quarta-feira, 03 de agosto de 2003
O Globo
Um dia antes de votar reforma, Lula
promete cargos ao PMDB
Adriana Vasconcelos, Bernardo de la Peña e Cristiana
Lôbo*
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu
ontem, segundo peemedebistas, antecipar para outubro a reforma ministerial
que deverá garantir pelo menos duas vagas ao PMDB no primeiro escalão.
A promessa de reavaliação do desempenho dos ministros, com
a substituição dos que não mostrarem eficiência,
foi feita na véspera da votação da reforma tributária,
para a qual os votos do PMDB serão fundamentais.
Durante almoço ontem com a cúpula peemedebista, Lula não
chegou a escolher as pastas que deverão ser oferecidas ao partido,
mas pediu que o PMDB já comece a preparar uma lista com possíveis
candidatos ao cargo de ministro. Há três semanas, Lula disse
que só faria a reforma depois de um ano de governo.
- Com dez meses já se pode fazer uma avaliação do
governo e perceber quem deu certo ou não - disse o presidente aos
peemedebistas.
No PMDB, nomes de parlamentares já entraram na lista de possíveis
candidatos a ministro. Um é o líder do partido na Câmara,
Eunício Oliveira (CE), que teria dito não estar disposto
a aceitar o convite. Sua saída da liderança não é
vista com bons olhos pelos governistas, que temem perder um interlocutor
com bom trânsito na bancada.
Se o líder do PMDB na Câmara estiver realmente fora do páreo,
os deputados Osmar Serraglio (PR) e Gustavo Froid (PR), ligados ao governador
Roberto Requião (PMDB), entram na disputa. Se o ministério
oferecido pelo governo for o das Comunicações, o senador
Hélio Costa (MG) está entre os cotados.
Mas Lula deixou claro também que não pretende mexer de
forma alguma no núcleo duro do governo - Antonio Palocci (Fazenda),
José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo).
Segundo os peemedebistas, o presidente disse, em tom de queixa, que há
partidos na base que têm mais espaço no governo do que o
correspondente apoio no Congresso.
PMDB pode rever indicação de Luiz Otávio para
TCU
A indicação do senador Luiz Otávio (PMDB-PA), que
responde a processo por desvio de verbas públicas, para o Tribunal
de Contas da União poderá ser revista. A indicação
do PMDB causou desconforto na cúpula do governo, que quer o partido
na base. Na reunião de ontem com a cúpula do PMDB, coube
ao chefe da Casa Civil, José Dirceu, e ao líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), tocar no assunto delicado. Renan
Calheiros, líder no Senado, disse que a saída seria Luiz
Otávio renunciar antes da votação de sua indicação
pelo Senado.
COLABORARAM Ilimar Franco e Cristiane Jungblut
(*) Do GloboNews.com
Governo tenta dividir
estados para votar reforma
Ilimar Franco e Valderez Caetano
BRASÍLIA. O governo decidiu medir forças com os governadores
e os partidos de oposição e vai votar hoje a reforma tributária
em primeiro turno no plenário da Câmara. Para garantir a
votação, os líderes apostaram na divisão dos
governadores e acenaram com o atendimento de propostas de empresários
e prefeitos. Determinado a votar sem mais demora, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva baixou ontem medida provisória revogando a MP 124,
sobre a estruturação da Agência Nacional das Águas,
provocando duro protesto do líder do PSDB, Jutahy Magalhães
(BA), que acusou o governo petista de truculência.
Foi a primeira vez que o presidente Lula editou uma MP revogadora. No
governo Fernando Henrique foram 22 vezes.
"Aécio não controla a bancada de Minas"
Ontem à noite, reunidos no gabinete do líder do governo
na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), os aliados concluíram
que, na pior das hipóteses, terão 330 votos, 22 a mais do
que os 308 necessários para aprovar emendas constitucionais.
Durante todo o dia as reuniões se sucederam. O relator, deputado
Virgílio Guimarães (PT-MG), reuniu-se separadamente com
empresários, sindicalistas, governadores e prefeitos. O clima foi
tenso, sobretudo pela ameaça feita no dia anterior pelos governadores
Aécio Neves (PSDB-MG) e Germano Rigotto (PMDB-RS), de que eles
iriam obstruir a votação se as negociações
não avançassem. Os governistas ficaram irados. O vice-líder
Professor Luizinho (PT-SP) atacou Aécio ao ser informado que ele
tentava articular nova reunião com Lula:
- O Aécio não fala por todos e nem controla a bancada de
Minas. O relator é de Minas e não vai deixar de votar.
Aécio respondeu à altura:
- O que não tem faltado é o diálogo, para o qual
tenho interlocutores mais qualificados.
Depois da atuação conjunta durante a maior parte das negociações
da reforma, os governadores dividiram-se ontem. Os dos estados mais desenvolvidos,
Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Aécio, pressionaram para retirar do
texto a previsão de um período de transição
para mudar a cobrança do ICMS da origem para o destino. Mas no
final do dia, depois de uma reunião com os líderes aliados,
Guimarães anunciou transição de 11 anos. Os líderes
acertaram ainda que o teto do imposto sobre herança ficará
entre 12% e 15%, superior os atuais 4% do valor dos bens herdados.
O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), disse
que o encontro entre dez governadores e os ministros José Dirceu
(Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) foi uma ducha de água
fria na relação entre eles e o presidente. Para ele, a tendência
é que não seja fechado um acordo e que os estados mobilizem
suas bancadas para votar contra a reforma.
- Saio pessimista e frustrado - disse Cássio, que ironizou a postura
irredutível dos ministros, que insistiam em que o governo iria
pôr o texto em votação hoje. - Batman e Robin estavam
afinados - brincou.
Já a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), recebida por
Dirceu separadamente depois do grupo, saiu animada. Ela reivindica que
a cobrança do ICMS sobre o petróleo seja feita no estado
de origem.
Os empresários saíram satisfeitos do encontro com o relator.
Guimarães e os líderes deram sinal verde para as propostas
de limitar a alíquota do ICMS a um teto de 25%, criar um teto para
a progressividade do Imposto de Transmissão de Bens (ITBI), tornar
facultativa a progressividade do imposto sobre herança, condicionar
a criação de empréstimos compulsórios à
lei complementar e criar uma transição para mudar a cobrança
da contribuição previdenciária da folha de pagamento
para o faturamento.

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