Quinta-feira, 18 de setembro de 2003
O Globo
Câmara encerra 1 turno de votação
da reforma tributária após 3 semanas
Isabel Braga
BRASÍLIA. Após ferrenha obstrução comandada
pelo PFL, que arrastou a votação por três semanas,
o governo conseguiu aprovar ontem em primeiro turno a reforma tributária
na Câmara. Os líderes governistas comemoraram com papel picado
a derrubada de sete emendas aglutinativas no início da noite, mas
terão de enfrentar nova batalha para aprovar a emenda em segundo
turno na próxima semana.
O PFL promete usar novamente todos os artifícios regimentais para
atrasar por pelo menos duas semanas o envio do projeto ao Senado, onde
também trabalhará para modificar os termos da proposta do
governo. O vice-líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), garante
que o poder de obstrução no segundo turno é bem reduzido
e que a reforma será concluída até quinta-feira:
Estamos fazendo acordo com o PSDB e vamos procurar o Prona. Talvez
só tenhamos os três destaques disse ele.
Petista acusa PFL de faltade responsabilidade
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA) comemorou
a vitória de ontem:
Esse governo aprovou em oito meses o que o governo anterior não
conseguiu aprovar em oito anos. Essa é uma reforma necessária
para o país e o PFL não agiu como oposição
e sim com falta de responsabilidade.
O governo não deveria comemorar vitória antes da
hora. Para concluir as reformas é necessária a aprovação
nas duas casas rebateu o vice-líder do PFL, Antonio Carlos
Magalhães Neto (BA).
Ontem ele ainda tentou negociar com o governo a aprovação
de emenda relativa a benefícios fiscais, a chamada emenda Ford.
Segundo essa emenda, não se aplicaria a transição
da alíquota interestadual do ICMS a incentivos concedidos por governos
a empresas que se instalaram no estado. Isso beneficiaria a Bahia que
ofereceu incentivos fiscais à Ford.
Parlamentares de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul foram contrários
à medida, alegando que traria prejuízos aos estados consumidores
dos produtos fabricados em estados que garantiram os benefícios.
Não foi possível garantir esse acordo aqui, mas,
no Senado, a correlação de forças é bem diferente.
Os estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste somam 60
senadores avisou Antonio Carlos Neto.
Entre os destaques que o PFL poderá apresentar está o fim
da transição da cobrança do ICMS da origem para o
destino, que teria o apoio de parte da bancada do PSDB. O deputado Walter
Feldman (PSDB-SP) afirmou que o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin, apóia a idéia de retirar do texto esse ponto, mas
a bancada tucana do Rio é a favor da transição.
Emendas foram rejeitadas em menos de duas horas
A sessão de ontem teve ritmo acelerado. Com a oposição
precisando de 308 votos para aprovar, as sete emendas foram rejeitadas
em menos de duas horas. O presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP), esperava apenas a confirmação de que 308
deputados haviam votado para avisar que encerraria a votação
das emendas.
Certos de que não teriam os votos suficientes para mudar o texto,
os pefelistas cumpriram o acordo de procedimento e não prejudicaram
o andamento da sessão:
Suspendemos a obstrução hoje, mas vamos voltar com
carga total no segundo turno. Vamos obstruir aqui e sabemos que essa reforma,
que é péssima, será totalmente modificada no Senado.
afirmou o líder do partido, José Carlos Aleluia
(BA).
João Paulo acredita que será possível concluir a
votação do segundo turno no dia 24 e remeter a proposta
ao Senado no dia seguinte.
Rosinha sofre nova derrota
BRASÍLIA. A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), sofreu
novo revés ontem na comissão especial da reforma tributária.
O acordo que garantia ao fim de 11 anos que estados produtores de energia
elétrica e petróleo ficassem com 4% da arrecadação
do ICMS pela venda dos produtos foi quebrado no último minuto.
Os deputados do PMDB e da bancada do Rio na comissão especial foram
surpreendidos com a mudança durante a votação da
redação final que será votada no segundo turno. A
redação final da emenda da reforma foi aprovada, mas com
11 votos contrários dos peemedebistas e dos deputados do Rio que
integram a comissão e se sentiram traídos.
Pelo acordo, firmado pelo líder do PMDB na Câmara, Eunício
Oliveira (CE), a pedido da governadora, depois dos 11 anos da transição
da cobrança do ICMS da origem para o destino as alíquotas
interestaduais do petróleo e energia seriam de 4%, como as dos
demais produtos. O texto apresentado ontem pelo relator Virgílio
Guimarães (PT-MG) transfere ao Senado a tarefa de fixar essa alíquota,
num percentual máximo de 4%. Sem a garantia no texto, isso pode
acontecer ou não.
Berzoini admite mudar subteto no Senado
Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. O relator da reforma da Previdência no Senado,
Tião Viana (PT-AC), cumpriu à risca a orientação
do governo e apresentou ontem um relatório sem qualquer alteração
para ser votado no plenário. Em depoimento na Comissão de
Assuntos Sociais (CAS), o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini,
admitiu pela primeira vez que, na votação em plenário,
pode ser modificado o subteto para o funcionalismo nos estados.
Ao se comprometer a discutir mudanças em pelo menos três
pontos do texto aprovado na Câmara além do subteto,
a flexibilização das regras de transição e
a ampliação da isenção da contribuição
de inativos o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), conseguiu que o PSDB e o PFL suspendessem o processo de obstrução
deflagrado semana passada.
Se o subteto é o que está no texto ou é outro,
podemos avaliar declarou Berzoini.
No relatório da Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ), o relator apresentou apenas uma emenda de redação
ao texto já aprovado pela Câmara. Antes de finalizar seu
relatório, Viana pretendia consultar os cinco governadores nomeados
para representar as regiões do país Aécio
Neves (MG), Wilma Faria (RN), Germano Rigotto (RS), Eduardo Braga (AM)
e Marconi Perillo (GO) sobre mudanças defendidas pelos senadores.
Mas nenhum deles compareceu à audiência pública convocada
pela CAS. Diante do bolo dos governadores, o relator da reforma optou
por manter o texto da Câmara, prometendo incluir em plenário
as mudanças que venham a ser acordadas com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e os 27 governadores.
Votação deve começar na próxima quinta-feira
O líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), disse ontem que o
partido exigirá a inclusão de algumas mudanças no
texto antes da votação na CCJ.
Não vamos votar no escuro justificou o pefelista.
Além de cobrar do governo mudanças no subteto dos estados,
nas regras de transição e a ampliação da isenção
da contribuição previdenciária para inativos com
mais de 70 anos ou doença grave, o PFL vai apresentar destaques
sobre outras temas. O partido pretende disputar no voto, por exemplo,
uma emenda de aumento da idade da aposentadoria compulsória para
75 anos.
Com o pedido de vistas de cinco sessões concedido pelo presidente
da CCJ, senador Edison Lobão (PFL-MA), e prazo de mais um dia solicitado
por Viana para analisar novas emendas que venham a ser apresentadas, a
expectativa é de que reforma só comece a ser votada na comissão
na próxima quinta-feira.

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