Quinta-feira, 11 de setembro de 2003
O Globo
Com PSDB, governo vence de novo na tributária
Valderez Caetano
BRASÍLIA. Sem acordo com o PFL, o governo obteve apoio do PSDB
e conseguiu derrubar em bloco, por 346 votos a favor e 97 contra, mais
de 600 destaques da oposição à reforma tributária,
permitindo a aprovação da emenda aglutinativa por 370 votos
a 44 e uma abstenção. A derrota do PFL permitiu ao presidente
da Câmara, João Paulo Cunha, iniciar a votação
da emenda aglutinativa negociada entre partidos da base e o PSDB, que
incluiu reivindicações dos tucanos e da governadora do Rio,
Rosinha Matheus. A base aliada tentou até a última hora
fechar com o PFL um acordo de procedimento que garantisse maior rapidez
nas votações dos destaques, mas esbarrou na resistência
do líder do partido, José Carlos Aleluia.
O PFL estava só ganhando tempo para depois obstruir
disse o vice-líder do governo Paulo Bernardo (PT-PR).
PSDB garante R$ 1,2 bi para São Paulo
A maior vitória foi do PSDB paulista, que conseguiu para seu estado
a garantia de R$ 1,2 bilhão para ressarcimento da desoneração
pelo ICMS das vendas de bens de capital. A bancada paulista também
conseguiu garantir na Constituição que não será
cobrada alíquota inferior a 4% para o ICMS, quando acabar a transição
de 11 anos para mudança da cobrança da origem para o destino.
O entendimento com o PSDB é a coisa mais normal do mundo.
Se você perguntar quem ganhou, a Amazônia vai dizer que ganhou
pela prorrogação dos incentivos da Zona Franca. Minas vai
dizer que ganhou devido à participação no fundo de
desenvolvimento regional. Todos ganharam disse o líder do
governo, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
A estratégia montada pela base aliada para neutralizar a obstrução
do PFL deu certo. Os governistas usaram o regimento interno para derrubar
as emendas aglutinativas da oposição. Segundo o governo,
elas já haviam sido apresentadas pelos partidos aliados.
Durante a votação dos destaques, os prefeitos de fora do
plenário gritavam palavras de ordem, o que estimulou os parlamentares
do PFL a redobrarem as críticas e não abandonar o plenário
de votações como haviam feito no primeiro turno da votação
da reforma.
O governo está usando a Câmara para passar um placebo
(remédio que não tem princípio terapêutico).
O projeto só tem dois elementos ativos: a DRU (Desvinculação
dos Recursos da União), que retira a obrigação de
investir do social, e a prorrogação da CPMF protestou
Aleluia.
COLABOROU Bernardo de la Peña
A emenda votada
AMPLIAÇÃO DO SIMPLES: Fica ampliado o programa de
tributação simplificada do governo federal para estados
e muncípios. Os empresários terão um único
procedimento no pagamento de impostos federais, estaduais e municipais.
A medida está sendo chamada de SuperSimples.
AMPLIAÇÃO DE ABRANGÊNCIA DO FUNDO DE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL: Inclusão do Vale do Jequitinhonha, região
pobre de Minas Gerais, e do Noroeste do estado do Rio de Janeiro entre
os beneficiários do Fundo de Desenvolvimento Regional, ao lado
das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e do Espírito
Santo. O fundo será formado por 2% do IPI e 2% do Imposto de Importação.
TRANSIÇÃO DO PAGAMENTO DO ICMS: As regras de transição
para a passagem da cobrança do ICMS da origem para o destino serão
mais detalhadas na Constituição. O prazo de carência
para o início da transição, que vai durar 11 anos,
aumenta de três para quatro anos. Para atender São Paulo,
que teme perdas com a arrecadação do ICMS, o governo aceitou
fixar na Constituição que a alíquota do ICMS, quando
terminar a transição de 11 anos, será de 4%. Como
estado produtor, São Paulo temia que alíquotas próximas
a zero dessem prejuízo para o estado.
COMPENSAÇÃO PARA DESONERAÇÃO DOS BENS
DE CAPITAL: Garantia de que o estado de São Paulo terá
o ressarcimento da isenção do ICMS nas vendas de bens de
capital. Dos R$ 2,4 bilhões que o fundo das exportações
destinar a cobrir perdas nos bens de capital R$ 1,2 bilhão irá
para São Paulo.
Prefeitos
protestam com apoio do PFL
Valderez Caetano e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. A pressão por mudanças na reforma tributária
ontem partiu de quase sete mil representantes dos municípios, entre
prefeitos e vereadores, que fizeram uma marcha na Esplanada dos Ministérios
e depois lotaram os corredores do Congresso Nacional. Eles tentam conseguir
do governo federal mais R$ 5 bilhões, além dos R$ 3,7 bilhões
que os municípios já ganharam com a reforma. O movimento,
organizado pela Confederação Nacional dos Municípios
(CNM), é formado em sua maioria por representantes do PMDB, aliado
do governo, e teve o apoio do PFL.
Os prefeitos pedem maior participação no bolo de arrecadação
de impostos. Eles querem que o percentual de repasse de verbas federais
salte dos atuais 14% para 19% como era em 1988. Os líderes do movimento
tentaram um acordo que aprovasse uma emenda aglutinativa elevando de 22%
para 27,5%, o repasse do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
e do Imposto de Renda para os municípios, através do Fundo
de Participação.
Prefeitos provocam tumulto ao tentar entrar no plenário
As negociações esbarraram na resistência do governo
que alegou não poder abrir mão de receitas superiores aos
R$ 5 bilhões de repasses já previstos. À tarde, os
prefeitos provocaram um grande tumulto no salão verde da Câmara,
ao tentar de entrar no plenário onde era votada a emenda aglutinativa
que beneficiava os municípios. Eles enfrentaram os seguranças.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), teve que
abandonar o plenário e acalmar o grupo. Mas as maiores agressões
verbais foram contra o líder do governo, professor Luizinho (PT-SP),
que na véspera afirmara que os municípios que vivem dos
repasses do Fundo de Participação deveriam acabar.
Seu transgênico! Traidor do trabalhador! Pelego!
gritavam os prefeitos.
No Senado, os prefeitos tiveram mais sucesso. Conseguiram entrar, conduzidos
pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), driblando a segurança.
O pefelista teve ajuda da senadora petista Heloísa Helena (PT-AL).
A marcha começou na Catedral de Brasília e foi para o Congresso.
Os prefeitos foram recebidos pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB) e o presidente
do PFL, Jorge Bornhausen (SC).
No fim do dia, uma comissão de prefeitos foi recebida pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. O coordenador-geral
da Frente Nacional de Prefeitos, o petista Marcelo Déda, disse
que não houve avanço nas negociações e que
o governo prometeu apenas continuar as negociações com os
municípios quando a reforma tributária for votada no Senado.
O presidente Lula não nos deu nenhuma garantia, mas também
não fechou as portas. Ele disse que não poderia fazer promessas,
mas disse que até a promulgação da emenda é
tempo de negociar. E, quando chegar ao Senado, vai discutir com os prefeitos
disse Déda.
O presidente da Frente Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski,
afirmou que o presidente Lula garantiu que as negociações
não estão fechadas.
O presidente disse: vamos quebrar a cabeça a partir de
hoje para encontrar uma solução disse.

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