Terça-feira, 16 de setembro
de 2003
O Globo
Lula afirma que aumentar carga tributária
seria uma insanidade
Carter Anderson
Em resposta às críticas de que a reforma tributária
aumentará a carga de impostos, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva afirmou ontem que o objetivo do governo é desonerar
a produção e que seria uma insanidade mandar ao Congresso
um projeto que elevasse ainda mais o volume de tributos. Na cerimônia
de abertura do congresso da Associação Brasileira de Supermercados
(Abras), no Riocentro, ontem de manhã, Lula abandonou o discurso
escrito e falou de improviso para a platéia de empresários
com a preocupação de afastar o temor de que haverá
aumento de impostos.
Algumas pessoas tentam falar que a política tributária
vai aumentar a carga de impostos neste país. Ora, seria, primeiro,
uma insanidade uma pessoa que fez uma campanha criticando o aumento da
carga tributária de 25% para 36% propor aumento. Depois, seria
uma insanidade os 27 governadores concordarem com o aumento da carga tributária
afirmou Lula.
Presidente da Abras critica projeto da reforma tributária
Minutos antes, o presidente da Abras, José Carlos de Oliveira,
criticara em seu discurso a reforma em tramitação no Congresso.
Segundo Oliveira, os empresários estão muito preocupados
porque estudos técnicos mostram que o projeto elevará a
carga tributária.
Quem produz não suporta pagar tantos impostos disse
Oliveira.
O presidente negou em seguida qualquer possibilidade de que esse temor
se concretize.
A reforma tributária só tem sentido se for para
desonerar a produção e as exportações
afirmou o presidente. Estou convencido de que estamos aprovando
uma política tributária no Congresso Nacional que vai ajudar
e muito o crescimento da economia brasileira e vai fazer justiça
fiscal neste país.
Lula mostrou-se tranqüilo com a tramitação do projeto
de reforma tributária no Senado. Ele disse que há na Casa
22 ex-governadores e pelo menos nove ex-ministros que, em sua opinião,
conhecem bem o assunto.
São pessoas das mais experimentadas em política
tributária, que ali poderão fazer todas as correções
que se fizerem necessárias para que a gente tenha uma proposta
justa, inclusive com a desoneração da cesta básica
disse Lula.
Em vários momentos de seu discurso, Lula voltou ao assunto e frisou
a importância de se desonerar os produtos da cesta básica,
diante de uma platéia composta em grande parte por atacadistas
de alimentos. O presidente chegou a brincar, comparando a tributação
do leite e do uísque.
Do jeito que é hoje, não é justo a pessoa
pagar imposto no feijão ou no leite. Às vezes o leite é
tratado como se fosse uísque. Eu, particularmente, não tenho
nada contra uísque, se for bebido moderadamente disse Lula,
arrancando risos da platéia.
Se depender de cada estado, não terá reforma
Para evitar um confronto de interesses entre os estados que inviabilizasse
a reforma tributária, Lula disse que primeiro reuniu-se com os
governadores e obteve deles um compromisso político a favor do
projeto. Só depois, afirmou, os secretários de Fazenda foram
procurados para a discussão de aspectos técnicos:
Se depender do interesse de cada estado, não terá
reforma tributária nunca.
Lula também defendeu o programa Fome Zero, sem citar o presidente
do PPS, Roberto Freire (PE), que anteontem classificara o projeto de equivocado
e assistencialista:
O mais importante no combate à fome não é
separar iniciativas emergenciais daquelas que atacam as causas do problema.
Ambas são prioritárias e por uma razão elementar:
amanhã os famintos de hoje simplesmente estarão mortos.
Nessa batalha, a urgência do presente é um requisito para
o futuro.
Acompanharam Lula no congresso os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento),
Cristovam Buarque (Educação), Jacques Wagner (Trabalho),
Miro Teixeira (Comunicações) e José Graziano (Segurança
Alimentar), além do secretário da Pesca, José Fritsch.

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