sexta-feira, 29 de agosto de 2003
O Globo
Oposição: carga tributária
vai aumentar
BRASÍLIA. Embora o governo afirme que a proposta da reforma tributária
que está no Congresso não vai aumentar a carga de impostos,
os números do Orçamento apresentados ontem pelo ministro
do Planejamento, Guido Mantega, mostram que ela ajudará a reforçar
o caixa da União. A taxação das importações,
por exemplo, que está sendo apontada como aumento de carga tributária
pelos empresários, vai render aos cofres da União R$ 4,4
bilhões no ano que vem, segundo o texto do Orçamento de
2004.
Mantega disse que essa taxação será compensada com
a perda de receita com a desoneração dos bens de capital,
mas a renúncia, neste caso, é de apenas R$ 1 bilhão.
- A maioria dessas receitas são tributos já conhecidos,
por isso não se pode falar em aumento de carga - justificou Mantega.
Ele se referia à previsão de arrecadação de
R$ 20 bilhões da CPMF no ano que vem. Mas o governo precisa do
Congresso para prorrogar o imposto do cheque. Pela legislação
em vigor, a alíquota cairia para 0,08% no fim deste ano.
Só a prorrogação da alíquota máxima
do Imposto de Renda da Pessoa Física de 27,5% por mais um ano garantirá
arrecadação de R$ 1,9 bilhão. Esta alíquota
deveria cair para 25% em 30 de dezembro deste ano. Além da prorrogação
da CPMF, as reformas da Previdência e tributária e a prorrogação
da alíquota do IR vão reforçar o caixa do Tesouro
em R$ 30 bilhões em 2004. O governo deve enviar ao Congresso projeto
prorrogando a alíquota do IR nos próximos dias.
Aleluia: haverá "um bocado de aumento"
O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA),
disse ser possível identificar "um bocado de aumento da carga
tributária" no Orçamento. Ele cita como exemplo o aumento
da arrecadação prevista de 22,75% do PIB em 2003 para 23,23%
do PIB:
- Temos de estudar mais detalhadamente o Orçamento, mas percebe-se
que o governo já inclui na proposta aumentos de carga tributária
que nega existir na proposta de reforma.
O vice-presidente da Comissão de Orçamento, Pauderney Avelino
(PFL-AM), disse que o Orçamento, além do aumento de carga
tributária, apresenta também uma redução nas
transferências constitucionais por repartição de receitas
se comparada ao PIB: de 3,61% em 2003 para 3,48% em 2004, sendo que havia
alcançado 3,96% do PIB em 2002.
O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior
(BA), disse que a estratégia do governo de não explicitar
no Orçamento o percentual de aumento para o servidor público
nem para o salário-mínimo revela que o governo tenta evitar
um desgaste político:
- O governo prefere esse caminho porque sabe que o aumento será
muito aquém do que prometeu o candidato na campanha. Governar é
assumir ônus, ainda mais para aqueles que passaram a vida inteira
fazendo oba-oba.
No Orçamento de 2004, o governo trabalha com uma estimativa de
inflação medida pelo IPCA de 5,5%. Este ano a previsão
era de 4% mas a inflação de 2003 deverá ficar próxima
a 8%. O crescimento do PIB está estimado em 3,5% em 2004 contra
3% previstos no Orçamento de 2003. O país deverá
crescer 1,5% este ano.
Empresários integrarão
comissão da tributária
Cristiana Lôbo* e Isabel Braga
BRASÍLIA. A emenda aglutinativa que será redigida para
incluir na reforma tributária as alterações reivindicadas
pelos governadores deverá contemplar também mudanças
defendidas pelos representantes do setor produtivo.
Dirigentes empresariais de todo país se reuniram ontem com líderes
do governo e com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), para manifestar a preocupação com o risco de aumento
da carga tributária, especialmente com a falta de um teto máximo
para a alíquota do ICMS no texto aprovado na comissão especial.
Ficou acertado que seria formado um grupo de empresários para acertar
mudanças com parlamentares e o relator Virgílio Guimarães(PT-MG).
- Estão vendo fantasmas. Não se pode pensar que toda pessoa
que compre uma faca queira matar alguém, mas se é uma preocupação,
vamos corrigi-la - disse Aldo Rebelo, líder do governo na Câmara
(PCdoB-SP).
Jorge Gerdau, presidente do grupo Gerdau, aponta quatro preocupações
dos empresários: fechar as portas para o risco de aumento da carga
tributária, assegurar a não-cumulatividade da Cofins, desonerar
os bens de produção através de leis federais, estaduais
e municipais e a certeza de que a CPMF será gradativamente reduzida
até chegar a 0,08%.
* do GloboNews.com
PFL fará protesto
contra aumento de impostos
Isabel Braga
BRASÍLIA. Bem ao estilo dos movimentos sindicalistas, o PFL vai
estrear em protestos nas ruas. O partido prepara para a próxima
semana manifestações em todo o país e na Praça
dos Três Poderes, em Brasília, para protestar contra o aumento
da carga tributária. Com o sugestivo nome de "Dia da forca",
o protesto aproveita-se da entrada em vigor, na próxima segunda-feira,
do aumento de dois impostos aprovados este ano para atacar a reforma tributária
negociada pelo governo no Congresso.
O ato na Praça dos Três Poderes, segundo o presidente nacional
do PFL, Jorge Bornhausen (SC), terá uma forca, numa alusão
ao movimento contra o aumento de impostos no período colonial,
que culminou na morte por enforcamento de Tiradentes. Nesta segunda-feira,
entram em vigor o aumento da Contribuição Sobre o Lucro
Líquido (CSLL) de 1,08% para 2,88%, que afeta profissionais liberais
e pessoas jurídicas, e o aumento de 3% para 4% na Cofins das instituições
financeiras.
- Vamos lembrar a derrama que levou à forca Tiradentes. Naquela
época eram só 20%, hoje a carga tributária já
chegou a 40%. E o governo aprovou um relatório que garante, de
11 maneiras diferentes, mais aumento nesta carga - afirmou Bornhausen.
"O projeto é péssimo e não passará"
Segundo o presidente do PFL, a prova de que o governo não conseguirá
aprovar em plenário o texto do relator Virgílio Guimarães
é a criação da comissão de negociação
com governadores e empresários:
- A criação da comissão é o reconhecimento
de que o projeto é péssimo e não passará .
O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA),
disse que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, equivoca-se ao dizer
que a reforma não traz aumento da carga tributária:
- Os tributaristas já desmentiram o ministro. Como ele é
médico, prefiro acreditar nos tributaristas.
A forca e os impostos
No início do século 18, quando a exploração
do ouro era a principal atividade econômica no Brasil, o peso dos
excessivos impostos cobrados por Portugal motivou várias revoltas.
Era a época do quinto: a coroa portuguesa ficava com um quinto
do ouro que a colônia produzia.
Em 1713, foi instituída a derrama, cobrança de impostos
extraordinários. Cresciam as revoltas contra a sangria das riquezas
do país. Foi uma derrama, aliada à influência das
idéias liberais surgidas na Europa, que motivou a Inconfidência
Mineira.
A pena para os líderes dos levantes contra os abusos dos impostos
era a forca. Foi o que aconteceu com Tiradentes, enforcado no Rio de Janeiro
em 21 de abril de 1792.
Propinoduto: mais 4
auditores são investigados pela Receita
Maiá Menezes
A Receita Federal investiga o envolvimento de mais quatro auditores
federais, lotados no Rio, na máfia do Propinoduto. De acordo com
o corregedor da Receita Federal, Moacir Leão, a relação
com os nomes foi encaminhada à Receita pela Polícia Federal
há uma semana, quando foi aberta uma investigação
preliminar em torno dos nomes. A informação, segundo Moacir
Leão, é de que eles também têm conta na Suíça.
O corregedor, que esteve ontem no Rio para entregar ao Ministério
Público Federal o relatório da auditoria que apontou um
rombo de R$ 200 milhões no Fisco, causado pela atuação
de oito auditores federais, afirmou, no entanto, que a Receita Federal
ainda não teve acesso aos extratos bancários. As investigações
antecedem a abertura de um processo na corregedoria, o que deve ocorrer
em duas semanas. O caso do propinoduto já envolve oito auditores
federais, cinco fiscais estaduais e outras cinco pessoas.
- A denúncia está muito bem fundamentada pela Polícia
Federal - disse Moacir Leão, que informou que, a partir de agora,
a Receita vai investigar os trabalhos dos fiscais e as empresas que eles
fiscalizaram.
Relatório será anexado a processo da Justiça
Federal
Moacir Leão entregou o relatório de 3,5 mil páginas
à procuradora federal Merylucy Barra, que não se pronunciou
sobre o documento. O material deverá ser anexado ao processo, em
curso na 3 Vara Federal Criminal. Com base no relatório, a Receita
Federal já abriu processo por fraude na fiscalização:
- O juiz está próximo de dar a sentença. Os documentos
e as provas trazidas pela Corregedoria chegaram em boa hora. São
elementos sólidos que podem demonstrar que havia uma organização,
comportamentos que configuram crimes e ilícitos muito graves de
corrupção contra a Fazenda Pública.
O corregedor informou ainda que a Receita Federal vai tentar reaver o
dinheiro que deixou de ser recolhido pelo fisco. De acordo com a investigação
da Corregedoria sobre as autuações feitas pelos auditores
envolvidos no escândalo, os casos mais graves (entre 1998 e 2002)
envolvem 17 grandes empresas, 15 do Rio e duas de São Paulo:
- Os tributos deixaram de ser cobrados como deviam. Vamos determinar
a reabertura de fiscalizações, para recuperar os tributos
perdidos. Temos que acabar com essa história de auditor ficar milionário
e ter empresa de consultoria. Eles têm que trabalhar a favor da
fiscalização, para aumentar a arrecadação.
Essa farra da corrupção tem que acabar. O inquérito
do propinoduto sempre tem a capacidade de surpreender, pelo gigantismo
e pelas cifras envolvidas, que são sempre milionárias.
MP estuda recurso contra decisão do TRF
O Ministério Público Federal deve decidir hoje se entrará
com recurso contra a liberdade provisória concedida anteontem,
pela 6 turma do Tribunal Regional Federal (TRF), da 2 região, ao
advogado Herry Rosemberg e ao economista Ronaldo Adler. Os dois são
sócios da empresa Coplac Consultoria, Planejamento e Promoções
Ltda, representante no BRasil do banco suíço Discount Bank
and Trust Company. Eles são acusados pelo Ministério Público
Federal de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação
de quadrilha e evasão de divisas.

|