quina-feira, 21 de agosto de 2003
O Globo
PDT apresentará destaque para
tentar mudar subteto na Previdência
Lydia Medeiros e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Corre o risco de ruir o acordo fechado entre o governo
e a oposição para garantir a votação da reforma
da Previdência em segundo turno na Câmara, na próxima
semana. A rebelião, mais uma vez, está sendo deflagrada
dentro da própria base governista. O PDT, cuja bancada já
havia votado contra a cobrança da contribuição previdenciária
dos servidores inativos, agora tentará aumentar o subteto fixado
para os salários e aposentadorias dos servidores estaduais, equiparando-os
ao do Judiciário.
Em carta encaminhada ontem ao líder da bancada, deputado Neiva
Moreira (MA), o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, comunicou
que a executiva do partido fechou questão e deverá apresentar
pelo menos um destaque, mudando o subteto.
"Se para os funcionários públicos federais a referência
máxima são os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, aos servidores estaduais e municipais, obviamente devem ser os
dos desembargadores integrantes do tribunais de Justiça dos estados",
ressalta a carta assinada pelo ex-governador Brizola.
Antes mesmo de conhecer o teor do destaque, o líder do PFL na
Câmara, José Carlos Aleluia (BA), já admitia a possibilidade
de votar a favor.
- Meu compromisso é apenas de não apresentar destaques.
Nada me impede de votar a favor da supressão de trechos do texto,
caso considere que isso poderá melhorar a proposta - adiantou Aleluia,
que consultará a bancada.
Berzoini reuniu-se com senadores da base
Já pensando na votação do Senado, o ministro da
Previdência, Ricardo Berzoini, teve ontem a primeira reunião
com os senadores da base governista para tentar convencê-los a aprovar
sem mudanças a reforma da Previdência.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu um amplo
debate sobre o tema, uma das solicitações feitas ao ministro
no encontro para que os senadores se convençam do voto, mas lembrou
que o tempo é curto.
- A reforma foi extremamente debatida e os espaços são
curtos para que seja modificada - disse Sarney.
Senadores de diversos partidos reclamaram de pontos do projeto, especialmente
do subteto salarial do funcionalismo público nos estados e municípios,
justamente o ponto que o PDT quer mudar. Berzoini defendeu mais debates,
mas foi claro: para alterar o projeto, só com um argumento muito
forte.
- Se formos convencidos de que há qualquer impropriedade, haverá
sensibilidade para tratar da questão. Respeitamos a competência
do Senado para alterar. Mas sempre digo: quem tem competência para
alterar, tem para manter.
'Não vai fatiar nada', avisa
Palocci a líderes da base
Cristiane Jungblut
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, foram enfáticos ontem ao dizer aos
líderes aliados que o governo não pode abrir mão
da arrecadação mas que não há intenção
de fatiar a reforma tributária para aprovar separadamente a CPMF
permanente e a renovação da DRU (Desvinculação
de Receitas da União), deixando o restante para depois.
- O governo não vai, não pode e não deseja colocar
em desequilíbrio as contas da União. Não há
hipótese de isso acontecer. Senão, o país paga em
crises econômicas. Sempre o país paga - disse Palocci.
Ao ressaltar que o governo quer votar em bloco a reforma tributária,
Palocci reagiu com bom humor à pergunta sobre fatiar a proposta.
- Não vai fatiar nada. A única coisa que vi fatiar foi
salame.
Governo não dividirá CPMF com estados, diz Palocci
Em relação à desvinculação dos recursos
da CPMF, incluída no relatório de Virgílio Guimarães,
Palocci disse que para o governo não muda nada e que os recursos
para Saúde, Previdência e Fundo de Combate à Pobreza
não serão reduzidos. Mas esclareceu que, com a transformação
da CPMF em imposto, essas questões serão decididas em lei
complementar.
- A CPMF é vinculada. Não vejo onde há dúvida
sobre isso. Uma parte é da Saúde, outra da Previdência
e outra do Fundo de Combate à Pobreza. Assim é e assim será
- prometeu.
Ao ressaltar que o governo não abre mão de recursos, Palocci
reafirmou que a União não vai dividir as verbas da CPMF
com estados e municípios. Segundo ele, a idéia é
votar a reforma tributária até 30 de setembro, por causa
da CPMF.
Tucanos dizem que votarão
contra relatório
BRASÍLIA. Depois de um encontro de uma hora e meia com o ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, o líder do PSDB, Jutahy Magalhães
Júnior (BA), anunciou que os tucanos vão votar contra o
relatório do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG)
sobre a reforma tributária.
Os tucanos levaram 11 propostas de mudanças, duas delas de interesse
dos governadores. Uma prevê a retenção do Pasep pelos
estados para capitalizar os fundos de previdência.
- Essas emendas são bonitinhas, mas ordinárias - reagiu
Palocci.
Durante a conversa, que contou com a presença do secretário-executivo
do Ministério da Fazenda, Arno Augustin, do economista tucano José
Roberto Afonso e do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), Palocci fez críticas
ao método de trabalho de Guimarães e à postura do
PT nos entendimentos para aprovar o texto da Previdência. Palocci
comparou o trabalho de Guimarães ao de uma sanfona e disse que
isso acabou gerando uma expectativa acima do que o governo poderia conceder.
Para Palocci, o PT não reconheceu os esforços da CUT e do
PSDB para incluir no sistema previdenciário os 40 milhões
de trabalhadores informais.
O líder tucano disse ao ministro que o PSDB votaria contra a CPMF
permanente e que só aprovaria a Desvinculação de
Receitas da União (DRU) por um período de dois anos e não
quatro, como prevê o relatório.

|