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segunda-feira, 08 de setembro de
2003
TRIBUNA
DA IMPRENSA
Planalto tentará barrar mudanças
no texto da Previdência no Senado
Apesar da disposição dos senadores em mudar
a reforma da Previdência, o governo tentará aprovar o texto
sem alterações em relação ao que foi aprovado
na Câmara dos Deputados em dois turnos. Será uma briga dura,
inclusive com senadores do próprio PT. Paulo Paim (RS), por exemplo,
já disse que apresentará pelo menos nove emendas revendo
pontos do que foi aprovado na Câmara, como a taxação
dos inativos, entre outros.
Em relação à reforma tributária,
o governo reconhece que haverá mudanças. "Defendi que
a reforma da Previdência seja aprovada do jeito que está.
Já negociamos vários itens na Câmara", disse
o presidente nacional do PT, José Genoino. Com a reforma tributária,
é diferente.
"O Senado é a Casa dos estados. Tem vários
ex e futuros governadores lá. É natural que queiram ter
uma participação mais ativa na reforma tributária.".
A atuação do Senado nas reformas é fundamental para
a rápida promulgação. Se os senadores fizerem alterações,
a proposta de emenda constitucional (PEC) volta para tramitar novamente
na Câmara. Se não houver modificações, isso
não será necessário.
Para o presidente do PT, a votação dos destaques
da reforma tributária na Câmara, que deve ocorrer esta semana,
será mais fácil do que foi a do texto-base em primeiro turno,
na semana passada, quando a emenda passou por 378 votos a favor e 53 contra,
com folga de 70 votos acima do mínimo necessário para a
aprovação. "As principais questões da tributária
já foram tratadas, não estão nos destaques",
considera. Também não está preocupado com o segundo
turno. "O segundo turno é relativo. As discussões se
dão todas no primeiro", avalia.
Oposição
"Quem governa não pode clivar `oposição' e `situação'
- tem de agregar", disse o presidente do PT, referindo-se à
disposição para conversar com todos. Ele defendeu o estabelecimento
de um acordo institucional em torno de uma agenda suprapartidária
que incluísse a manutenção da austeridade fiscal,
a defesa dos interesses brasileiros nas negociações internacionais
e um pacto federativo nacional.
Nesse pacto, entrariam pontos da reforma tributária
de interesse comum da União, estados e municípios e o que
Genoino chama de a relação positiva (do governo federal)
com estados e prefeituras. "Não discriminamos ninguém,
nenhum governador ou prefeito, pelo partido."
Genoino, que esteve sábado à noite na festa
de filiação da prefeita de Magé (RJ), Narriman Zito,
ao PT, disse que agora o partido tem 191 prefeituras no País. "Vamos
trabalhar para garantir a reeleição (em 2004) nessas 191
prefeituras e ampliar nas capitais e cidades que tiverem segundo turno",
afirmou. O partido, ressaltou, dará apoio na campanha eleitoral
em todos esses municípios, inclusive com a presença das
lideranças nacionais do PT.
No Estado do Rio, o PT vai priorizar a capital na campanha
das eleições municipais, onde haverá uma eleição
prévia entre os deputados federais Jorge Bittar, secretário-geral
do PT nacional, e Chico Alencar, um dos oito que optaram por se abster
na votação da reforma previdenciária, para decidir
o candidato a petista prefeito.
"Esperamos que a prévia fortaleça o debate
e o partido", afirmou Genoino. No Rio de Janeiro, além de
Magé, o PT tem também as prefeituras de Niterói,
Paracambi e Rezende.
Aliados e oposição
discutem ajustes na reforma tributária
BRASÍLIA - Governo, aliados e oposição
reiniciam hoje a negociação de novas mudanças no
texto da reforma tributária, aprovado com folga na madrugada de
quinta-feira. No caminho do entendimento, o líder do governo na
Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), encontra-se com o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que reivindica a manutenção
da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS) no modelo atual, repartido entre origem e destino.
O relator da reforma, Virgílio Guimarães (PT-MG), adiou
para amanhã o retorno a Brasília, para se encontrar com
o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB).
"Entramos agora numa outra fase. O importante foi aprovar
o texto-base. Agora, temos muitos ajustes a fazer, porque é preciso
corrigir partes do texto, visto que as negociações foram
intensas, mas muitos partidos reclamam que muita coisa não ficou
clara", afirma Guimarães. Isso tudo, diz ele, é resultado
de um acordo que foi costurado pouco a pouco, altas horas da madrugada.
O relator enumera pontos obscuros do texto e que ainda podem
ser negociados: melhor definição para a transição
da cobrança do imposto na origem e no destino, se o Estado do Rio
deve entrar na área beneficiada pelo Fundo de Desenvolvimento Regional
e resolver dúvidas quanto à compensação aos
estados pela exportação de bens de capital.
"É preciso fazer uma aglutinação
do texto final, para que tudo fique muito claro", afirma o relator.
Ao mesmo tempo, ele quer que seus companheiros o ajudem a identificar
problemas na redação da reforma que podem abrir brechas
para a bitributação.
"Não queremos isso."
Mudanças
O vice-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP),
defende pequenas modificações na reforma, mas acha que a
votação de todas as emendas e destaques deve ocorrer ainda
nesta semana para não atrasar a tramitação do projeto.
Sua maior preocupação não é com a prorrogação
da cobrança da Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira (CPMF).
Ele está preocupado com a aprovação,
ainda neste ano, na Câmara e no Senado, da Desvinculação
de Receitas da União (DRU) - que permite ao governo usar livremente
20% da arrecadação, até mesmo a vinculada à
seguridade social ou investimentos em infra-estrutura até 2007.
Como aconteceu há dois anos, a prorrogação da CPMF
é automática, sem a necessidade de três meses de prazo
para que recomece a cobrança.
Porta-voz informal do governador Geraldo Alckmin (PSDB),
o deputado Walter Feldman (PSDB-SP) está confiante no atendimento
de algumas reivindicações de São Paulo. "Precisamos
definir como será a compensação aos estados exportadores.
São acertos no texto que não comprometem a votação",
diz.
Guimarães acha que falta também incluir na
reforma a compensação para os estados que exportam bens
de capital. Na busca de acordos como esse, sobretudo com o PSDB, o deputado
Paulo Bernardo (PR), vice-líder do PT, indica a possibilidade de
incluir na reforma tributária a ampliação do Simples,
o imposto pago pelas micro e pequenas empresas.
"Essa é uma proposta dos tucanos. Já
conversamos com o ministro Antônio Palocci (Fazenda), que a vê
com simpatia. Provavelmente, não a aceitaremos com o teor completo
pedido pelo PSDB, mas com muitos pontos propostos, o que facilitará
a votação na Câmara."

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