Institucional
       
     
 

O Globo 26/08/2009

‘Demissões? Que demissões?'
Um dia após rebelião na Receita, Mantega minimiza crise, e secretário tenta contornar desgaste
Geralda Doca e Chico de Gois

BRASÍLIA

Um dia depois do pedido de exoneração de 12 dirigen­tes da Receita Federal, em protesto contra a demissão da ex-secretária Lina Vieira, o minis­tro da Fazenda, Guido Mantega, mi­nimizou a rebelião no Fisco. Ao ser perguntado sobre o protesto, que envolveu cinco superintendentes regionais e um subsecretário da Re­ceita, Mantega foi irônico:

- Demissões? Que demissões?

Indagado em seguida se há inge­rência política no órgão, Mantega deu uma resposta lacônica:

- Nada.

Em São Paulo, a saida do superin­tendente Luiz Sérgio Soares levou ou­tros funcionários com cargos de che­fia a também pedir demissão, aumen­tando a crise. Um dos que se exone­rou foi o superintendente adjunto Ro­berto Alvarez, que assumiria no lugar de Soares. Na tentativa de contornar o desgaste e mostrar que fará uma nova administração na Receita, ontem mes­mo o secretário Otacílio Cartaxo anunciou a substituição de três supe­rintendentes indicados por Lina. Man­teve, porém, outros nomeados por ela, inclusive um superintendente que tinha assinado a carta do pedido con­junto de demissão: Luís Gonzaga Nó­brega, da 3ª Região Fiscal, que abran­ge Ceará, Piauí e Maranhão. Permane­ce vago o cargo de superintendente da 4ª Região (Pernambuco, Rio Gran­de do Norte, Paraíba e Alagoas).

- Todas as substituições têm cará­ter técnico. Sempre que há mudança na cúpula, o novo secretário tem au­tonomia para fazer os ajustes que en­tender necessários. Portanto, a Recei­ta Federal tem em torno de si uma re­de de proteção contra qualquer inter­ferência política ou indesejada - dis­se o secretário, acrescentando:

- Considero um erro se politizar uma questão rotineira, a substitui­ção de cargos de confiança.

Cartaxo disse que não haverá mu­dança no foco da Receita na fiscaliza­ção de grandes contribuintes, e que esse segmento terá um acompanha­mento ainda maior. Disse que seus ob­jetivos são melhorar o atendimento ao público e manter o cronograma de entrega das declarações de IR

Foram nomeados Hermano Lemos, superintendente em Minas; José Gui­lherme de Vasconcelos, para São Pau­lo; e Paulo Renato da Silva Paz, para o Rio Grande do Sul. Entre os subsecre­tários, foi confirmado Sandro Serpa,

que exercia interinamente o cargo na área de Tributação e Contencioso, e in­dicado Leonardo Peixoto, para a Sub­secretaria de Gestão Corporativa. Per­maneceram os subsecretários Michia­ki Hashimura (Arrecadação e Atendi­mento) e Fausto Coutinho (Aduana e Relações Internacionais). Mas conti­nua vaga a Subsecretaria de Fiscaliza­ção, uma das mais críticas do órgão.

Cartaxo assegurou que, apesar das demissões, as unidades do Fisco es­tão funcionando normalmente. Se­gundo fontes, o secretário já estava trabalhando para substituir alguns apadrinhados de Lina: os que pode­riam minar sua administração.

Quando foi demitida, Lina queria que Cartaxo também pusesse o cargo à disposição, o que não ocorreu. As­sim que foi confirmado no cargo, ele passou a ser bombardeado por funcionários ligados ao ex-secretário Jorge Rachid e por pessoas do grupo de Lina, que o acusavam de traição.