Quinta-feira, 09 de outubro de 2003
O Globo
Relator permite ampliar taxação
de inativos
Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Mudanças substanciais foram incluídas
pelo senador Tião Viana (PT-AC) no texto da proposta de emenda
constitucional (PEC) paralela na qual o governo pretende concentrar todas
as alterações propostas pelo Senado à reforma da
Previdência. Além do acordo anterior para o aumento na faixa
de isenção de inativos e pensionistas portadores de doenças
incapacitantes, Viana acabou incluindo pelo menos três novidades:
criação de um sistema especial de inclusão previdenciária,
que tem como alvo os 40 milhões de trabalhadores do mercado informal,
inclusive as donas de casa (essas teriam uma alíquota de contribuição
bem reduzida), antecipação em cinco anos da aposentadoria
dos servidores portadores de necessidades especiais, mas mediante regulamentação
por lei complementar. A PEC ainda abre uma brecha para que a alíquota
da contribuição previdenciária dos servidores inativos
estaduais possa ser maior do que os 11% fixados para os servidores federais,
em caso de necessidade atuarial dos regimes.
Senador da oposição reclama das mudanças
O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), que já era
contrário à iniciativa do governo de concentrar as mudanças
da reforma da Previdência numa PEC paralela, protestou ontem ao
ler o texto da proposta. Ele considerou um absurdo a inclusão de
um dispositivo que possa aumentar a alíquota da contribuição
previdenciária dos inativos.
O relator não inclui na PEC o que defendemos, mas aceita
aumentar a contribuição dos inativos. Isso é nitroglicerina
pura avisou Agripino, que orientou ontem sua bancada a não
assinar a PEC apresentada por Tião Viana.
Apesar do boicote dos pefelistas e dos tucanos, 29 senadores assinaram
a PEC paralela. A falta de um acordo com o PMDB sobre o limite dos salários
e aposentadorias para os servidores públicos estaduais poderá
obrigar o governo a negociar pelo menos uma mudança no próprio
texto da reforma.
Mercadante admite aumento de salário dos governadores
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), admitiu
a possibilidade de ser incluída nas disposições transitórias
da Constituição uma autorização para os governadores
elevarem seus salários até o limite máximo dos vencimentos
pagos atualmente aos desembargadores equivalente a 90,25% do que
ganha um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) deixando claro
que isso não terá impacto na massa salarial do funcionalismo
público estadual.
Essa pode ser uma alternativa, mas só se não houver
acordo disse Mercadante.
O líder do governo reconhece que a PEC paralela não resolverá
o problema imediato do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde o salário
dos governadores é muito baixo, e não poderiam servir de
limite para os vencimentos e aposentadorias dos servidores estaduais do
Executivo.
Mercadante voltou a se posicionar contra uma das propostas do PMDB, que
sugere que todos os governadores equiparem seus salários aos dos
desembargadores.
Pode ter efeito cascata.
As principais mudanças
SUBTETO: A nova PEC faculta ao Poder Executivo dos estados, Distrito
Federal e municípios estabelecer novo subteto para os servidores
até o limite do salário dos desembargadores. Os governadores
poderão reajustar seus salários, que servem de subteto para
os servidores estaduais do Executivo, ou estabelecer o salário
dos desembargadores como limite.
INCLUSÃO: Cria um sistema especial de inclusão previdenciária
que abrangerá os trabalhadores sem vínculo empregatício
e até as donas-de-casa. Esse sistema terá alíquotas
e carências inferiores aos vigentes para os demais segurados.
PORTADORES DE NECESSIDADE ESPECIAIS: Será garantido um
regime especial de aposentadoria para os portadores de necessidades especiais,
como os os portadores de Síndrome de Down, o que poderá
reduzir em até cinco anos o prazo para requisição
do benefício. Lei complementar definirá quem se enquadra
no regime especial.
CONTRIBUIÇÃO: Foi incluído um parágrafo
que autoriza os estados a elevarem a alíquota da contribuição
previdenciária cobrada pela União e fixada em 11%, se for
necessário para o equilíbrio financeiro e atuarial de seus
respectivos regimes previdenciários.
Anfavea alerta: carros podem aumentar
BRASÍLIA. O vice-presidente da Associação Nacional
dos fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Noan Yabiku
Júnior, disse ontem no Senado, onde o relator Romero Jucá
(PMDB-RR) continua negociando seu parecer, que caso a reforma tributária
seja aprovada como veio da Câmara os preços dos carros vão
aumentar em até 8%. Segundo Yabiku, a extensão da cobrança
da Cofins aos produtos importados terá impacto sobre os custos
do setor.
Ele não detalhou de que forma outras medidas afetarão o
setor:
O conjunto da reforma é que terá impacto nos custos.
Na cadeia a reforma geraria aumento da carga tributária.
As declarações do vice-presidente da Anfavea foram feitas
depois de uma audiência com Jucá. Segundo ele, no caso do
carro popular, as medidas aumentariam o imposto de 25,7% para 31,2%. Nos
carros médios o imposto passaria de 29% para 34,3% e, nos de luxo
de 34,2% para 39,1%.
Ironicamente, a idéia de tributar as importações
é do próprio empresariado, encampada pelo ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, que já incluiu a medida no seu primeiro projeto
enviado ao Congresso em abril. Os empresários argumentam que as
peças importadas concorrem de forma desleal com as nacionais, que
são tributadas pela Cofins.
Quando a Confins virar um imposto sem cumulatividade será
necessário tributar os importados porque não se pode criar
uma situação de desigualdade entre o produto importado e
o nacional disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP).
Para tentar pôr fim às divergências sobre o encaminhamento
da reforma tributária no Senado, o presidente da Casa, José
Sarney (PMDB-AP), e Mercadante visitaram o presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP). Mercadante e João Paulo conversaram
por 40 minutos e saíram dizendo que ontem era dia do amigo.
Vamos mudar 16 artigos da reforma, diz Mercadante
Os senadores mudaram o discurso, já não falam mais em começar
a reforma tributária do zero, depois da reação de
João Paulo em defesa da emenda aprovada na Câmara, mas Mercadante
deixou claro na saída do encontro que os senadores vão mudar
o texto da reforma tributária.
Vamos mudar 16 artigos da reforma e introduzir idéias novas
no texto para acabar com a guerra fiscal disse Mercadante.
A conversa foi boa. Não tem sentido uma briga entre Câmara
e Senado afirmou João Paulo.
Sarney não escondeu que sua missão era de paz:
Muito pior do que a guerra fiscal é uma guerra entre as
duas casas do Congresso. Não existe nada disso.
Maioria dos senadores quer mudar ICMS
Pesquisa encomendada pela Câmara de Comércio Americana do
Rio ao Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep) mostra
que 72% dos senadores defendem mudanças nas regras de cobrança
do ICMS aprovadas na reforma tributária pela Câmara. Disseram
discordar inteiramente do texto sobre ICMS aprovado na Câmara 16%
dos senadores enquanto apenas 7% apóiam a proposta dos deputados.
A pesquisa ouviu 69 dos 81 senadores.
O que o Senado está dizendo é: estas regras devem
ser melhoradas disse o cientista político Walder de Góes,
que dirige o Ibep.
No PT, apenas um terço dos senadores concorda com o texto da Câmara.
Na questão do ICMS sobre o petróleo, a pesquisa pode indicar
uma boa notícia para o Rio de Janeiro e outros estados produtores:
48% dos senadores acham que o imposto deve ser cobrado parcialmente na
origem, como todos os demais bens e serviços.
O presidente da Câmara de Comércio Americana do Rio, Joel
Korn, afirmou:
Temos um Estado ainda muito pesado. A tendência (com a reforma
tributária), infelizmente, é a de se aumentar a carga tributária.
Nós, empresários, precisamos insistir no cumprimento da
Lei de Responsabilidade Fiscal.

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