Quarta-feira, 08 de outubro de 2003
O Globo
Previdência: reforma passa na
CCJ do Senado
Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Mesmo tendo vencido todas as votações
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado ontem, o governo deverá enfrentar resistências
na sua própria base para aprovar a reforma da Previdência
em plenário. O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), avisou
ontem que seu partido resiste à idéia de concentrar todas
as mudanças negociadas com os senadores numa proposta de emenda
constitucional (PEC) alternativa, como propõe o relator Tião
Viana (PT-AC).
Renan: A emenda paralela não serve
Renan adiantou ainda que a bancada do PMDB deverá apresentar uma
emenda em plenário propondo a inclusão, no texto da reforma,
de dispositivo que obrigue os governadores a equipararem seus salários
ao dos desembargadores, hoje limitados a 90,25% dos vencimentos dos ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF).
A emenda paralela não serve porque apenas faculta aos governadores
reajustarem seus salários até o valor do salário
dos desembargadores. Isso tem de ser obrigatório. Não dá
para ter três subtetos nos estados. E o Executivo deve ser o parâmetro
disse Renan.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), admite
que será preciso achar uma solução para a questão
do subteto dos servidores nos executivos estaduais. Ele argumenta, no
entanto, que a proposta do PMDB pode resolver o problema de Santa Catarina,
mas não o do Rio Grande do Sul. Nesses dois estados os salários
dos governadores são considerados muito baixos para servir de limite
para os vencimentos dos servidores do Executivo.
Isso não resolverá o problema do governador Germano
Rigotto, pois o reajuste de seu salário elevaria os salários
de todo o funcionalismo público do estado disse Mercadante,
lembrando que os demais governadores não apóiam essa alternativa.
O governo sabe que também enfrentará resistência
para aprovar todas as mudanças ao texto já aprovado na Câmara
numa PEC paralela apresentada ontem por Tião Viana. O senador tentava
colher 27 assinaturas para apresentá-la hoje em plenário.
Embora os peemedebistas estivessem dispostos a assinar a PEC, o PFL e
o PSDB se recusavam a respaldar a iniciativa do governo. O líder
pefelista, Agripino Maia (RN), justificava sua posição com
o argumento de que o governo não pode dar garantias aos senadores
de que a nova PEC será aprovada ainda este ano pelos deputados.
O PFL não topou e vamos segui-lo orientou o líder
do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Com base num parecer apresentado pelo deputado Michel Temer (PMDB-SP),
pefelistas e peemedebistas tentam convencer o governo a aceitar que as
mudanças na reforma da Previdência sejam feitas no texto
da reforma em tramitação. O governo optou pela PEC paralela
para permitir que a reforma já aprovada na Câmara seja logo
promulgada. Só as mudanças feitas no Senado seriam remetidas
para a apreciação dos deputados. O parecer de Temer, porém,
garante que mesmo que as alterações sejam feitas no texto
da reforma, será possível promulgar o que não for
alterado. Apenas as modificações seriam submetidas a nova
votação na Câmara.
Governo consegue rejeitar 95 destaques em bloco
Para concluir ontem a votação dos 158 destaques que ainda
deveriam ser apreciados pela CCJ, governo e oposição precisaram
recorrer novamente a um acordo de procedimento, que permitiu a rejeição
em bloco de 95 destaques. Ainda assim a votação dos demais
destaques se arrastou por todo o dia. Mesmo tendo vencido em todas as
votações que ocorreram até as 20h30m, o governo amargou
algumas dissidências em sua base. O senador Sérgio Cabral
(PMDB-RJ) voltou a se manifestar contra diversos aspectos da reforma da
Previdência, entre eles os subtetos dos estados.

|