Terça-feira, 30 de setembro
de 2003
O Globo
PF e Receita: briga no aeroporto de
SP
Ricardo Galhardo
SÃO PAULO. O desentendimento que resultou na suposta ameaça
de morte, por parte de policiais federais, ao auditor da Receita Federal
Antonio de Souza Coelho e agressões ao segurança Sandro
Arenda Ferreira, no Aeroporto de Cumbica, no dia 11, é conseqüência
de uma crise iniciada há pelo menos cinco anos. Hoje, o presidente
do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) em Guarulhos,
Renato Augusto da Gama e Souza, vai a Brasília entregar aos ministros
da Fazenda, Antonio Palocci, e da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, um relatório denunciando os atritos entre as instituições
desde 1998.
A administração do Aeroporto de Cumbica soube dos desentendimentos
quase três meses antes da briga. Os auditores levantaram a suspeita
de estarem sendo grampeados, hipótese negada pelo inspetor-substituto
João Figueiredo.
No último dia 11, auditores e agentes da PF foram avisados pela
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que um italiano
suspeito chegara de Roma. Raffaele Corte Giani, com 18 quilos de jóias
e 25 quilos de aço inoxidável, foi interceptado pela PF
e tornou-se objeto de uma disputa entre policiais e fiscais.
O vigia Sandro Ferreira, de 28 anos, da empresa responsável pela
segurança do aeroporto, não reconheceu os policiais que
estavam com o suspeito e levou a mão ao coldre. Foi imobilizado,
levado para a delegacia da PF e, de lá, para um hospital, com lesões
leves. Ferreira está traumatizado, diz a empresa.
A assessoria de imprensa da PF diz que a ação do vigia
foi interpretada como uma ameaça de sacar a arma. Os fiscais têm
uma versão diferente:
Os policiais não estavam uniformizados. Bastava que se
identificassem. Não precisavam bater disse Souza.
O auditor Coelho enviou então um ofício aos seus superiores
relatando que teria sido ameaçado de morte pelos policiais. A PF
nega a ameaça.
Sem acordo, escolha do relator da reforma
tributária é adiada para hoje
Lydia Medeiros e Cristiana Lôbo
BRASÍLIA. Por falta de acordo entre governo e oposição,
foi adiada para hoje a escolha do relator da reforma tributária
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado. A indicação do relator cabe ao senador Edison
Lobão (PFL-MA), presidente da CCJ. Mas o PFL perdeu a briga com
o PMDB e o nome mais cotado é o do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
O PFL continuava pedindo o posto para o senador Rodolpho Tourinho (BA),
mas teve de admitir uma composição. Reivindicou, no entanto,
a inclusão de suas propostas no texto do projeto.
Até ontem, a idéia era formar um grupo de trabalho informal,
com representantes dos principais partidos para auxiliar o relator.
O líder Renan Calheiros (AL) chegou a pensar em assumir a função,
mas reconheceu que poderia ter dificuldades e anunciava que o candidato
do partido seria mesmo Jucá.
A briga pelo comando da reforma tributária começou cedo.
Quando chegou ao gabinete, por volta das 9h20m, Lobão encontrou
em sua sala os senadores José Agripino Maia (PFL-RN) e o presidente
do partido, Jorge Bornhausen (SC). Horas depois, numa nova reunião,
com Agripino, Mercadante e Jucá, a possibilidade de um acordo ficou
mais clara. No fim da tarde, a reunião foi ampliada com a presença
de Renan Calheiros e do líder do PT, Tião Viana (AC).
PFL entrega documento contra aumento da carga
O PFL entregou a Mercadante uma lista com 13 reivindicações
para a reforma. Quer especialmente aumentar o aporte de recursos para
os municípios e excluir do texto aprovado na Câmara tudo
o que possa significar aumento da carga tributária. O partido é
contra a cobrança de IPVA sobre aviões e embarcações,
a contribuição de limpeza urbana e o selo pedágio.
Governo tenta acordo para votação
na CCJ
BRASÍLIA. O governo quer aproveitar a presença dos governadores
hoje em Brasília para mediar um entendimento com a oposição
e evitar a repetição das manobras que estenderam pela madrugada
de quinta-feira a votação da reforma da Previdência
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado. Os governadores têm encontro com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para discutir a unificação dos programas sociais.
A sessão de hoje na CCJ para votar 200 emendas à reforma,
inicialmente marcada para 10h, foi transferida para 16h, para dar tempo
a um acordo. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), pretende
ter o apoio dos governadores de oposição para inibir a apresentação
de emendas do PFL e do PSDB que tenham repercussão nos caixas estaduais:
Vamos consultar os governadores para construir com eles eventuais
mudanças.
PT e PMDB querem barrar voto em separado
BRASÍLIA. O PT e o PMDB prepararam ofício à Mesa
do Senado pedindo esclarecimentos sobre as regras para a apresentação
de relatórios alternativos nas sessões da Casa. Eles querem
impedir que PSDB e PFL repitam a estratégia de protelar a sessão
de hoje na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) com a leitura de dezenas e longos votos em separado, como aconteceu
na quinta-feira, quando a reforma começou a ser votada na comissão.
O voto em separado é um direito do senador, mas não
pode ser mecanismo de obstrução disse o senador Renan
Calheiros, ao anunciar a questão de ordem.
Na semana passada, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP),
defendeu a mudança do regimento para evitar os artifícios
da oposição. Ontem, afirmava que isso não seria necessário
e que tinha interpretações de sua assessoria de que o tempo
para a leitura dos votos em separado deveria ser limitado, como acontece
na apresentação de projetos ou na defesa de emendas.

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