanto a mérito, o governo continua a defender o relatório
de Pimentel, fruto de ampla negociação que soube manter
a busca da justiça social e o equilíbrio das contas da Previdência
disse o porta-voz da Presidência, André Singer, antes
da reunião de Lula com ministros e líderes aliados.
O governo reluta em ceder ao Judiciário pois alguns de seus integrantes
consideram que a decisão seria mal recebida pela opinião
pública. Mas a dúvida persistia diante da preocupação
de que essa votação poderia quebrar a unidade da base do
governo. Os líderes do PL, Valdemar Costa Neto (SP), do PTB, Roberto
Jefferson (RJ), e do PPS, Roberto Freire (PE), são favoráveis
a atender ao Judiciário.
Governo começa a liberar verbas
Mas os governadores, mobilizados pelo presidente, telefonaram ao longo
do fim de semana para os líderes aliados defendendo a preservação
do relatório de José Pimentel (PT-CE). Os líderes
aliados chegaram ontem à noite ao Planalto dispostos a convencer
o governo a lavar as mãos, permitindo a conclusão de um
acordo na Câmara sem sua anuência. Outros, menos otimistas,
apostavam que no adiamento da decisão em meio a um confronto entre
o governo e sua base.
O presidente enganchou nesse subteto. Mas se entender que é
melhor ficar com os 75%, contará com nossa solidariedade
disse o líder do PSB, Eduardo Campos (PSB-PE).
Decidida a questão, que voltará a ser discutida em reunião
marcada para as 10h de hoje, os líderes governistas vão
mobilizar a base aliada para tentar aprovar o relatório de Pimentel
na noite de hoje e assim evitar um confronto com a marcha dos servidores
públicos, marcada para amanhã. Mas se as discussões
se prolongarem, a votação ficará mesmo para amanhã.
Ontem, os líderes dos partidos aliados tiveram de esperar mais
de uma hora para se reunir com o presidente Lula. Na hora marcada, às
19h30m, o presidente ainda estava trancado com a cúpula do governo
para decidir sobre os últimos passos em relação à
votação do relatório da reforma.
Estavam no gabinete presidencial fazendo uma avaliação
política do substitutivo e das negociações realizadas
nos últimos dias os ministros José Dirceu (Casa Civil),
Antonio Palocci (Fazenda), Ricardo Berzoini (Previdência), o secretário
de Comunicação, Luiz Gushiken, o líder do governo,
Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o relator da reforma.
Para garantir votos, a Casa Civil está articulando a liberação
de recursos do Orçamento e a nomeação para cargos
federais nos estados para atender aos deputados aliados. Ontem mesmo o
governo começou a liberar recursos para atendimento de emendas
de parlamentares.
Proposta para agradar
ao PSDB
Catia Seabra
BRASÍLIA. Para satisfazer a Central Única dos Trabalhadores
(CUT) e o PSDB, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva está
deixando uma conta para seus sucessores. Líderes governistas e
o próprio relator da reforma da Previdência, deputado José
Pimentel (PT-CE), admitiram ontem que caberá à União
ao contribuinte, no fim das contas pagar o custo pelas medidas
propostas para conquistar cerca de dez milhões dos 40 milhões
de trabalhadores que estão hoje na informalidade.
Pela proposta, que será regulamentada em lei, o autônomo
pagaria 8% de um salário-mínimo, pouco mais de R$ 19, como
contribuição previdenciária. Ao fim de, no mínimo,
15 anos, teria direito ao benefício equivalente a um salário-mínimo,
desde que atingida uma idade mínima, de 55 anos para mulheres e
60 para homens.
Como a contribuição é inferior aos 20% pagos hoje
(8% do trabalhador, 12% do empregador) e há a garantia de benefício
daqui a 15 anos, a diferença será paga pela União.
Terá subsídio. Qual será, ainda não
fizemos as contas admitiu Professor Luizinho (PT-SP, vice líder
do governo na Câmara.
Proposta só valerá para os que estão hoje na
informalidade
Segundo ele, a proposta só valerá para os trabalhadores
que estão hoje na informalidade. Ele não especificou que
mecanismos seriam adotados para impedir que alguém que hoje paga
20% simule sua demissão para migrar para o novo modelo.
Segundo Pimentel, seu relatório remeterá à lei a
fixação das regras para inclusão desses trabalhadores
que vivem na informalidade, sem direito a qualquer tipo de auxílio.
Hoje, existiriam 40 milhões de trabalhadores informais no país.
Mas o alvo da proposta são os 8,2 milhões de autônomos
que ganham acima de um salário-mínimo e os 1,7 milhões
de empregados domésticos.
O relator alega que, mesmo sem qualquer contribuição, esses
trabalhadores teriam direito a um salário-mínimo mensal
previsto na Lei Orgânica de Assistência Social (Loas). Pela
Loas, qualquer brasileiro com mais de 67 anos e renda mensal inferior
a um quarto de salário-mínimo recebe o benefício.
Esse benefício será subsidiado. Mas, mesmo que não
fizesse nada, essa pessoa teria direito ao benefício da Loas ao
chegar a terceira idade. Só que em que condições
de vida? perguntou Pimentel, acrescentando que os cálculos
do governo, ainda sob análise, levam em conta um crescimento econômico,
reduzindo a expectativa de custo da medida.
A proposta tem sido comparada ao sistema de contribuição
do trabalhador rural, que paga 2,1% da comercialização de
sua safra como contribuição previdenciária. O pagamento
das aposentadorias tem caráter assistencial. E, no ano passado,
o benefício ao trabalhador rural representou R$ 14 bilhões
dos R$ 17 bilhões do déficit do INSS. Segundo Pimentel,
há uma grande diferença entre os dois modelos: no campo,
a contribuição é eventual. Mas, explica ele, existe
um projeto em conclusão para regulamentar também a contribuição
no meio rural.
Ainda que admitindo um custo futuro, o líder do governo na Câmara,
Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi enfático na defesa da proposta.
Teremos uma contribuição a mais. E só daqui
a 15 anos o governo pagará. Mesmo o mais fanático e exacerbado
do mercado jamais questionou a aposentadoria rural. Da mesma forma, duvido
que questionem essa proposta.
Negociações
e mudanças antes da votação
BRASÍLIA. Até o último momento a reforma da Previdência,
que deve ser votada hoje ou amanhã no plenário da Câmara,
foi negociada. Medidas para tentar incluir 40 milhões de autônomos
no sistema previdenciário, novas faixas de isenção
para a taxação de servidores públicos inativos e
novos percentuais para a redução das pensões acima
do teto de R$ 1.058, reivindicações de partidos da base
e da oposição, foram alguns dos pontos negociados pelos
líderes do governo e pelo relator da reforma da Previdência,
José Pimentel (PT-CE).
Quanto ao teto para o pagamento de pensões integrais, ainda havia
dúvida ontem à noite se o limite seria mantido em R$ 1.058
ou estendido para R$ 2.400. No primeiro caso, o que excedesse o limite
seria cortado em 30%; no segundo, em 50%.
Os líderes participaram de sucessivas reuniões para fechar
uma proposta capaz de garantir os 308 votos quórum mínimo
para mudança constitucional necessários à
aprovação da reforma.
No fim do dia, o martelo já havia sido batido sobre várias
pendências, à exceção do valor do subteto salarial
nos estados. O relator da reforma concordou em dar nova redação
ao artigo que assegurava a integralidade da aposentadoria para os atuais
servidores. O texto anterior era dúbio, pois se referia a proventos
integrais calculados com base na regulamentação do cargo
efetivo. A nova redação dirá claramente que
o provento integral será calculado com base na remuneração
do servidor no cargo.
Mas os servidores, que ontem reuniram-se com o presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), e com líderes governistas, continuam
insatisfeitos com a regra da paridade salarial para os aposentados, pois
o texto faria referência apenas ao salário-base dos servidores
da ativa.
Para facilitar a aprovação da cobrança da contribuição
previdenciária de 11% dos servidores aposentados sobre a parcela
salarial superior a R$ 1.058, o relator fez uma concessão aos isentos
de pagamento do Imposto de Renda. Pelo novo texto, que atende a uma proposta
feita pelo PMDB, os aposentados ficarão isentos de pagar a contribuição
quando tiverem mais de 70 anos, tiverem alguma deficiência física
ou doença crônica. Esta concessão também foi
feita pelo governo Fernando Henrique nas duas vezes em que tentou aprovar
sem sucesso a taxação dos servidores públicos inativos.
É justo que todas as isenções concedidas
no Imposto de Renda sejam estendidas aos servidores aposentados
disse Pimentel.
O presidente da CUT, Luiz Marinho, reuniu-se ontem com o líder
do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e com o líder
do PT, Nelson Pellegrino (BA). Marinho voltou a defender pontos que já
foram descartados pelo governo, como o aumento do teto geral da aposentadoria
pública de R$ 2.400 para R$ 4.800 e a elevação da
isenção aos aposentados de R$ 1.058 para R$ 2.400.
Mas insistiu mesmo foi na crítica ao redutor de 5% ao ano, argumentando
que era preciso dar uma nova redação que não prejudicasse
os servidores que ganham salários mais baixos. ( Ilimar Franco
e Catia Seabra )
Esquema de segurança
na Câmara é reforçado
Isabela Abdala
BRASÍLIA. Para evitar que os corredores e as galerias do plenário
se transformem numa praça de guerra, com servidores públicos
tentando constranger deputados como aconteceu na votação
na comissão especial, o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha, está reforçando o esquema de segurança
para a votação da reforma da Previdência no plenário.
O acesso dos manifestantes às galerias e aos corredores da Câmara
será restringido ao máximo, com distribuição
de um número reduzido de senhas. A partir de hoje, os acessos ao
Congresso serão controlados com rigor para evitar tumultos e constrangimentos.
A Polícia Militar, que na última votação entrou
na Casa para reprimir a ação de manifestantes, desta vez
só atuará do lado de fora.
Nas galerias deverá ser permitido o acesso de apenas cem pessoas,
embora a segurança aceite até 350. João Paulo informou
que as dependências internas serão protegidas pela segurança
da Casa.
O direito de acesso à Câmara é de todos os
brasileiros, mas em momentos mais tensos têm que ser observados
os impedimentos de segurança. Nenhum manifestante pode interditar
o debate e a votação disse João Paulo.
Os 16 partidos que têm representação no Congresso
terão que dividir 70 senhas de acesso proporcionalmente ao tamanho
de suas bancadas. As outras 30 irão para os presidentes das entidades
nacionais que representam os servidores públicos. Ao PDT, por exemplo,
que tem 15 deputados, seriam reservadas só duas senhas. João
Paulo confirmou apenas o número de senhas para entidades. Para
os partidos ainda restavam dúvidas até ontem à noite.
Os sindicalistas pressionaram João Paulo para liberar mais acessos
ao Congresso. Os sindicalistas lembraram que, no passado, o PT ajudava
a lotar as galerias da Câmara.
A Associação dos Fiscais da Previdência (Anfip) já
conseguiu uma liminar do presidente do STF, Maurício Corrêa,
garantindo o trânsito de manifestantes no Congresso desde que respeitada
a capacidade das galerias e das comissões.
O governo é como
feijão, só funciona na pressão, diz Marinho,
da CUT
Evandro Ébolie Bernardo de la Peña
BRASÍLIA. Mesmo que o governo consiga antecipar para hoje a votação
da reforma da Previdência, os servidores pretendem fazer o maior
barulho possível no Congresso contra o texto do relator José
Pimentel (PT-CE). Os líderes sindicais, que convocaram uma marcha
a Brasília para amanhã, já traçaram uma estratégia
para a possível antecipação para hoje e pretendem
marcar presença nas galerias e nos corredores da Câmara.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho,
disse que os trabalhadores vão continuar pressionando:
Empurramos o governo a fazer coisas que muitas vezes ele não
queria, como destinar recursos para compra e recuperação
de prédios para abrigar os sem-teto. O governo é como feijão,
só funciona na pressão afirmou Marinho.
A marcha dos servidores contra a reforma está marcada para amanhã.
Os sindicalistas esperam reunir na Esplanada dos Ministérios cerca
de 40 mil funcionários públicos que estão em greve.
Eles vão se deslocar para Brasília em 607 ônibus.
Hoje, porém, o comando do movimento acredita que conseguirá
mobilizar no máximo quatro mil pessoas.
Servidores de Minas e Goiás devem chegar hoje a Brasília
A Coordenação Nacional das Entidades de Servidores Públicos
Federais (Cnesf) informou que somente os servidores de estados vizinhos
do Distrito Federal conseguirão chegar hoje a Brasília,
caso das delegações de Minas e Goiás. A maior parte
chega na madrugada de amanhã.
O governo está antecipando a votação porque
prefere enfrentar três mil do que 40 mil servidores disse
Gilberto Cordeiro, secretário-geral da Confederação
dos Servidores Federais.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior
(Andes), Luiz Carlos Gonçalvez Lucas, se o governo votar hoje o
texto no plenário, a marcha de amanhã vai ser radicalizada.
O clima de revolta vai ser maior disse ele.
Marinho ameaçou ontem pedir aos deputados ligados ao movimento
sindical que votem contra o relatório de Pimentel, caso a proposta
não seja modificada para atender aos interesses dos servidores
que ganham menos.
Vamos recomendar não só aos deputados ligados ao
movimento sindical, mas a todos os deputados e deputadas. Insistimos na
necessidade de mudanças desses pontos afirmou Marinho, acrescentando
que, na hora do voto, os eleitores se lembrarão dos deputados que
não ouviram suas reivindicações.
A CUT é contra a votação da reforma esta semana.
Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marinho disse que
a central mandou um recado ao governo e aos líderes:
Vamos insistir até o último segundo. Esperamos que
eles tenham o mínimo de sensibilidade. É um absurdo atender
aos altos salários e não atender aos baixos. É preciso
que se traga proteção aos baixos salários. Se o governo
quer um funcionário público dedicado, que preste um bom
serviço, é preciso que pense na hora de uma reforma como
essa e leve em consideração o ser humano que está
atrás de cada mesa e de cada posto do serviço público.
A CUT defende mudanças no redutor de 5% ao ano até o teto
e considera importante criar condições de transição
para o servidor.
Queremos mudar o valor do teto e queremos discutir a partir de
quando se daria a taxação dos inativos. A reivindicação
era para que não houvesse taxação, mas estamos abertos
à discussão.
COLABOROU Cristiana Lôbo, do GloboNews.com
Sem-terra e sem-teto
ameaçam aderir à marcha
Ricardo Galhardo
SÃO PAULO. Como se não bastassem as manifestações
pelo direito à terra e à moradia, os movimentos populares
decidiram encampar brigas contra temas centrais do governo Lula, como
as reformas constitucionais e a política macroeconômica.
A recém-criada Coordenação dos Movimentos Sociais
(CMS) informou ontem que engrossará o protesto dos servidores públicos
grevistas contra a reforma da Previdência, amanhã, em Brasília.
A reforma da Previdência não está na pauta
do MST. Nossa agenda é formada principalmente pelas questões
agrárias. Mas fomos convidados e estaremos lá com certeza
disse João Paulo Rodrigues, da coordenação
nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Segundo ele, outros assuntos de governo que fogem ao interesse direto
do movimento foram encampados pelo MST, como a Área de Livre Comércio
das Américas (Alca), a autonomia do Banco Central e a questão
dos transgênicos.
Segundo o ex-metalúrgico Waldemar Rossi, da Pastoral Operária
Católica, um dos líderes da CMS, a pauta unificada de reivindicações
inclui ainda outros temas caros ao governo como a geração
de empregos, a redução dos juros e a ruptura com o FMI.
Criada sob a inspiração do advogado petista Plínio
de Arruda Sampaio, a CMS reúne entidades de grande poder de mobilização
como MST, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), União Nacional
dos Estudantes (UNE), pastorais católicas e sindicatos ligados
à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Entre 8 e 13 de
setembro, a CMS pretende fazer uma ampla mobilização pela
geração de empregos.
Governo espera ter pelo
menos 360 votos
Adriana Vasconcelos, Isabel Braga e Bernardo
de la Peña
BRASÍLIA. Apesar das idas e vindas do governo e da grande polêmica
provocada pela reforma da Previdência, o Palácio do Planalto
está otimista em relação ao primeiro grande teste
pelo qual deve passar a base aliada esta semana. Dos 373 deputados da
base, segundo levantamento feito pelo GLOBO junto aos partidos, apenas
43 devem votar contra o relatório do deputado José Pimentel
(PT-CE), já aprovado na comissão especial. Os líderes
do governo mais pessimistas acreditam que o placar final deve registrar
entre 360 e 370 votos a favor da proposta. Na melhor das hipóteses,
o governo espera ter de 410 a 420 votos. Para aprovar a emenda, são
necessários 308 votos.
O número de dissidentes poderá variar, porém, de
acordo com os ajustes finais que estão sendo feitos no texto da
reforma em reuniões entre os líderes da base, o chefe da
Casa Civil, José Dirceu, e o próprio presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. A expectativa dos deputados era de que houvesse mudanças
em pelo menos três pontos do relatório: no subteto para os
juízes, no limite de isenção para o pagamento integral
das pensões e nas regras de transição.
A principal preocupação do governo é evitar que
os deputados de sua própria base apresentem destaques para tentar
modificar o relatório.
A base do governo não tem que apresentar destaque. Se não
teremos mocinhos e bandidos entre os deputados governistas. Isso não
pode acontecer para não expor os parlamentares que são parceiros
do governo afirma o vice-líder do governo, Beto Albuquerque
(PSB-RS).
PPS não abre mão de emendas se não for atendido
Mas isso não é consenso entre os líderes da base.
Até a noite de ontem, sem saber se o governo aceitaria elevar o
teto dos desembargadores estaduais para 90,25% do salário de ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), o líder do PL, Valdemar Costa
Neto (SP), alertava que o seu partido apresentaria o destaque se o governo
não atendesse à reivindicação dos juízes.
O relatório aprovado na comissão especial prevê o
subteto para os juízes nos estados de 75% do salário de
ministro do STF.
Outra ovelha desgarrada na base pode ser o PPS. Segundo o vice-líder
do partido, Colbert Martins (BA), o partido vai votar unido a favor do
texto do relator, mas não abre mão de apresentar emendas
em plenário caso as reivindicações da bancada não
sejam atendidas.
Embora numericamente deva haver mais dissidências no PMDB, o mais
novo aliado do governo, o líder Eunício Oliveira (CE) está
confiante no sucesso da votação. O comportamento do PMDB
será decisivo para que o partido garanta uma vaga na Esplanada
dos Ministérios até o fim do ano. Segundo Eunício,
as principais reivindicações da bancada foram atendidas.
Petista que faltar terá que explicar motivo da ausência
Apesar de esperar uma votação tranqüila, o governo
não vai conseguir conter todas as dissidências nem no seu
próprio partido. Mesmo com as mudanças no texto, os deputados
João Batista Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João
Fontes (SE) devem desafiar o partido e votar contra, abrindo espaço
para que o Diretório Nacional do PT aprove sua expulsão.
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), espera que
os outros 90 deputados do partido votem com o governo. Ele disse ontem
que os parlamentares que faltarem à votação terão
de explicar o motivo da ausência para não serem punidos.
No PCdoB, onde as deputadas Jandira Feghali (RJ) e Alice Portugal (BA)
chegaram a ser substituídas na comissão especial pelas suas
posições contrárias a alguns pontos da reforma, ficou
acertado numa reunião do comitê central que o partido votará
com o governo.
Preocupado com os votos da oposição, o relator da reforma
se reuniu neste fim de semana com deputados tucanos. Ao líder do
PSDB, Jutahy Magalhães (BA), ele prometeu inserir no relatório
regras para a inclusão dos trabalhadores do mercado informal, uma
das reivindicações do partido.
Isso serviria para ampliar o apoio à proposta do governo
na bancada explica Jutahy, que acredita no apoio de 40 dos 60 deputados
tucanos.
O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA),
promete dar trabalho ao governo. Ele pretende apresentar destaques para
alterar a proposta, mas admite que muitos deputados ligados aos governadores
do partido poderão votar com o governo.

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