Institucional
       
     
 

O Globo 26/08/2009

 

Crise
Demissão coletiva de dirigentes da Receita é criticada por ex-secretário e presidente de sindicato
Geralda Doca e Cristiane Jungblut

O ex-secretário Everardo Maciel criticou a demissão coletiva dos funcionários da Receita - Ailton de Freitas/Arquivo

BRASÍLIA - O ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel e o presidente dos Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita (Unafisco), Pedro Delarue, classificaram de jogada política o pedido de demissão conjunta dos funcionários da Receita Federal . Na segunda-feira, 12 pessoas, entre superintendentes e coordenadores apadrinhados pela ex-secretária Lina Vieira, entregaram seus cargos, alegando ingerência política no órgão. Numa carta enviada a Otacílio Cartaxo, que substituiu Lina, eles citaram ainda ter compromissos com princípios de ética, moralidade e impessoalidade.

- Foi uma jogada política, uma tentativa de colocar o governo na parede, buscando permanecer nos cargos - disse Delarue, acrescentando que o grupo, a maioria sindicalista, vinha trabalhando internamente, ameaçando com demissão em massa.

" Essas pessoas saíram por opção porque, ao contrário do que afirmam, são ligadas a um projeto político "

- Uma contradição. Essas pessoas saíram por opção porque, ao contrário do que afirmam, são ligadas a um projeto político. Foram içados aos cargos por ingerência política - destacou Everardo.

Superintendentes anteriores foram afastados por Lina

Ele lembrou que oito superintendentes da gestão anterior, de Jorge Rachid, foram "grosseiramente afastados" quando Lina Vieira assumiu o comando da Receita. Para Delarue, as demissões apressaram uma decisão já tomada pela Fazenda de remontar a estrutura anterior, substituindo indicações políticas por técnicas. Ele afirmou que a escolha dos substitutos, alguns anunciados nesta terça-feira , é um processo demorado e que os nomes precisam passar por vários crivos dentro do órgão.

- Não é de uma hora para a outra que se escolhe os nomes - disse ele.

Segundo Everardo, Cartaxo tem um desafio enorme pela frente, que é implantar um novo modelo de funcionamento da Receita, já que o anterior foi totalmente desmontado. A crise que se abateu sobre o órgão, disse, é uma demonstração de que a Receita, por mais que esteja azeitada, é uma máquina que não funciona sozinha:

- A Receita foi politizada.

Cartaxo teria ligado para Everardo

Fontes afirmam que Cartaxo ligou para Everardo, com quem já trabalhou, quando soube que seria efetivado no cargo. Teria sido alertado sobre o problema com a fiscalização, sobre a necessidade de continuar investindo em tecnologia e ser prudente. E teria sido aconselhado a manter um relacionamento mais aberto com a imprensa. Nesta terça, ele anunciou a sua nova equipe em rápido pronunciamento. Delarue contou que ligou para Cartaxo, pedindo ele se manifestasse publicamente para tranquilizar o corpo funcional.

DEM, PSDB e PPS divulgaram nesta terça nota em solidariedade aos servidores que deixaram seus cargos. Na nota, dizem que os motivos que levaram à demissão configuram "uma séria ameaça aos princípios de impessoalidade, ética, autonomia e transparência dessa importante instituição do Estado".

Os partidos dizem que "a oposição compartilha do sentimento dos servidores demissionários de que a Receita vive hoje em condições claramente alimentadas por um sentimento não republicano de represália e acerto de contas. É grave!"