Quinta-feira, 18 de dezembro de 2003
O Globo
Agora só falta promulgar
Lydia Medeiros e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA
Durou menos de uma hora a última votação das reformas
no Senado, fechando um ciclo iniciado em 30 de abril, quando o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi ao Congresso com os governadores
entregar as propostas. Foram aprovados ontem em segundo turno a reforma
tributária e o projeto de emenda constitucional que altera parte
da reforma da Previdência, a chamada PEC paralela. Por causa da
morte do ex-senador José Richa, do PSDB do Paraná, um acordo
entre os líderes estabeleceu que não haveria discussão
dos projetos nem discursos para encaminhar as votações.
As mudanças nas aposentadorias e pensões previstas na PEC
paralela precisam agora passar pelo crivo da Câmara para entrar
em vigor, assim como parte das novas regras para o sistema tributário.
Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), devem promulgar amanhã o texto
principal da reforma da Previdência e pontos da reforma tributária
que não foram alterados pelo Senado. Segundo o presidente da Câmara,
Lula confirmou que estará presente à cerimônia de
promulgação. Ontem, o presidente elogiou a aprovação
das reformas.
Hoje, juntamente com o presidente do Senado, José Sarney,
e com os senadores, falo da minha alegria. Hoje, finalmente, foi aprovada
a reforma tributária com que tanto sonhávamos, assim como
a da Previdência. Quando o homem público resolve trabalhar,
as coisas acontecem. Aconteceu na Câmara e aconteceu no Senado.
Estão todos de parabéns disse Lula.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também
mostrou sua satisfação.
O governo patrocinou as negociações, se sente reconhecido
nas reformas e apóia as mudanças feitas. Vamos entregar
uma reforma aprimorada e mais consistente. Foi uma vitória para
a sociedade e para a democracia pelo espírito público dessas
votações. O resultado é suprapartidário
disse.
Parte da tributária volta para a Câmara
A reforma tributária foi dividida em duas partes para permitir
a promulgação de alguns pontos agora. A parte do projeto
essencial para o governo fechar as contas em 2004 foi aprovado por 64
votos a favor e cinco contra. Inclui a prorrogação da CPMF,
a Desvinculação de Receitas da União, a repartição
com os estados das receitas da Cide (o imposto sobre combustíveis)
e o fundo para compensar a desoneração das exportações.
Ficaram contra o projeto os senadores Marco Maciel (PFL-PE), José
Jorge (PFL-PE) e Jorge Bornhausen (PFL-SC), além de Heloísa
Helena (sem partido-AL) e Almeida Lima (PDT-SE).
A Câmara vai analisar a parte mais complexa, aprovada pelos senadores
por 63 votos a três, resultado de amplo acordo no Senado entre governo
e oposição. O texto prevê para 2005 a unificação
da legislação do ICMS, com redução para cinco
do número de alíquotas. A mudança seria acompanhada
da criação do Fundo de Desenvolvimento Regional. A redução
de impostos para a cesta básica começará a ser discutida
em 2004, mas só deverá valer em 2005.
A reforma estabelece ainda que em 2007 será criado um novo tributo,
o IVA (Imposto sobre Valor Adicionado), que reuniria ICMS, ISS e IPI.
Também devem ser unificadas as contribuições sociais.
Uma mudança importante prevista no acordo entre os líderes
é a possibilidade de redução da alíquota da
CPMF para um valor entre 0,38% e 0,08%. A mudança depende de outra
emenda constitucional e de lei complementar, que estabelecerá quais
as condições e fatores que serão levados em conta
para disparar uma espécie de gatilho para reduzir a alíquota.
PEC paralela é
aprovada por unanimidade no Senado
BRASÍLIA. O Senado concluiu ontem, numa discussão relâmpago,
a votação da emenda constitucional 77, a PEC paralela, que
altera vários pontos da reforma principal da Previdência,
já pronta para ser promulgada. Assim como no primeiro turno, a
proposta acabou aprovada em segundo turno também por unanimidade:
todos os 64 senadores em plenário votaram a favor. A PEC ainda
terá de ser apreciada pelos deputados antes de ser promulgada.
A pressão dos senadores agora é para que o Congresso seja
convocado extraordinariamente em janeiro para acelerar a tramitação
da emenda na Câmara. Entidades de servidores pediram ao chefe da
Casa Civil, José Dirceu, que o governo proponha a convocação
do Congresso em janeiro. Segundo o líder do PT, Tião Viana
(AC), Dirceu ia conversar com João Paulo, que resiste à
idéia.
Tenho convicção que os deputados farão de
tudo para aprovar a PEC paralela apostou o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
A PEC paralela terá de passar por mais quatro votações
na Câmara. A primeira na Comissão de Constituição
e Justiça, que analisará sua admissibilidade. A segunda,
na comissão especial, que apreciará o mérito. Haverá
ainda duas votações em plenário. A preocupação
dos senadores, que consideram o texto um avanço em relação
à reforma da Previdência, é que, sem a convocação
em janeiro, a proposta só comece a ser apreciada em fevereiro,
podendo ser atropelada por outros temas.
O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, se reuniu ontem com
a bancada do PT no Senado e reafirmou seu apoio à PEC paralela,
mas não assumiu compromisso em relação à convocação
da Câmara. João Paulo tem afirmado que se empenhará
para garantir o quórum das sessões da Câmara em janeiro,
desde que a iniciativa da convocação parta do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.

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