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Segunda-feira, 13 de outubro de 2003
O Globo
Governadores tentam evitar mudanças
no texto da reforma
Isabel Braga e Cátia Seabra
BRASÍLIA. A luta entre os governadores e a equipe econômica
do governo federal pela maior fatia dos impostos continua hoje em mais
um round . Os governadores participam de audiência na Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado dispostos
a repelir alterações que fujam do acordo firmado com o governo
federal para a reforma tributária.
Diante da falta de consenso e do tempo reduzido para as conversas, o relator
da reforma tributária, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu que
poderá adiar a apresentação do pré-relatório,
prevista para quarta-feira:
- Estou me esforçando, mas não é sangria desatada.
A Câmara debateu por cinco meses. Eu só tive uma semana.
Rigotto terá encontros com a bancada e com Jucá
O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, terá, na manhã
de hoje, uma série de reuniões com a bancada. Antes da audiência
na CCJ, ele deve se encontrar com Jucá. O governador condena duramente
a proposta de tirar dos estados a cobrança de ICMS sobre combustíveis,
bebidas e álcool, oferecendo em troca a possibilidade de aumento
da alíquota do imposto para outros produtos:
- Não tem o menor fundamento pedir que os estados abram mão
de arrecadar o que já arrecadam para aumentar a alíquota
de outros produtos.
Rigotto ponderou que, em seu estado, o ICMS com combustível representa
23% do total arrecadado. Além disso, o imposto sobre cigarros,
bebidas e automóveis representa outros 10%.
O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), também critica
a discussão de novas propostas no debate do Senado e avisa que
defenderá a construção de consensos.
- Muitos alquimistas estão propondo questões novas, não
discutidas previamente e que são difíceis de serem aprovadas
- disse Aécio.
Rigotto e Aécio pretendem cobrar do governo compromissos firmados
em relação à Cide (Contribuição sobre
Intervenção de Domínio Econômico), à
criação do fundo de desoneração das exportações
no valor de R$ 8,5 bilhões, e a uma decisão sobre o Fundo
de Desenvolvimento Regional.
Entre os governadores do Nordeste, a idéia de compor o Fundo de
Desenvolvimento Regional vinculando investimentos do Orçamento
da União e parte dos créditos do BNDES não agradou.
- Isso não existe, está fora das regras do acordo. Não
acredito que estejam falando sério. Começo a achar que estão
cozinhando a gente! - reagiu o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB).
Rosinha luta por texto
aprovado na Câmara
A governadora do Rio, Rosângela Matheus (PMDB), desembarca hoje
em Brasília disposta a lutar pela manutenção do texto
de reforma tributária aprovado pela Câmara dos Deputados.
Ela considera retrocesso a retomada do projeto original. Não aceita
que questões como a cobrança do ICMS na origem, pelos estados
produtores de petróleo, sejam excluídas.
- Não abro mão de corrigir as injustiças cometidas
há anos contra o Estado do Rio - disse a governadora, que fará
a oitava viagem a Brasília, em nove semanas, para cuidar do assunto.
Rosinha exigirá também a inclusão dos municípios
do Noroeste fluminense, os mais pobres do estado, entre os beneficiados
do Fundo de Desenvolvimento Regional. Ela promete ainda combater a proposta
de cobrança de IPI sobre cigarros e bebidas. Alega que o Rio de
Janeiro perderia R$ 1,4 bilhão com a medida.
Mas o principal assunto na agenda da governadora em Brasília é
mesmo a cobrança de ICMS na origem-destino. Ela insiste na mudança
que irá favorecer o seu estado.
Mais um round da briga
na Receita
BRASÍLIA e RIO. O corregedor-geral da Receita Federal, Moacir
Leão, não quis comentar a reportagem publicada no fim de
semana pela revista "Época" com gravações
de conversas entre o secretário da Receita, Jorge Rachid, e assessores.
As gravações trazem diálogos de Rachid com outros
integrantes da cúpula do órgão argumentando que a
Receita Federal deveria fazer uma defesa pública e institucional
para responder às denúncias da Corregedoria.
Procurado na tarde de ontem, Leão afirmou que não falaria
porque estava fazendo uma análise documental durante o fim de semana
e adiantou que deve divulgar hoje uma nota sobre o caso. Sobre as gravações,
o corregedor informou que não teve acesso às fitas. A Receita
e o Ministério da Fazenda também não comentaram o
assunto.
- Estamos fazendo uma análise documental intensa durante todo o
domingo (ontem). Devemos publicar uma nota amanhã (hoje) -- disse
Leão.
Repórteres da revista "Época" tiveram acesso a
238 gravações de grampos da Polícia Federal que mostram
funcionários da Receita preparando uma defesa para as acusações
do corregedor-geral. Os grampos foram pedidos pelo Ministério Público
Federal.
A PF começou as escutas no dia 26 de julho. Dias antes, Moacir
Leão havia acusado o secretário-adjunto Leonardo Couto de
tentar proteger os auditores Paulo Baltazar e Sandro Martins, que estão
sendo investigados por enriquecimento ilícito. Os dois são
acusados de terem reduzido, ilegalmente, uma autuação aplicada
à construtora OAS de R$ 1,1 bilhão para cerca de R$ 25 milhões.
Um dos responsáveis pela multa foi o secretário Jorge Rachid,
na época, fiscal da Receita em Salvador. Posteriormente foi descoberto
que Sandro Martins e Paulo Baltazar haviam ganho R$ 18,2 milhões
da OAS pelo serviço.

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