sexta-feira, 21 de novembro de 2003
O Globo
CCJ do Senado aprova a emenda paralela
à reforma da Previdência
Lydia Medeiros
BRASÍLIA. O governo conseguiu ontem dar o primeiro passo para
levar adiante a proposta de emenda constitucional que tramita simultaneamente
à reforma da Previdência, a PEC paralela. O projeto foi aprovado
ontem na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado por 15 votos a favor e 6 contra. Esse foi o artifício
encontrado pelo governo para mudar pontos da reforma sem devolver à
Câmara para nova votação o projeto original, que será
submetido na próxima terça-feira ao plenário. Agora,
a PEC paralela vai receber emendas no plenário e volta à
CCJ.
Pedetista defende devolução do texto à Câmara
Apesar da aprovação, a oposição pôs
em dúvida a possibilidade de promulgação da PEC paralela.
O senador Jefferson Peres (PDT-AM) afirmou que o caminho mais viável
seria alterar o projeto de reforma já aprovado na Câmara
e reenviá-lo à Casa para nova votação. O relator,
senador Tião Viana (PT-AC), aposta na promulgação
rápida do texto.
Temos acordo. Fazer previsões é usar bola de cristal,
uma atitude cigana que não compete ao Senado disse Viana.
A PEC paralela atenua a reforma da Previdência. São sete
pontos, entre eles o que concede aos atuais servidores públicos
a paridade entre salários e aposentadorias, desde que tenham 25
anos de serviço. A reforma original acaba com a paridade.
PEC paralela contempla portadores de deficiência
Outro ponto importante é o que isenta do pagamento da contribuição
previdenciária os aposentados de qualquer idade que tenham doenças
graves, que os tornem incapazes para o trabalho, que recebam até
R$ 4,8 mil. As doenças serão definidas em lei.
A PEC paralela contempla ainda os portadores de deficiência física.
Eles terão a redução de cinco anos na contagem do
tempo de serviço para a aposentadoria. Além disso, o texto
trata de mecanismos de inclusão social, controle social e censo
previdenciário.
O relator adiantou que o governo pretende editar medida provisória
para adiantar a vigência de alguns itens da PEC paralela, como forma
de mostrar compromisso com sua aprovação. Devem ser objeto
de MPs a paridade dos servidores públicos, a isenção
de inativos com doenças graves e a redução em cinco
anos do tempo de serviço para portadores de deficiência física.
É um gesto do governo para que os pontos mais urgentes
entrem em vigor. Quando a PEC for aprovada pela Câmara dos Deputados,
as medidas provisórias perderão seu efeito afirmou
Viana.
Subteto cria impasse
entre Aécio e Rigotto
BRASÍLIA. A fórmula para limitar os salários do funcionalismo
público estadual na reforma da Previdência opôs os
governadores de Minas, Aécio Neves (PSDB), e do Rio Grande do Sul,
Germano Rigotto (PMDB). Hoje de manhã Aécio tem encontro
com o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), para tentar
resolver o impasse. Rigotto estará em Brasília na segunda-feira
para ser ouvido pelo líder do governo e relator da reforma da Previdência,
Tião Viana (PT-AC).
Aécio quer manter a regra para o subteto salarial aprovada pela
Câmara e mantida pelo Senado. Pela norma, os salários do
Executivo estadual sejam limitados pelo salário do governador;
no Legislativo, pelos vencimentos dos deputados estaduais; e, no Judiciário,
pelo que recebe um desembargador. Um acordo no Senado, contudo, decidiu
tratar do assunto na chamada PEC paralela. O texto aprovado na Câmara
seria suprimido na votação no plenário, deixando
para ser estabelecido com as mudanças na PEC paralela. A proposta
dá aos governadores o poder de estabelecer teto maior que seus
salários, até o limite do salário do desembargador,
por meio de projeto de lei enviado às assembléias legislativas.
A medida beneficiaria dois estados, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
cujos salários dos governadores são baixos e, adotados como
teto, rebaixariam os salários das carreiras dos servidores. Hoje,
em Minas, o salário dos funcionários é limitado pelo
salário de Aécio, de R$ 10,5 mil. Quando assumiu, ele reduziu
o valor do próprio contracheque, que era de R$ 19 mil, para fazer
um primeiro ajuste na folha de pagamentos. Já Rigotto, que ganha
R$ 6 mil, teme que haja um rebaixamento dos vencimentos das carreiras
com a regra. Ele prega um teto único para os três poderes.
Ontem, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM),
condicionou o acordo da reforma tributária a uma solução
para o subteto:
Não dá para desgrudar essa negociação
da Previdência. O governador de Minas (Aécio Neves) não
aceita um subteto único para as aposentadorias dos estados. Se
os governadores acharem que o acordo fechado com eles foi descumprido,
podemos fechar questão contra avisou.
Reforma em etapas até
2008
Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA
Em busca da aprovação da reforma tributária até
o Natal, o governo se aproximou de um acordo com a oposição
ao assumir ontem o compromisso de incluir na pauta de negociação
uma fórmula que assegure a redução da carga tributária
do país a partir de 2005. Na proposta de fazer a reforma tributária
em três etapas, o PFL e PSDB sugerem a criação de
um gatilho que permita a diminuição gradual da alíquota
da CPMF, mantida em 0,38%, sempre que houver aumento da arrecadação
nacional. Avançou também o acordo para para a aprovação
já do princípio da unificação do ICMS, deixando
a definição das alíquotas para 2005.
Por enquanto, o governo sinaliza com a possibilidade de inclusão,
no texto da própria reforma ou mesmo de uma nova emenda constitucional,
a chamada PEC paralela, de um dispositivo determinando que uma lei complementar
defina os critérios econômicos para essa redução
da carga tributária, via redução da CPMF.
E não pode ser só o aumento da receita. Dependerá
também da evolução da dívida pública
e de outros indicadores. Nesse sentido, a CPMF deve passar a ser um imposto
que teria uma alíquota máxima 0,38% e uma mínima
0,08% admitiu Mercadante, esclarecendo, contudo, que no próximo
ano o governo não tem como abrir mão da receita integral
da CPMF.
Ele explicou que o governo aceitaria discutir a redução
gradual da contribuição apenas a partir de 2005. Mas com
um dispositivo que permita retornar à alíquota de 0,38%
se houver mudança econômica relevante.
Para o ano que vem a alíquota é 0,38% e não
há nenhuma possibilidade de mudar isso. Mas nós poderemos,
a partir de 2005, se tivermos essa melhora macroeconômica que está
se desenhando, discutir através de uma lei a redução
da carga tributária, inclusive da CPMF acrescentou o líder
do governo.
Última etapa será implantação do IVA
Uma reunião técnica marcada para a próxima segunda-feira
da qual deverão participar o relator da reforma tributária,
Romero Jucá (PMDB-RR), e os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE)
e Rodolpho Tourinho (PFL-BA) deverá discutir o detalhamento
não só da proposta de redução da carga tributária
como o encaminhamento da reforma em três etapas: a primeira seria
entre 2003 e 2004, a segunda de 2005 a 2006 e a última entre 2007
e 2008.
Apesar das divergências entre os estados grandes e os pequenos
o que pode, na prática, inviabilizar a aprovação
desta proposta no Senado o governo decidiu manter no texto da reforma
a proposta de unificação da legislação do
ICMS e marcar para 2005 a sua implantação. Isso colocaria
um ponto final na guerra fiscal e serviria de transição
para a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) a partir
de 2007.
A primeira fase, segundo Mercadante, não se limitaria a resolver
apenas o problema de caixa da União no próximo ano com a
prorrogação da CPMF e DRU (Desvinculação das
Receitas da União), mas atenderia também aos estados, aos
municípios e até mesmo aos contribuintes.
Na primeira fase, teremos a desoneração das exportações,
o fim da cumulatividade da Cofins, a desoneração da folha
de pagamento e o Supersimples. Todas essas mudanças seriam implementadas
agora, junto com a CPMF, a DRU, o Fundo de Desoneração das
Exportações e a Cide para financiamento de infra-estrutura
nos estados disse Mercadante.
Segundo o senador petista, na segunda etapa, em 2005 e 2006, haveria
a unificação do ICMS e a implantação de um
cadastro único de contribuintes.
Com isso, superaríamos o problema da guerra fiscal e caminharíamos
para construir a fase final da reforma com a constituição
do IVA e a unificação das demais contribuições
previdenciárias explicou.

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