Quarta-feira, 19 de novembro de 2003
O Globo
Lula resiste à proposta tucana de adiar unificação
do ICMS para 2005
Ilimar Francoe Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. O governo continua negociando com o PSDB e o PMDB mudanças
que garantam a aprovação da reforma tributária no
Senado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinal verde
para os líderes do governo discutirem a proposta do senador tucano
Tasso Jereissati (CE) de dividir a reforma em três etapas, mas resiste
à idéia de deixar a unificação das 27 legislações
estaduais do ICMS para 2005.
Ao estabelecer os limites da negociação, em reunião
ontem com a cúpula do PMDB, Lula deixou claro que o governo não
pretende abrir mão do coração da proposta. Ele insiste
na unificação da legislação do ICMS que permitiria
o fim da guerra fiscal, ainda que sua implementação não
seja imediata e a despeito da grande resistência por parte dos governadores.
Lula teme acusação de reforma pífia
Lula teme, com a adoção da proposta do PSDB que joga quase
todas as mudanças para 2005, ser acusado de fazer uma reforma pífia,
de aprovar a prorrogação da CPMF e DRU, e deixar o resto
como está.
O que aconteceu? Isso fazia parte de um texto comum. Por que a
dificuldade em aprovar a unificação da legislação
do ICMS? cobrou Lula na reunião com os senadores do PMDB.
Participaram do encontro o presidente do Senado, José Sarney (AP);
o líder da bancada, Renan Calheiros (AL); e o relator da reforma
tributária, Romero Jucá (RR); além dos líderes
do governo no Congresso, senador Amir Lando (PMDB-RO), e no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP), e dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e
Antonio Palocci (Fazenda).
O PSDB, por sua vez, concorda em votar a prorrogação da
CPMF e da DRU, desde que o governo apresente propostas concretas que garantam
aos estados 25% da receita da Cide sem incidência da desvinculação
orçamentária de 20% das receitas da União. Além
disso, os tucanos pedem a viabilização dos investimentos
do Fundo de Desenvolvimento Regional e a apresentação de
fontes garantidas para implementar o Fundo de Compensação
das Exportações. A posição foi discutida ontem
durante almoço de mais de duas horas entre Tasso Jereissati e os
governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas, Aécio
Neves. A reunião de Mercadante com Tasso foi adiada mais uma vez,
para hoje.
Previdência:
pontos polêmicos são adiados
Relator consegue aprovar transferência
de emendas da Previdência
BRASÍLIA. O governo se valeu de inédita manobra regimental
para retirar do projeto de reforma da Previdência os pontos mais
polêmicos, que pretende tratar numa segunda emenda constitucional,
chamada de emenda paralela pelos senadores. O relator da reforma, senador
Tião Viana (PT-AC), conseguiu ontem aprovar na Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) a transferência
de 112 dos 336 itens que haviam sido destacados para votação
em separado pelo plenário do Senado para um outro projeto, que
batizou de proposição autônoma. Nas votações
que entraram pela noite na CCJ, o governo conseguiu votar e derrubar 119
destaques.
Dessa forma, na prática, foi criada uma terceira emenda para reformar
a Previdência do setor público, envolvendo temas sensíveis,
como a paridade entre salários e aposentadorias, o estabelecimento
de limites de isenção do pagamento de contribuição
à Previdência e a fixação do teto salarial
para o funcionalismo nos estados.
O objetivo do governo com o artifício foi o de, primeiro, evitar
qualquer mudança no texto original na votação em
plenário, o que levaria a proposta de volta à Câmara,
atrasando sua promulgação. O relator argumentou também
que se qualquer um dos pontos tratados na PEC paralela fosse
rejeitado pelo Senado, o projeto alternativo poderia ser contestado jurídica
e constitucionalmente. Há uma decisão do Supremo Tribunal
Federal que veda a reapresentação de matérias rejeitadas
na mesma sessão legislativa. Esse terceiro projeto deverá
tramitar junto à primeira PEC paralela.
O PFL contestou a manobra do governo e o assunto terá de ser decidido
em votação no plenário, antes de o texto ser apreciado.
O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), que apresentou a questão
de ordem à presidência da CCJ, chamou a medida de golpe:
É um golpe inteligente, mas as ditaduras são inteligentes.
Por isso duram.
O líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), duvidou da intenção
do governo de resolver os temas levados ao projeto alternativo. Entre
eles, está a possibilidade de os aposentados e pensionistas portadores
de doenças graves serem isentos do pagamento à Previdência.
A PEC paralela é uma enganação, é
inconfiável e inédita. O governo está inventando
o voto talvezDefendemos o voto sim ou o voto não
protestou.
Tião Viana anunciou que o governo pretende aprovar no plenário
a supressão do texto relativo à fixação do
teto salarial dos funcionários públicos nos estados, assunto
que será tratado na PEC paralela. Até que esta seja aprovada,
fica valendo apenas o limite previsto para os servidores da União,
que é o salário dos ministros do Supremo.

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