Quinta-feira, 27 de novembro de 2003
O Globo
Oposição ajuda de novo
Adriana Vasconcelos,Lydia Medeiros e Cristiana Lôbo*
BRASÍLIA
O governo conseguiu ontem expressiva vitória no Senado ao aprovar
em primeiro turno, no plenário, o texto principal da reforma da
Previdência com 55 votos a favor e 25 contra. Mas, assim como na
Câmara, precisou dos votos da oposição. Os 42 votos
garantidos pelos aliados seriam insuficientes para a aprovação
da emenda constitucional, que exige 49 votos. Dos 55 senadores que disseram
sim à proposta, 13 são da oposição - sete
do PFL e seis do PSDB. A proposta, que entre outras medidas prevê
a cobrança de contribuição previdenciária
de servidores públicos inativos e estabelece um teto salarial para
o funcionalismo, ainda terá de ser votada em segundo turno no Senado
para ser promulgada e entrar em vigor.
Depois da votação, os governistas evitaram comemorações
mais efusivas para não provocar protestos ainda mais exaltados
das galerias, onde servidores públicos viraram de costas para o
plenário e cantaram o Hino Nacional. O líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), reconheceu que o governo não
tinha os votos necessários e que a vitória só foi
alcançada com a ajuda da oposição.
- Por isso é essencial a negociação e por isso temos
dialogado com os partidos oposicionistas - disse Mercadante.
O presidente nacional do PT, José Genoino, comemorou a aprovação
como mais uma vitória do governo.
- Foi aprovada uma reforma socialmente justa, orçamentariamente
equilibrada e que corta privilégios - afirmou.
Dissidências não surpreendem
Mesmo com a marcação voto a voto, o governo não
conseguiu evitar algumas dissidências em sua base. Nenhuma surpresa.
Entre os aliados que votaram contra a reforma estão a petista Heloísa
Helena (AL), o petebista Duciomar Costa (PA) e os peemedebistas Sérgio
Cabral (RJ), Papaléo Paes (AP) e Mão Santa (PI). O presidente
do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se absteve, como já havia
feito o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
Logo pela manhã os governistas levaram um grande susto. O primeiro
teste foi a votação de um requerimento propondo que 112
das 336 emendas apresentadas em plenário à reforma da Previdência
pudessem tramitar junto à chamada PEC paralela, que reúne
todas as mudanças propostas pelos senadores à reforma da
Previdência. Sua aprovação exigia maioria simples.
O governo teve uma vitória apertada, mas em jogo estava todo o
futuro da reforma, uma vez que sua rejeição devolveria as
emendas e o texto principal da proposta para a Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ).
- Se isso cair, acabou a reforma - avisou Roseana Sarney (PFL-MA).
Com 49 votos a favor (exatamente o número necessário para
a aprovação da reforma) e 30 contra, o requerimento foi
aprovado.
Impasse nos subtetos estaduais fica para hoje
No meio da tarde, foram detectados novamente problemas com o PMDB, que
apresentou novas condições para aceitar a manutenção
no texto da reforma dos três subtetos para os salários e
aposentadorias dos servidores estaduais.
O líder do partido, senador Renan Calheiros (AL), queria um compromisso
expresso do presidente Lula de que o governo convocaria o Congresso extraordinariamente
em janeiro para votar a PEC paralela.
Renan chegou a sugerir que, após a aprovação do
texto principal da reforma, a sessão do Senado fosse suspensa e
os líderes partidários se reunissem para definir isso e
negociar o texto da PEC paralela, garantindo aos estados que quiserem
a opção de adotar um subteto único.
- É importante que isso fique bem claro, já que o governo
se comprometeu com dois acordos diferentes. As bancadas estão agitadas
e temos de administrar isso - justificava Renan.
Hoje os líderes governistas precisam resolver o impasse sobre
a fixação dos subtetos estaduais, durante a votação
dos destaques para votação em separado. Pela manhã
deverão ser votados os temas mais polêmicos, como a cobrança
de contribuição dos inativos, a paridade entre salários
e aposentadorias do serviço público e regras de transição
mais suaves para quem está perto de se aposentar.
(*) Do GloboNews.com
Paim recua e vota a favor enquanto Heloisa Helena chora
e confirma o não
Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. A votação da reforma da Previdência
deixou ontem o Senado com as emoções à flor da pele
ao unir antigos adversários, separar velhos companheiros e dividir
a oposição. Da galeria, servidores públicos também
se dividiram entre as vaias em protesto contra o recuo do senador Paulo
Paim (PT-RS), que depois de tanto criticar a proposta anunciou minutos
antes da votação que acompanharia a orientação
do partido, e os aplausos ao emocionado discurso da senadora Heloisa Helena
(PT-SP), que chorando confirmou seu voto contra o projeto, selando seu
destino dentro do partido.
- É como estivessem arrancando o meu coração, mas
não me arrependo deste voto que dou hoje - disse Heloisa Helena
aos prantos.
Marco Maciel, que apoiou no governo FH, votou contra
Atendendo aos apelos do governo, que não tinha os 49 votos necessários
para aprovar a reforma, 13 senadores da oposição votaram
a favor da proposta. Foi o caso dos pefelistas Antonio Carlos Magalhães
(BA), César Borges (BA), Edison Lobão (MA), João
Ribeiro (TO), Maria do Carmo (SE), Rodolpho Tourinho (BA) e Roseana Sarney
(MA).
Além da fidelidade ao governo dos pefelistas ligados ao presidente
do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o resultado expôs a divisão
do PFL entre os grupos de Antonio Carlos Magalhães e de Jorge Bornhausen,
presidente do partido. Por causa desse acirramento de ânimos entre
os novos oposicionistas, até mesmo o ex-vice presidente Marco Maciel,
que sempre apoiou a reforma, votou contra.
Os tucanos também saíram divididos da votação.
Dos 11 senadores do PSDB, seis votaram a favor, contrariando a posição
da liderança: Eduardo Azeredo (MG), Eduardo Siqueira Campos (TO),
João Tenório (AL), Reginaldo Duarte (CE), Sérgio
Guerra (PE) e Tasso Jereissati (CE).
Genoino diz que Heloisa escolheu seu caminho
Sobre o voto contrário de Heloisa Helena, o presidente do PT,
José Genoino, lembrou que durante todo o ano a senadora só
votou com o governo Lula num único projeto, o que criou o programa
Primeiro Emprego.
- Não vou mais esquentar a cabeça. Ela escolheu o seu caminho.
O PT não negocia o voto - disse Genoino.
Situação difícil também enfrentou Paim. Ele
disse que mudou de idéia após receber do presidente Lula
a garantia de que a PEC paralela, que concentrou todas as propostas de
mudanças negociadas com os senadores, será aprovada.

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