terça-feira, 09 de setembro
de 2003
O Globo
Governo tenta dividir oposição
para votar reforma
Valderez Caetano
BRASÍLIA. A base do governo na Câmara tenta hoje derrubar
a manobra do PFL, que transformou em emendas aglutinativas - de votação
mais demorada - as 40 emendas comuns apresentadas pelo partido ao projeto
da reforma tributária. Os governistas vão tentar provar
que a medida fere o regimento interno da Câmara. Com isso, o presidente
da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), deve derrubar as 40
emendas e votar apenas seis destaques da oposição. Para
tentar dividir a oposição e conseguir parte dos seus votos,
os governistas dão sinais de que poderão aceitar emendas
do PSDB, o que isolaria o PFL nas votações.
- Podemos aceitar pontos que não alterem as características
do projeto e que tragam o PSDB para a mesa de negociações
- disse o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).
Um dos pontos que estão em negociação amplia o alcance
do dispositivo que cria um sistema especial de tributação
para as microempresas. Os tucanos querem que fique mais claro na Constituição
que as mesmas regras válidas para os impostos federais também
sejam ampliadas para os impostos estaduais e municipais.
Segundo o vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB-RS), a única
alteração que poderá ser feita no texto é
sobre a ampliação do Simples, regime tributário das
micro e pequenas empresas. O PSDB já pediu mudanças no Simples.
Alckmin é contra transição para cobrança
de ICMS
A maior polêmica se refere ao pedido do governador Geraldo Alckmin
(PSDB-SP), que quer a retirada do artigo que estabelece transição
de 11 anos para a mudança de cobrança do ICMS da origem
para o destino. São Paulo acha que, como grande exportador, terá
grandes perdas com a mudança. Mas isso poderá desagradar
à governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), defensora da transição.
- São Paulo quer a retirada do artigo para que depois ele seja
mais bem definido no Senado. Em princípio o governo não
tem nada contra - disse o vice-líder do governo, Professor Luizinho
(PT-SP).
- Antes da aprovação do projeto oferecemos à oposição
mudar o ICMS e eles não se manifestaram. Agora é preciso
ver se os governadores do Nordeste, que querem a transição,
concordam com a retirada do artigo - desconversou Paulo Bernardo.
Ontem o presidente da Confederação Nacional dos Municípios
(CNM), Paulo Ziulkoski, disse que se os municípios não tiverem
uma participação maior no bolo tributário, a situação
se agravará. Segundo ele, cerca de 70% das 5.560 prefeituras do
país podem chegar no fim deste ano sem dinheiro para pagar o 13
salário dos servidores. Ele anunciou que na quarta-feira os prefeitos
farão uma nova manifestação em Brasília para
pressionar por mudanças.
Mas segundo Professor Luizinho, os prefeitos já tiveram muitos
ganhos. Ele lembrou que as prefeituras conseguiram o repasse de 6,25%
da arrecadação da Cide:
- Os prefeitos sabem que já foram atendidos em muito em suas reivindicações.
O governo confia que até o fim da semana que vem aprova todos
os destaques e, na semana seguinte, a reforma tributária segue
para o Senado.
COLABOROU Bernardo de la Peña
Governo Lula começa
a dar cargos ao PMDB
Ilimar Franco
BRASÍLIA. Depois do expressivo apoio do PMDB na votação
da reforma tributária, o governo Lula retomou as nomeações
políticas, desta vez de peemedebistas para cargos federais. Ontem,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o jornalista mineiro
Francisco de Oliveira Filho para uma das diretorias da Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT), atendendo à reivindicação
do PMDB de Minas Gerais encaminhada pelo vice-líder do governo
no Senado, Hélio Costa (PMDB-MG).
Líderes do PMDB dizem acreditar que a Casa Civil deverá
publicar ao longo da semana outras nomeações de peemedebistas
no Diário Oficial, até chegar nos ministérios, depois
de concluídas as votações das reformas.
- Francisco de Oliveira é tesoureiro da Fundação
Ulysses Guimarães em Minas Gerais e foi superintendente de Comunicação
da Centrais Elétricas de Minas Gerais. Seu nome tem o apoio do
partido e foi encaminhado por mim - disse Hélio Costa.
O peemedebista, que é também publicitário, terá
agora que passar por uma sabatina no Senado. Os senadores têm o
poder de aprovar ou não sua nomeação para um cargo
que lhe garante um mandato de cinco anos. Ele vai substituir Reinaldo
Alves Costa Neto, cuja mandato vai até fevereiro de 2007. Sua escolha
representou uma vitória dos senadores governistas do PMDB sobre
os governistas da Câmara, que haviam sugerido para o mesmo cargo
a ex-deputada Ana Catarina Alves (RN), irmã do deputado Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN).
Uma das nomeações mais aguardadas é a do ex-deputado
e ex-ministro dos Transportes João Henrique (PI) para uma diretoria
dos Correios.
Corrida do PMDB em busca de um ministério
A promessa do presidente Lula de que o partido ocupará ministérios
na reforma que será feita no fim do ano está provocando
uma verdadeira corrida no partido. Tudo indica que a bancada da Câmara
fará um ministro e que o escolhido será o seu líder,
deputado Eunício Oliveira (CE). Vários parlamentares já
são candidatos para substituí-lo na liderança, entre
eles os deputados Mendes Ribeiro (RS), Osmar Serraglio (PR), José
Borba (PR) e Barbosa Neto (GO).
Mas uma parcela da bancada começou a pedir que o cargo seja acumulado
pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).
Mesmo sem saber ainda quais os cargos que serão destinados ao
PMDB, entre os senadores do partido há vários candidatos
para o ministério. O líder do governo no Congresso, Amir
Lando (PMDB-RO), o ex-tucano e neopeemedebista Romero Jucá (PMDB-RR)
e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), são os nomes mais
citados. Renan voltou a ser um nome forte na medida que comandará
a bancada do partido no Senado nas votações das reformas
da Previdência e tributária.
Tributária já
causa disputa no Senado
BRASÍLIA. A reforma tributária, em votação
na Câmara, já virou alvo de acirrada disputa entre governo
e oposição no Senado. No meio da briga está o senador
Edison Lobão (PFL-MA), presidente da Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ) e, em tese, responsável pela escolha do
relator da reforma. O PFL, partido de Lobão, reivindicou a indicação
do relator.
Do outro lado, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP),
também foi explícito: quer o projeto nas mãos de
um senador governista. O pedido de Mercadante tem apoio do presidente
do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aliado número um do governo
e chefe do grupo político ao qual Lobão é ligado
no Maranhão.
O PFL tem a segunda maior bancada do Senado, depois do PMDB, e já
tem o nome para relatar a reforma, o senador baiano Rodolpho Tourinho.
Ele é suplente na CCJ, mas esta semana passa a titular, trocando
de posição com o senador Antonio Carlos Magalhães
(BA).
O partido tem feito da reforma tributária sua maior bandeira,
com críticas severas às propostas do governo, que acusa
de aumentar o peso dos impostos na economia e no bolso do cidadão.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), e o líder do partido,
Agripino Maia (RN), apertaram Lobão na semana passada, sem deixar
espaço para tentativas de argumentação:
- Você é presidente da CCJ porque é do PFL. A vaga
é do partido.
O líder petista foi direto:
- Você não é presidente da CCJ do PFL. É da
CCJ do Senado. O governo não pode abrir mão dessa relatoria.
Você precisa compreender e não há acordo sobre isso
- disse Mercadante, admitindo apenas que o escolhido não seja um
petista, mas seja necessariamente um senador aliado.
Líder do PT e relator da reforma da Previdência, o senador
Tião Viana (AC) chegou a sugerir ontem o nome do senador Fernando
Bezerra (PTB-RN). Ex-presidente da Confederação Nacional
da Indústria (CNI), o senador é adversário declarado
da CPMF.
As pressões sobre Lobão também partem de Sarney,
que gostaria de ter como relator um senador do PMDB, e de governadores,
que defendem mudanças profundas no texto. Um dos nomes cotados
é o de Romero Jucá (RR), que entrou no PMDB vindo do PSDB.

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