Domingo, 23 de novembro de 2003
O Globo
REAJUSTE DA TABELA DO IR PODE SER DIFERENCIADO
POR FAIXA
Nível de contribuinte que paga 27,5% teria correção
menor que o dos níveis de isentos e de quem paga 15%
BRASÍLIA. A correção da tabela do Imposto de Renda
que está sendo preparada pelo governo poderá ter três
índices diferentes: um para os isentos, outro para quem contribui
com a alíquota de 15% e um terceiro, mais baixo, para a faixa de
27,5%. Segundo o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, essa
seria a forma mais equilibrada de garantir que o reajuste beneficiará
todos os contribuintes com o mesmo peso. Rachid evitou falar em percentuais
para o aumento dos limites da tabela, mas dentro do governo se fala em
um índice médio próximo a 12%.
O secretário explicou que um índice linear de correção
favoreceria os mais ricos duplamente. Isso porque o cálculo do
IR devido por esses contribuintes incorpora a parcela isenta dos seus
rendimentos, aplica a alíquota de 15% sobre a parte do salário
entre R$ 1.508,01 e R$ 2.115 e a de 27,5% incide sobre o que ultrapassar
os R$ 2.115. Ao corrigir as três faixas de forma igual, este contribuinte
descontaria uma parcela isenta no seu salário maior, teria uma
base tributada na alíquota de 15% maior e pagaria 27,5% sobre uma
parcela menor.
Governo não abre mão de manter alíquota de 27,5%
Segundo Rachid, o governo vem trabalhando com uma série de situações
e números e, por essa razão, ainda não fechou a equação
que vai determinar a tabela que deve valer a partir de janeiro de 2004.
Mas pelo menos uma coisa é certa: segundo o secretário,
o governo não vai abrir mão da alíquota de 27,5%,
prevista para ser reduzida para 25% no fim deste ano. Caso concorde com
isso, deixará de arrecadar R$ 1,6 bilhão por ano.
A única coisa certa é que não podemos abrir
mão dos 27,5% disse Rachid.
O secretário também afirmou que a Receita é contra
qualquer correção da tabela do IR sem uma contrapartida
para compensar as perdas de arrecadação. Essa compensação
deve vir das simulações que estão sendo feitas para
transformar as deduções com dependentes, educação
e despesas médicas num percentual de 20%. Com a mudança,
os mais ricos, que podem abater hoje 27,5%, teriam descontos menores,
e os contribuintes com rendimentos mais baixos, que hoje deduzem em 15%,
teriam abatimentos maiores.
Somos contrários a qualquer correção pura
e simples afirmou o secretário.
Na semana em que a Receita comemorou 35 anos, Rachid afirmou que o IR
nesse período evoluiu. Segundo ele, ficou mais fácil entregar
a declaração porque as regras são mais simples e
o contribuinte tem várias opções para fazer o envio.
Hoje, 95% das declarações são entregues pela Internet.
Rachid reconhece que a arrecadação do IR das pessoas físicas
aumentou nos últimos anos.
Ao simplificar as regras, fica mais fácil para os contribuintes
declararem, cai o número de brechas e a Receita também pode
fiscalizar de forma mais eficiente.
Modelo de declaração para 2004 já está
pronto
Enquanto as mudanças para a tabela do IR do ano que vem não
saem, a Receita já preparou o modelo da declaração
2004 (ano-base 2003). Nos próximos dias, a chamada versão
beta (teste) será distribuída para que especialistas dêem
sugestões de como melhorá-la. A princípio, vai mudar
a forma de apresentar os CPFs dos dependentes, o que, na avaliação
da Receita, ainda estava complicada. O carnê-leão também
terá novidades e vai ter espaços para que os CPFs dos dependentes
sejam destacados de forma segregada.
Nos 35 anos de Receita, a arrecadação não parou
de subir. Segundo Rachid, isso aconteceu principalmente porque a fiscalização
ficou melhor.

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