|
terça-feira, 02 de agosto de
2003
O Globo
No Senado, emendas à reforma
da Previdência
BRASÍLIA. O governo já começou a sentir a pressão
dos senadores por mudanças no texto da reforma da Previdência
aprovado na Câmara, que desde ontem tramita na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O senador
José Jorge (PFL-PE) já apresentou sete emendas e seu partido,
articulado com PSDB e PDT, pretende apresentar mais sete de bancada. Entre
as propostas de mudança que deverão ser apresentadas está
uma emenda criando fundo de pensão complementar para cada um dos
poderes, outra acabando com o redutor de pensões, e uma estabelecendo
subteto único para os estados.
Em quatro emendas temos consenso total com PSDB e PDT, que garante
33 votos, sem contar o apoio de parlamentares de outros partidos como
PMDB e PL garantiu Agripino.
Reforma da Previdência vai à votação na
CCJ
O governo, por sua vez, deverá trabalhar para garantir a aprovação
da reforma da Previdência na CCJ sem qualquer modificação,
para a proposta não ter de voltar para a Câmara. Dos 23 integrantes
da comissão, 14 são da base governista, o que garantiria
uma maioria folgada. Caberá ao relator da proposta e líder
do PT no Senado, Tião Viana (AC), administrar a pressão
dos colegas por mudanças.
PT suspende os oito
petistas que se abstiveram de votar reforma
Ricardo Galhardo e Flávio Freire
SÃO PAULO. A comissão executiva nacional do PT decidiu
ontem suspender das atividades da bancada por dois meses os oito deputados
que se abstiveram na votação da reforma da Previdência.
Os deputados, que não tiveram direito de defesa, se reunirão
hoje ou amanhã em Brasília para decidir se recorrerão
da decisão. A executiva do PT marcou para 25 e 26 de outubro a
reunião do diretório nacional que decidirá a expulsão
de outros quatro parlamentares acusados de desrespeitar decisões
partidárias.
Foram suspensos os deputados Walter Pinheiro (BA), Chico Alencar (RJ),
Maria José Conceição, a Maninha (DF), Ivan Valente
(SP), Mauro Passos (SC), João Alfredo (CE), Paulo Rubem (PE) e
Orlando Fantazzini (SP). Os oito estão suspensos das atividades
internas da bancada e serão substituídos nos cargos que
ocupam em comissões da Câmara enquanto durar a punição,
mas continuam exercendo seus mandatos.
Antes da reunião, o secretário de Organização
do PT, Sílvio Pereira, defendia a suspensão de todas as
atividades partidárias. No caso, estariam impedidos, por exemplo,
de disputar prévias eleitorais, caso de Chico Alencar, que é
pré-candidato à prefeitura do Rio.
Grupo dos oito vai se reunir para discutir recurso
Alencar considerou o castigo duro. "A decisão foi pesada.
Revela que a maioria da direção do PT, hoje, opera com grande
liberalidade nas relações políticas na sociedade,
aliando-se até a adversários de direita, como o carlismo
e o jaderismo, mas, nas relações internas, age de forma
dura, inspirada na velha tradição do centralismo bolchevique",
disse o deputado em nota.
Ainda atordoado com a suspensão, Ivan Valente disse que pretende
reunir hoje ou amanhã em Brasília o grupo de punidos. Para
ele, o governo está jogando pesado contra os deputados que, segundo
disse, estão pagando um preço alto "só porque
são coerentes com a história do partido":
- O governo está jogando pesado e essa decisão faz parte
das contradições que o PT está vivendo como governo.
Fundador do PT e integrante do diretório nacional há 20
anos, Valente disse que a decisão de recorrer ou não ao
diretório nacional dependerá de um consenso entre os deputados
suspensos.
'Nós estamos suspensos, mas o projeto e as propostas
partidárias, não'
A nota divulgada pelo deputado Chico Alencar (PT-RJ): "A decisão
foi pesada. Revela que a maioria da direção do PT, hoje,
opera com grande liberalidade nas relações políticas
na sociedade, aliando-se até a adversários de direita, como
o carlismo e o jaderismo, mas, nas relações internas, age
de forma dura, inspirada na velha tradição do centralismo
bolchevique.
O voto abstenção - objeto também de interpretação
sectária por algumas lideranças sindicais com interesses
políticos menores - foi um não respeitoso ao projeto e uma
sinalização da disposição de diálogo
com o partido. A maioria da executiva, porém, parece preferir a
decisão vertical de rigor disciplinar.
A punição atinge, indiretamente, a CUT, a universidade,
setores importantes do serviço público e parte da militância
do próprio PT, que sempre questionaram este tipo de mudança
fiscalista na Previdência pública. Questionamento que, aliás,
ficou claro no próprio seminário sobre o tema organizado
pelo diretório nacional, em maio passado. Nosso voto expressou
a opinião destes segmentos. Não cogitamos sair do PT e continuaremos
construindo o partido, na linha histórica forjada nesses 23 anos.
Nós estamos suspensos, mas o projeto e as propostas partidárias,
não. Amanhã, em Brasília, decidiremos quanto ao recurso
ao diretório nacional."
'A atitude dos parlamentares violou
a disciplina e a fidelidade partidárias'
A resolução da executiva do PT: "1) Considerando que
o diretório nacional do PT, em reunião realizada nos dias
12 e 13 de julho, aprovou diretriz a ser cumprida, com fechamento de questão,
por todos os parlamentares da bancada no Congresso Nacional na aprovação
das reformas da Previdência e tributária, 'estabelecendo
a obrigatoriedade do voto nas PECs 40 e 41, nos termos definidos pelo
governo, sem prejuízo de negociação de emendas';
2) Considerando que o diretório nacional delegou à executiva
e às bancadas a definição dos pontos a serem negociados
e que resolveu, ainda, que na medida em que as reformas da Previdência
e tributária envolvem apenas questões de natureza política
e técnica, não se aplica, neste caso, o disposto no §
2º do artigo 67 do Estatuto do Partido, relativo à dispensa
do cumprimento de decisão coletiva motivada por 'grave objeções
de natureza ética, filosófica ou religiosa, ou de foro íntimo';
3) Considerando que a executiva e a bancada petista na Câmara reiteraram
o fechamento de questão, estabelecendo a obrigatoriedade do voto
para todos os parlamentares; 4) Considerando que, durante a votação
da reforma da Previdência em primeiro turno de votação
na Câmara, oito parlamentares, Walter Pinheiro, Chico Alencar, Maria
José Conceição (Maninha), Ivan Valente, Mauro Passos,
João Alfredo, Paulo Rubem e Orlando Fantazzini, se abstiveram da
votação do texto principal, e que, no segundo turno de votação,
Walter Pinheiro votou contra o texto principal e os parlamentares repetiram
o gesto de abstenção; 5) Considerando que a atitude dos
parlamentares citados constitui violação da disciplina e
da fidelidade partidárias nos termos definidos pelos artigos 209
e 211 do Estatuto do PT; 6) Considerando que o parágrafo 3 do Artigo
211 combinado com o parágrafo 8 do artigo 210 autoriza a comissão
executiva a adotar medidas disciplinares previstas no mesmo artigo em
caso de descumprimento pelos filiados parlamentares de decisão
relativa a 'fechamento de questão'; a comissão executiva
do diretório nacional do PT, com base nestes considerandos e no
previsto pelo artigo 211 do Estatuto do partido, resolve: aplicar a pena
de desligamento temporário da bancada, pelo prazo de 60 dias, aos
oito deputados acima citados, com suspensão do direito de voto
nas reuniões internas e a proibição de representar,
durante aqueles 60 dias, a bancada do partido."
Radicais do PT anunciam novo partido
Ciça Guedes
Numa reação ao que classificam de"expulsão
branca" - o adiamento da decisão do PT sobre a expulsão
dos parlamentares que votaram contra a reforma da Previdência -
os deputados petistas João Batista Babá (PA), João
Fontes (SE) e Luciana Genro (RS) anunciaram ontem no Rio a criação
de um novo partido de esquerda, o Partido dos Trabalhadores Socialistas,
PTS. O objetivo é aglutinar as forças de esquerda e os militantes
descontentes com o PT. Em nota, eles dizem que estão atendendo
ao chamado do PSTU para a criação de um novo partido.
Apesar do anúncio e de preverem que até o fim do próximo
ano a nova sigla terá cerca de 20 deputados federais, os dissidentes
disseram, porém, que não sairão do PT até
que o diretório nacional do partido se pronuncie.
- A reunião do diretório que deveria acontecer em setembro
foi adiada para outubro, numa manobra suja. A direção do
PT quer que a gente se retire, para evitar o desgaste da expulsão,
e também quer evitar que a senadora Heloísa Helena concorra
à prefeitura de Maceió - disse Luciana Genro, referindo-se
ao fato de que a senadora terá que se decidir até o começo
de outubro.
A comissão de ética criada para apurar o caso dos radicais
decidiu votar seu parecer no dia 20 de outubro e, na ata da reunião
de ontem, nega que o adiamento seja uma manobra para prejudicar Heloísa.
Os três disseram, porém, que seguirão a senadora
caso ela decida aceitar o convite do PSTU para concorrer pelo partido
nas eleições de Alagoas.
- Isso não significa que iremos nos filiar ao PSTU, mas significa
que deixaremos o PT - disse Babá.
Fontes apelou aos deputados petistas do Rio para que votem contra a reforma
tributária.
- O Rio, assim como Sergipe, perde muito por causa do ICMS do petróleo
- disse.
Os radicais participaram de uma reunião com simpatizantes na Uerj.
"A maioria dos filiados apóia os rumos do governo do PT"
O presidente do PT, José Genoino, disse que já sabia do
novo partido, mas não que não faria uma avaliação.
- Desejo que a opção seja coerente. O PT disse o que queria
aos parlamentares. Eles estão fazendo uma opção e
não cabe a mim avaliá-la. A maioria dos filiados e da população
brasileira apóia os rumos do governo do PT.

|