sexta-feira, 08 de agosto de 2003
O Globo
Teste dramático na madrugada
Isabela Abdala e Catia Seabra
BRASÍLIA
Foi a mais dramática votação sobre as mudanças
na Previdência e, mesmo com todas as concessões, o Planalto
correu o risco na madrugada de ontem, como admitiram líderes governistas,
de ver derrubado o ponto mais importante da reforma. O governo teve de
contar mais uma vez com a oposição para conseguir manter
na reforma a taxação dos servidores públicos inativos
por 326 votos a 163 apenas 18 a mais do que o necessário.
A base aliada contribuiu com apenas 269 votos, o que poderia ter enterrado
a taxação dos inativos, não fosse a ajuda da oposição.
O governo ainda teve que ceder ao fechar acordo para aprovar o aumento
do limite de isenção de R$ 1.200 para R$ 1.440 para servidores
públicos federais. A proposta, porém, só será
votada na terça-feira que vem.
Dirceu teve de pedir ajuda a ACM
O Planalto teve que ceder ainda mais, liberando sua base para aprovar
o aumento do subteto do Judiciário nos estados de 85,5% para 90,25%
do salário de ministros do STF, incluindo Defensoria Pública,
Ministério Público e procuradores dos estados.
Diante das dificuldades, já expostas na votação
da véspera, o fantasma do voto que faltou para o ex-presidente
Fernando Henrique conseguir aprovar ponto importante da reforma previdenciária
em seu governo atormentou líderes e negociadores governistas. O
chefe da Casa Civil, José Dirceu, teve de ligar para líderes
da oposição para socorrer a base e garantir a vitória
apertada.
Não foi só na Câmara que os políticos vararam
a madrugada para a votação das emendas à reforma.
A 500 metros dali, Dirceu não parava de contar votos e acionar
governadores e aliados para pressionarem suas bancadas. No sufoco, o governo
contou com dois pefelistas de peso: os senadores Antonio Carlos Magalhães
(BA) e Roseana Sarney (MA).
Enfrentando a resistência do líder José Carlos Aleluia
(PFL-BA), que apoiava a emenda do PFL para a retirada da taxação
dos servidores inativos, Antonio Carlos e Roseana também bateram
de frente com o presidente do partido, Jorge Bornhausen, mas arregaçaram
as mangas, dispararam telefonemas e conseguiram angariar votos preciosos
para o governo. Roseana foi para dentro do Congresso comandar um corpo-a-corpo
com os pefelistas mais resistentes.
Insegurança atéos instantes finais
Os líderes dos partidos da base não estavam seguros de
que venceriam a batalha até minutos antes da votação.
A longa reunião no gabinete do presidente da Câmara, João
Paulo Cunha, com os líderes não fora conclusiva. Mas Dirceu,
consultado pelo líder do governo, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e pelo
presidente do PT, José Genoino, deu ordem para tentar manter a
taxação ainda na madrugada.
Dirceu ligou para Antonio Carlos logo depois que João Paulo não
conseguiu fechar o acordo com o PFL. Pediu ajuda. Na mesma hora, o deputado
Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) iniciou o trabalho
de convencimento de deputados, isolando Aleluia. Antonio Carlos garantiu
que daria 35 votos do PFL e cumpriu a palavra. No plenário, Aldo
Rebelo foi flagrado cochichando com ACM Neto.
Dirceu liderou uma estratégia de guerra: isolou o PFL, ao fazer
acordo com o PSDB, e depois partiu para rachar o partido. Desde a manhã,
ele telefonou para líderes e governadores do PSDB. Aos governadores,
perguntou quantos votos garantiriam para a sessão e, depois, apelou
para que reforçassem o cerco aos deputados.
A incerteza era tanta que o líder do PSB, Eduardo Campos, vagava
pelo plenário, sem esconder o pavor.
Vai passar, vamos ganhar, né?
Racha na base cresce
ainda mais
Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Em dois dias de votação da reforma da
Previdência, a dissidência na base governista só cresceu,
confirmando que, sem a ajuda da oposição, o governo não
terá condições de concluir na próxima semana
a aprovação de sua proposta em primeiro turno. E terá
que continuar cedendo, pagando um preço alto por esse apoio. Depois
que a porteira foi aberta na última terça-feira, quando
o governo precisou dos votos do PSDB e do PFL para aprovar o texto base
da reforma, já que 65 deputados da base aliada decidiram contrariar
a orientação dos líderes de seus partidos votando
contra a proposta, o número de rebeldes subiu para 94 na votação
do destaque que garantiu a cobrança da contribuição
dos servidores inativos na madrugada de ontem.
A bancada do PDT, com 14 deputados, votou unida, mas contra o governo.
O PCdoB não ficou muito atrás: dos 11 deputados, sete votaram
contra a taxação dos inativos. Esse número só
não foi maior porque o líder do governo na Câmara,
Aldo Rebelo (PCdoB-SP), convenceu o partido a não fechar questão
contra a proposta, permitindo que quatro deputados ele, inclusive
votassem a favor do projeto.
O único partido que conseguiu conter, mas só em parte,
as dissidências na bancada foi o PT. Um dia depois de ter sido surpreendido
com a abstenção de oito deputados na votação
do texto base da reforma, o partido conseguiu convencer o grupo a votar
com o governo. Somente os radicais João Batista Babá (PA),
Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE) votaram contra a proposta,
selando definitivamente seu afastamento do PT. Somente PPS, PSL e PSC
não registraram dissidências.
Divisão também na oposição
Nos demais partidos, porém, a dissidência só fez
crescer. Sem cargo na Esplanada dos Ministérios e vendo a rebelião
dentro de outros partidos da base com vaga no primeiro escalão,
o PMDB ficou mais à vontade para negar o apoio total à taxação
de inativos: 28 deputados votaram contra, dez a mais do que os que votaram
contra o texto base da reforma.
Aldo Rebelo reconheceu ontem a importância do apoio da oposição
para a aprovação da reforma da Previdência e minimizou
as dissidências na base governista. Ele disse que ela ainda está
em construção e não se dispôs a cobrar qualquer
tipo de punição para os rebeldes. Na sua avaliação,
cada partido aliado é que terá de avaliar o comportamento
de suas bancadas.
Não cabe ao governo o funcionar como um inspetor das bancadas,
mas trabalhar para termos o maior número de votos nas votações
de seu interesse afirmou.
Mas o líder governista não conseguiu disfarçar o
constrangimento ao ser perguntado se não estaria numa situação
delicada diante do comportamento de seu próprio partido na votação
da taxação dos inativos. Alguns de seus colegas de base
acreditam que os sete votos contra do PCdoB justificariam a perda da vaga
do partido na equipe ministerial do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. No Palácio do Planalto, a análise é um
pouco diferente e há quem lembre que o PCdoB não está
no Ministério por causa de seus votos, mas pela aliança
histórica com Lula.
As traições também aconteceram na oposição.
O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA),
disse ter encarado com naturalidade o fato de o destaque de autoria de
sua própria bancada ter sido derrubado com votos de 31 pefelistas.
Para Aleluia, essa foi uma vitória principalmente dos governadores.
E garantiu que o partido não vai retaliar quem votou contra.
Já o PSDB contribuiu com 26 votos para ajudar a aprovar a taxação
dos servidores inativos. A bancada mostrou estar dividida: 28 votaram
contra. Entre os pefelistas, o número de votos foi um pouco maior:
35. O Prona garantiu mais seis votos contra. Mas o número de votos
contrários da base aliada superou em muito os da oposição.
Foram 94 votos contra na base, enquanto o PSDB, PFL e Prona somaram 69.
COLABOROU Isabela Abdala
O vaivém e
o que ficou na reforma
TAXAÇÃO DOS INATIVOS: A proposta original previa a taxação
dos servidores aposentados que ganham acima de R$ 1.058. A alíquota
de 11% incidiria sobre a parcela do benefício superior a esse valor.
Era a medida crucial da reforma e que enfrentava, inicialmente, maior
resistência da base e do PFL. O relatório do deputado José
Pimentel manteve a proposta, mas ela foi mudada depois no plenário:
a faixa de isenção subiu para R$ 1.200. Na madrugada de
ontem, porém, o governo aceitou aumentar ainda mais o limite de
isenção. Por acordo, a nova proposta será de taxação
acima de R$ 1.440 para servidores públicos federais aposentados
e de R$ 1.200 nos estados.
SUBTETO PARA O JUDICIÁRIO: Neste ponto também o governo
cedeu muito ao longo da discussão. Na proposta original, o subteto
dos juízes nos estados seria correspondente ao salário dos
governadores. No relatório de Pimentel, a medida já era
outra: o subteto para juízes nos estados corresponderia a 75% do
salário de ministro do STF. Diante da pressão do Judiciário,
que ameaçou até com uma greve inédita de juízes,
depois suspensa, o governo recuou: o plenário aprovou o subteto
de 85,5% do salários de ministro do STF. Vinte e quatro horas depois,
nova mudança: emenda aprovada garantiu o subteto de 90,25%, como
tanto queriam os juízes, incluindo procuradores nos estados.
PENSÕES: Todas as pensões do serviço público,
na proposta original, deveriam ser reduzidas em 30%. No relatório
de Pimentel, porém, ficaram mantidas as atuais pensões e
as futuras seriam pagas integralmente até R$ 1.058. O que excedesse
esse valor sofreria redução de até 70%. No plenário,
mudou de novo: as pensões serão pagas integralmente até
R$ 2.400, com redução de 50% acima disso.
PEDÁGIO: Na proposta original, o cálculo do benefício
para quem se aposentasse antes de cumprir todas as exigências seria
feito pela média de salários desde julho de 94, com redutor
de 5% para cada ano de aposentadoria antecipada. Depois de muitas negociações,
o redutor caiu para 3,5% para quem se aposentar nos próximos dois
anos.
INTEGRALIDADE E PARIDADE: As aposentadorias integrais e a paridade, que
garante a aposentados o mesmo reajuste dos servidores da ativa, acabaria
na proposta original. Pressionado pelo Judiciário e pela base aliada,
o governo recuou: a paridade foi mantida e também a aposentadoria
integral, mas apenas para atuais servidores. Para isso, porém,
terão que se aposentar com 55 anos de idade e 30 de contribuição
(mulheres) e 60 anos de idade e 35 de contribuição (homens),
além de 20 anos no serviço público e dez no último
cargo.
Sarney afirma que
reforma passará pelo Senado sem sofrer alterações
Isabela Abdala
BRASÍLIA. Depois de tantas idas e vindas na Câmara,
a reforma da Previdência chegará ao Senado bastante diferente
da proposta original. Mas, no que depender do presidente da Casa, José
Sarney (PMDB-AP), não haverá novas mudanças. Segundo
Sarney, a reforma já chegará concluída ao Senado,
onde o texto deverá ser apenas consagrado. Isso evitaria que a
reforma tenha que voltar para uma nova tramitação na Câmara,
apressando sua entrada em vigor.
Se Sarney conseguir controlar a oposição, uma etapa importante
na tramitação da emenda será queimada.
O texto já foi muito discutido, muito negociado, muito
dialogado disse Sarney, para afirmar que não há necessidade
de alterações no Senado.
João Paulo: é preciso ter diálogo e paciência
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), previu
que a votação em segundo turno da reforma da Previdência
poderá se iniciar em cerca de 20 dias. O deputado disse que vai
trabalhar para que, até a semana que vem, os pontos pendentes da
reforma sejam votados, como os quatro destaques e as duas emendas que
ainda precisam ser apreciadas em primeiro turno.
Em matéria desta magnitude, com a tensão que ela
gera, precisa ter duas coisas: diálogo e paciência.
Os líderes governistas na Câmara também querem agilizar
a conclusão da votação. A avaliação
geral é de que o pior já passou: o governo conseguiu aprovar
a contribuição previdenciária dos servidores inativos,
que era considerada tabu no Congresso e que o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso tentou implementar três vezes, sem sucesso.
Depois de dois longos dias de negociações e votações
que vararam a madrugada, restaram para a semana que vem seis emendas e
destaques para serem apreciados. Mas o governo tentará fazer um
acordo com a oposição para reduzir isso a apenas duas votações,
fundindo os destaques em apenas duas emendas aglutinativas.
O líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo, tentará
acertar com os partidos a votação apenas das duas emendas
que já foram fruto de acordo: a que eleva para R$ 1.440 o limite
de isenção para a taxação dos inativos do
serviço público da União e a que melhora a redação
das pensões, garantindo a integralidade até R$ 2.400 com
o desconto de 50% do que exceder esse limite também para as viúvas
de servidores que não completaram o tempo mínimo de contribuição.
Juízes conseguem
mais votos que o governo (462 a 5) para elevar subteto
Evandro Ébolie Lisandra Paraguassú
BRASÍLIA. Motivo da última e mais árdua negociação
da reforma da Previdência, o aumento do subteto dos salários
de juízes e desembargadores nos estados de 85,5% para 90,25% dos
vencimentos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foi aprovado
por maioria esmagadora: foram 462 votos a favor, cinco contra e uma abstenção.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistia em não
aceitar o percentual de 90,25% e manter o subteto em 75%, mas, em sucessivas
negociações, os líderes do governo no Congresso chegaram,
com aval do Planalto, a 85,5% e finalmente aos 90,25% que o Judiciário
queria.
Na votação da madrugada de ontem, todos os líderes
de partidos encaminharam a favor da elevação do subteto
do Judiciário. A exceção foi o líder do governo
na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que deu um dos únicos
cinco votos contra a medida. Os outros foram os dos radicais petistas
Luciana Genro (RS) e João Batista Babá (PA) e de Ary Vanazzi
(PT-RS) e Salvador Zimbaldi (PTB-SP).
O lobby do Judiciário conseguiu ainda a inclusão dos procuradores
dos estados no subteto. Já estava prevista na emenda a inclusão
dos membros do Ministério Público e da Defensoria Pública.
Na negociação, os líderes da base resolveram aceitar
também o aumento do limite de isenção de cobrança
de contribuição previdenciária dos servidores inativos
de R$ 1.200 para R$ 1.440.
Acordo levou juízes a suspenderem a greve
Desde a aprovação da reforma da Previdência na comissão
especial, os líderes de classe dos juízes acreditavam que
conseguiriam a mudança na votação em plenário.
A crença nesse acordo levou à suspensão da greve
dos juízes marcada para a semana de 5 a 12 de agosto. O acordo
era negado pelo Planalto, mas assumido publicamente pelos líderes
no Congresso. Na madrugada de ontem os líderes governistas, com
carta branca do ministro José Dirceu (Casa Civil), finalmente conduziram
um acordo que formalizou a mudança do subteto para os 90,25% para
os desembargadores.
O presidente da Associação Nacional dos Magistrados do
Trabalho (Anamatra), Grijalbo Coutinho, diz que, ao fazer a mudança,
o Congresso não atendeu à reivindicação dos
magistrados, mas sim obedeceu a um preceito constitucional. Ele diz que
a Constituição já estabelece o teto estadual de 90,25%
, mas que esse ponto nunca fora regulamentado.
Não há vencidos nem vencedores nesta história.
Prevaleceu o consenso e o respeito aos poderes disse Grijalbo.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa,
mostrou satisfação com o resultado da votação
na Câmara e a aprovação do subteto de 90,25% do salário
de ministro do STF. Segundo Corrêa, havia um equívoco de
interpretação sobre o subteto e a lei aprovada não
permitirá que ninguém ganhe mais do que os R$ 15.600 equivalentes
aos 90,25% do salário de um ministro do Supremo.
Ninguém poderá ter um centavo a mais, mesmo com
todos os sete qüinqüênios a que têm direito
afirmou.
O ministro disse ainda que sempre acreditou que a Câmara chegaria
a esse resultado porque este havia sido o acordo feito com os deputados
e o Congresso tem autonomia para votar. Corrêa afirmou que não
acredita ter havido desgaste do Judiciário na briga pelo subteto.
Medida impõe hierarquia salarial respeitável
O presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Francisco Fausto, afirmou
que o subteto é uma medida moralizadora e um desejo
dos magistrados.
É uma medida moralizadora, que evita exageros e distorções
em remunerações dentro de uma mesma categoria e estabelece
uma hierarquia salarial respeitável disse Fausto.
O presidente do TST afirmou que existem juízes que recebem salários
muito acima da média dos demais magistrados e que a fixação
de um subteto corrigirá tais distorções. O ministro
defendeu a taxação dos inativos, aprovada pela Câmara
no mesmo acordo que elevou o subteto para os magistrados:
Não a defendo pelo enfoque jurídico, mas pelo social,
tendo em vista o interesse público de salvar a Previdência.
Pedágio menor
para quem atingir idade até 2005
BRASÍLIA. O alívio nas regras para a aposentadoria dos atuais
servidores vai beneficiar principalmente os funcionários públicos
de hoje que atingirem a idade mínima de 48 anos (para mulheres)
e 53 (para homens) até 31 de dezembro de 2005.
Esses servidores, se atingirem a idade nos próximos dois anos,
pagarão pedágio (redução no valor da aposentadoria
em relação ao salário integral) equivalente a 3,5%
por ano até atingir a idade mínima exigida pelas novas regras:
55 anos para as mulheres e 60 para os homens.
Os servidores que completarem 48 anos, mulheres, e 53 anos, homens, a
partir de 1 de janeiro de 2006, terão descontos de 5% para cada
ano não trabalhado. Pelas novas regras, segundo especialistas,
o melhor é que o servidor opte pela aposentadoria integral. Neste
caso, ele trabalhará mais tempo, mas em compensação,
terá a chance de se aposentar com o salário da ativa.
A pressão do
Judiciário
Os juízes e desembargadores atuaram como o principal grupo de
pressão na reforma da Previdência, em defesa de privilégios
para as carreiras do Judiciário. Com a ameaça de paralisar
a Justiça em todo o país com uma greve de uma semana, entre
5 e 12 de agosto, os juízes conseguiram levar o governo e os líderes
do Congresso a fazer sucessivas concessões. A greve mobilizaria
11.460 dos 12.560 juízes brasileiros, incluindo magistrados estaduais,
da Justiça Militar e do Trabalho. Ficariam de fora apenas juízes
federais e os dos tribunais superiores.
Diante da pressão, o governo federal cedeu e começou a
negociar. No dia 16 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva autorizou a manutenção da aposentadoria integral para
os atuais servidores, desde que fossem cumpridas condições
mais duras, como a idade mínima de 60 anos para homens e 55 para
mulheres.
A nova batalha passou a ser travada em torno da fixação
do subteto para os salários do Judiciário nos estados. O
presidente Lula não aceitava passar do teto de 75% do salário
de ministro do STF, mas os juízes exigiam que a proposta chegasse
aos 90,25%. Partidos da base, como PL e PTB, assumiram a defesa do Judiciário,
que acabou ganhando a queda-de-braço.
Manifestantes serão
indiciados
BRASÍLIA. O Ministério Público Federal vai responsabilizar
criminalmente os manifestantes que apedrejaram, anteontem, o Salão
Negro da Câmara. O procurador-geral da República, Cláudio
Fonteles, pediu à Procuradoria da República no Distrito
Federal que adote providências para identificar os infratores e
processá-los, além de tentar reparar o prejuízo de
R$ 20 mil pelos danos materiais.
As manifestações democráticas devem ser feitas
com equilíbrio e serenidade, sem violência disse Fonteles.
O chefe do Serviço de Polícia Legislativa e Atividades
Especiais da Câmara, Walber Salazar de Farias, vai presidir o inquérito
que deverá incriminar os agressores. Farias disse que espera identificar
pelo menos dez pessoas. Para isso, ele vai requisitar as imagens das emissoras
de TV e vai usar a TV Câmara e a Rádio Câmara para
pedir que as pessoas que conhecem os apedrejadores os denunciem.
Farias confirmou que o servidor dos Correios Adriano Gomes da Silva,
único manifestante detido no momento que quebrava os vidros do
salão, será indiciado e vai responder a inquérito
por vandalismo e prejuízo ao patrimônio público federal.
O chefe da Polícia Legislativa reafirmou ontem que parlamentares
dificultaram a prisão em flagrante de Silva, atendido no departamento
médico da Câmara e depois liberado graças aos deputados
Ivan Valente (PT-SP) e Laura Carneiro (PFL-RJ) e pela senadora Heloísa
Helena (PT-AL).
Cechin: taxação
de inativos vai render R$ 1,1 bi
Adauri Antunes Barbosa
SÃO PAULO. O ex-ministro da Previdência José Cechin
disse ontem que, com a proposta de reforma previdenciária aprovada
pela Câmara dos Deputados, o governo vai recolher cerca de R$ 1,1
bilhão por ano com a cobrança de contribuição
previdenciária dos funcionários públicos aposentados.
O texto, negociado até a madrugada de ontem, prevê a taxação
dos servidores inativos a partir da faixa de isenção de
R$ 1.440, mas com incidência da alíquota de 11% sobre o que
ultrapassar esse valor. Se o teto fosse de R$ 1.200, a economia do governo
chegaria a R$ 1,17 bilhão. Pela proposta original, de isenção
até R$ 1.058, seriam poupados cerca de R$ 1,2 bilhão.
A estimativa de Cechin foi apresentada ontem durante debate promovido
pelo Instituto IOB, com a participação de especialistas
que fizeram críticas e elogios ao projeto aprovado.
Cechin: elogios ao fim do desequilíbrio previdenciário
O ex-ministro elogiou a eliminação do desequilíbrio
previdenciário a longo prazo e criticou a instituição
do teto que já existia em lei mas que não tinha sido aplicado.
O governo gastou energia à toa para o tamanho do problema
avaliou.
O jurista Wladimir Novaes Martinez, que trabalhou para o projeto dos
ajustes na Previdência no governo Fernando Henrique, disse que a
reforma foi uma "confirmação do óbvio",
mais de caráter político do que propriamente de mudança.
Ele acha que, se o governo sai um pouco desgastado com os protestos dos
servidores, é porque faltou esclarecer com campanhas de informação
para convencer tanto os servidores como a sociedade da necessidade da
reforma. Ele critica a falta de regras de transição para
a aposentadoria e a falta de mecanismos especiais para a inclusão
de 40 milhões de trabalhadores informais na Previdência.
Bastava um artigo remetendo a regulamentação técnica
para uma lei ordinária, que seria discutida depois disse.
Wagner Balera, outro jurista que participou do Fórum IOB, não
pensa que as negociações de última hora trouxeram
prejuízo, já que as mudanças eram indispensáveis.
Segundo ele, da forma como ficou, a reforma é um avanço
para a construção de um modelo maior. No entanto, considera
que essa reforma não dura mais do que cinco anos para precisar
ser mudada.
A próxima reforma será pautada pela redução
das desigualdades entre os dois regimes. É a mesma tese, mais uma
vez disse o jurista.

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